Flor Amarela

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(Jungkook)

A neve despenca do céu e adentra em nossos fios escuros. Confesso ser a minha época do ano favorita, tirando as nevascas que enchem o quintal de gelo pesado e difícil de tirar.

Coloco a língua para fora da boca, sentindo alguns pequenos flocos gelarem a superfície aquecida do meu interior.

—Coloca isso pra dentro, pirralho! — Escuto meu irmão mais velho dizer, bagunçando meus fios finos de cabelo.

Ele gargalha de forma sonoramente boa de escutar, me fazendo sorrir forte mais uma vez. Meu irmão é meu melhor amigo, sempre está comigo e nunca deixa de me fazer gargalhar. Ele diz que não rir faz nós nos tornarmos um velho feio e rabugento, viciado em molhar a calçada e as plantas.

—Maninho, olha! Mesmo com o frio, nasceu uma flor na nossa casa da árvore. — Aponto para o topo da casinha, feita em uma literal árvore, coberta por neve e com a madeira congelada.

—É linda! — Ele sorri.

—Eu vou pegar pra você! — Digo correndo até a escada gélida que leva até a base da casa.

—Goo, não! Papai disse que no inverno a madeira fica sensível, é perigoso! — O escuto gritar ao longe. Minha teimosia é maior, me fazendo escalar degrau por degrau sem tirar os olhos daquela flor roxa chamativa.

—Eu vou conseguir! — Gritei de volta, já no último degrau do topo.

Caminho calmamente pela madeira rangendo, com um dos braços esticados na direção daquela flor. E o óbvio aconteceu. A madeira rachou levemente, prendendo meu pé dentre as farpas e o gelo seco que congelava meu tornozelo.

Eu gritava pelo seu nome. E infelizmente ele resolveu me salvar. Meu irmão correu e escalou a árvore sem pensar duas vezes, mas seu peso piorou a força da estrutura frágil, fazendo toda a maldita madeira despencar de uma só vez.

Meu grito soou alto, sentindo minha garganta rasgar em uma coceira agonizante. Eu senti meu irmão agarrar o meu corpo com força, me protegendo em seus braços como um super herói, não permitindo que meu corpo atingisse o chão, ao contrário do seu.

Eu ainda sentia seu abraço. Ainda sentia estar seguro, e sorria achando que estávamos ambos salvos após eu não sentir nada da queda. Quando eu me virei, pude ver a madeira penetrada na lateral do seu abdômen, fazendo as lágrimas escorrerem de seus olhos assim como o sangue do seu corpo.

Seus lábios estavam pálidos, e seus olhos arregalados. A neve branquinha ao seu redor se tornava vermelha, com o escorrer de sangue do seu corpo imóvel.

—Maninho! — Eu gritei ao ver a madeira pingar o seu sangue, pela forma que o atravessou.

Meu choro soou alto, como um grito de desespero por não saber o que fazer. Eu era apenas uma criança. Eu precisava que ele me dissesse estar bem, mas nem isso eu escutava sair de seus lábios, pois o sangue o impedia.

—NÃO, NÃO! — Me aproximo de seu peito, recostando minha cabeça ao tentar escutar seu coração, já fraco à essa altura.

Eu sabia que o perderia. Eu sentia isso no mesmo instante que escutei seu suspiro profundo. Nunca havia sentido uma dor tão grande. Vê-lo perdendo a própria vida por minha teimosia, é como se alguém arrancasse cada vaso sanguíneo do meu corpo, um por um, deixando um buraco ali dentro.

Eu sentia medo. Não queria conhecer um mundo em que meu irmão não estivesse, pois ele era a metade do coração que ainda batia dentro do meu peito. E se ele fosse embora, nada restaria além de uma metade solitária.

Quem Matou Min-Ji? - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora