Anjos

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(Jimin)

Sinto o cheiro do café adentrar minhas narinas com tanta satisfação, que me faz suspirar bem fundo aproveitando o aroma.

Sem dúvidas uma cafeteria com pouco movimento, em dias chuvosos, me satisfaz como um momento solitário de terapia. Consigo respirar com calma, ganhando alguns aromas adocicados de brinde, podendo pensar melhor no caso que permaneço organizando as pistas que temos em meu caderno de anotações.

O vidro reflete meu sorriso bobo. Não conseguia parar de admirar e suspirar pelo som calmo da chuva lá fora, junto as gotículas que escorrem pelo meu reflexo ao lado.

Duas gotas traçam o caminho exato dos meus olhos até as bochechas, fazendo meu eu refletido chorar. O enxergo exatamente como quem morreu dentro de mim no momento em que decidi fugir das correntes que me aprisionavam, sentindo pena da dor clara que o atinge ao se sentir abandonado nos esquecimentos pelo meu coração mais forte, pelo novo Jimin que agora me habita.

O motivo dessas lágrimas não se tornarem mais reais e não passarem de um reflexo, está bem na minha frente, futucando os botões da câmera que envolve seu pescoço, de forma concentrada.

Me pego admirando seus breves movimentos sutis de forma boba, exatamente como os casais que já me peguei revirando os olhos ao achar uma idiotice, ao admirar por tanto tempo alguém dessa forma.

Agora eu entendo completamente. Você começa a perceber o tanto que gosta de cada mínimo detalhe da pessoa, sentindo o coração saltitar alegremente,  como se as energias fossem recarregadas com a imagem de quem gosta em suas pupilas dilatadas.

Eu o admiraria o dia inteiro, e fui completamente estúpido em pensar ser uma idiotice.

Jun e eu, após prendermos mais um envolvido em toda propina que está sendo esse caso, decidimos parar e colocar todas as pistas que temos na mesa, tentando analisar pontos que não vimos ou deixamos passar. Nada melhor que um ambiente chuvoso e restaurador pelas bebidas e aperitivos.

—Licença, aqui está sua panqueca.  — Meu sorriso se fecha assim que o garçom se aproxima de forma exagerada para colocar o prato, extravasado de melado, perto dos meus braços postos à mesa.

—Desculpa, senhor, acho que se esqueceu do meu chocolate quente. — Jungkook sorria simpático, tentando chamar atenção do cara enojado, que não tirava os olhos da corrente prata em meu pescoço exposto.

Eu notei a ignorância desse importuno assim que chegamos aqui. Gravei a forma que ele ignorava totalmente os pedidos do Jun, dando total atenção para os meus. Não deixei de observar que não parava de me olhar atrás do balcão, ao invés de fazer a porra do chocolate quente.

Ele está definitivamente me estressando.

—Ele está falando com você! — Eu tento me controlar na ignorância, mas claramente a forma cabisbaixa que o Jungkook está agora por culpa dele, me faz pensar em crimes perpétuos.

Seu sorriso antes era forte junto aos brilhos nos olhos, mas algo o perturba, não é o fato de apenas um ser humano desprovido de simpatia estar o tratando assim, isso vai além. Suponho mexer com algum dos seus traumas ou problemáticas da infância.

Eu reconheço perfeitamente o olhar de quando um trauma volta transmitido nas íris, nos obrigando a lembrar de algo que definitivamente machucou e ainda dói. Você se sente pequeno, indefeso ou algo semelhante, que o faz querer sair correndo ou se esconder dos olhares curiosos.

—O que disse? — O garçom vira finalmente para o meu parceiro, descansando uma das mãos na cintura de forma preguiçosa ao ouvi-lo.

—O chocolate quente, por favor. — Sua voz soa tão suave, que me faz virar o rosto assim que notei seu olhar lacrimejar, ao direcionar seus olhos até o cara impaciente em sua frente.

Quem Matou Min-Ji? - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora