Diante dos meus Olhos

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(Jimin)

Sinto minhas mãos tremerem como se eu fosse me debater por inteiro a qualquer momento. Meu peito está como se pesasse toneladas, esmagando meu coração que bate forte contra o tecido interno do meu corpo. Assim como minhas mãos, batuco uma das pernas com muita rapidez contra o piso sujo de uma das salas na delegacia, sentindo minha coxa latejar pelo cansaço do movimento bruto.

Pude sentir tudo em mim despencando, enquanto encaro o maço de cigarro na mesa. A vinheta novamente se volta em meus olhos, e meus ouvidos se fecham criando uma luta contra meus pensamentos e a vontade de fumar aquela caixa inteira.

Passo minhas unhas curtas no antebraço, sentindo minha pele queimar com a ansiedade de colocar aquele veneno na minha boca, achando que resolveria os meus problemas.

É como se minha cabeça não soubesse o que pensar com a notícia que recebi há algumas horas. Nada foi expresso por mim, sem palavras e sem uma lágrima. É como se eu desligasse a humanidade e sentisse apenas a confusão de tentar processar alguma coisa.

Notei algumas vezes pessoas falando comigo, mas eu não consegui responder a nenhuma delas, em todo o tempo que estive apenas vegetando nessa cadeira giratória de um escritório que eu nem sei quem é o dono.

Não resisti a angústia, e peguei com brutalidade a caixa lacrada na mesa. Minhas mãos continuam tremendo, dificultando as unhas que futucam o lacre da embalagem. Quando finalmente o plástico é arrancado, meus dedos tentam retirar apenas um daqueles venenos falhando miseravelmente, os deixando cair e se empoeirarem próximo aos meus pés.

—Jimin... — Escuto alguém familiar me chamar, e colocar as mãos em meus joelhos. —Você precisa sentir, precisa deixar sua ficha cair. O seu irmão se foi, Sherlock. Estamos todos aqui pra acolher o seu choro, olha pra gente. — Esse alguém dizia.

Quando ergui o meu olhar embaçado, pude enxergar ao longe o meu sobrinho. Ele está usando macacão amarelo e pantufas de dinossauro. Seu cabelo cai sobre seus pequenos olhos, e um sorriso fraco surge em seus lábios. Aquela imagem foi o suficiente para me demolir inteiramente por dentro, sentindo a primeira lágrima escorrer como sangue em minha bochecha.

Minha cabeça começou a doer, fazendo todos os pensamentos despencarem como cachoeira tanto por dentro, quanto por fora.

Arrependimento é o maior deles.

O meu irmão morreu e eu nem o conhecia. Eu fiz essa escolha. Eu escolhi não me aproximar, eu escolhi distanciar a única família que ainda me restava, e que não queria me ferir. Não sabia sua cor favorita, sua comida favorita, a música que o fazia dançar sem ao menos notar, o livro que fez seus olhos lacrimejarem, ou o filme que fez seu corpo arrepiar.

Eu não participei nem ao menos do nascimento e aprendizagem do meu próprio sobrinho. Eu deixei uma mágoa do passado acabar com uma relação que poderia se tornar uma das minhas favoritas.

E é tudo culpa minha.

—Mimi... — Sinto as pequenas mãozinhas do Yayo se apoiarem em minha coxa. —Não fica assim, nós vamos melhorar juntinhos. — Sinto seu acariciar fraco e acolhedor, dentre um sorriso meigo que escondia a dor de seu coração, que os seus olhos marejados entregavam.

Eu não conseguia olhar para ele nem mais um segundo sem sentir o soluçar pulsar em minha garganta, me fazendo tampar o rosto com as mãos e deixar que tudo aquilo saísse de mim.

Ele é mais forte que eu, isso sem dúvidas. Uma criança que me conhece há pouco tempo, prefere esconder o que sente para me confortar. Eu definitivamente não mereço alguém tão precioso.

Minha cabeça martela o fato de que eu poderia ter ajudado o meu irmão. Poderia ter feito algo, poderia ser próximo o suficiente para que ele me contasse o que estava acontecendo, e resolveríamos juntos.

Quem Matou Min-Ji? - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora