𝐑𝐞𝐟𝐮𝐠𝐢𝐨𝐬 𝐧𝐨𝐭𝐮𝐫𝐧𝐨𝐬.

2.4K 356 133
                                    


  Os mumurros e gritos de espanto são algumas das características que compõem aquela atmosfera tão sombria dentro da sala de cinema, era compreensível, pois naquele tempo o filme 𝗢 𝗲𝘅𝗼𝗿𝗰𝗶𝘀𝘁𝗮 já ocasionou diversas outras experiências nem tão tranquilas como aquela.

- Ei. - Chamando a atenção de Angélica, Vance a olha de relance, para ver se morena em algum momento do filme se assustou.

  Para a infelicidade de vosso amado loiro, a garota estava entretida com o filme, degustando da pipoca que o rapaz fez questão de comprar, tendo seus magros dedos recolhendo uma por uma e as colocando direto em sua boca. 

- Hm? - Com a boca estando ocupada por aquela saborosa pipoca, Angélica apenas o encara, com uma feição confusa.

  Ele segura sua risada, gostava de a ver comer bem, pois desde daquele momento no qual ela entrou em uma crise de choro por conta de seu peso Vance ficou extremamente preocupado. Angélica era uma garota padrão, possuía um peso padrão, mas por que ela se importava em perder mais peso? Era uma pergunta que martelava dentro da cabeça do loiro.

- Está se divertindo?... - Levando de sua destra até a face da garota, ele limpa um cantinho em sua bochecha que estava suja com alguns farelos da pipoca.

- Hm! - Engolindo toda a pipoca de uma vez, ela se prepara para o responder. - Sim, eu estou amando...

  Retornando sua atenção á imensa tela por onde vê a projeção daquele magnífico filme, Angélica se vê estando em um memorável momento de sua vida.

- Eu raramente ía ao cinema. - Fitou o chão, tendo uma breve vista de seus pés balançando de maneira suave, como se fosse uma criança ansiosa. - As vezes, quando meu pai ficava de folga ele sempre me levava para ver oque eu quisesse e...

  Vance ainda não estava familiarizado com o fato de Richard o odiar, mesmo com um motivo plausível, que era da reputação suja do garoto, então a última coisa que queria era ouvir falar do homem que já havia ameaçado ele e a garota que gostava, no caso, a filha daquele policial.

- Desculpa... - Percebendo que o rapaz não estava gostando de ouvir sobre Richard, ela cessou o assunto.

- Ah, dane-se, é seu pai, né? - Resmugando enquanto se aconchega sobre seu assento, Vance tenta não parecer grosso, mesmo sendo algo inevitável.

  Eles não trocam olhares durante o decorrer do filme. Angélica sentiu que de alguma forma havia deixado o loiro bem desconfortável por apenas citar algo de seu passado. Com o filme já chegando ao fim, todos ali já estavam se dirigindo até á saída da sala de cinema, porém Angélica e Vance ainda ficam ali, sentados e em extremo silêncio.

- Vamos? - Com o desconforto estando presente em seu tom de voz, Angélica tenta fazer com que Vance se levante do assento, pegando cuidadosamente em sua mão.

- Vamos. - Ele respira fundo, levantando-se, e apenas pegando na mão de Angélica, entrelaçando seus dedos com os dela, como sempre costuma fazer.

  Eles são os últimos a sairem, Angélica não retira seus olhos de Vance, torcendo para que o loiro não estivesse bravo ou algo do gênero, porém ele não estava bravo, apenas pensativo, mergulhando bem em seus pensamentos. Em meio ao trajeto, ela tenta papear um pouco com o loiro, ele cede e ambos ficam falando sobre a vida, enquanto Angélica conta um pouco sobre sua infância.

- Quando eu era pequena, eu era a garota mais excluída da escola. - Em um tom inocente ela cita um pouco de seus primeiros anos colegiais. - Eu não brincava com ninguém, não conversava com ninguém...

- Você odiava todo mundo? - Ele indaga enquanto tenta conter seu riso.

- Não, eu apenas sentia que aquelas não eram companhias boas. - Desfazendo seu sorriso, ela ainda se recorda de algumas ocasiões. - Eu não ía para festas, fazia parte de apenas um clube na escola.

- Clube? Isso ainda existe? - Vance definitivamente era o tipo de pessoa que não faria parte de nenhum tipo de clube, nem mesmo se tentassem o ameaçar.

- Uhum. - Agora já ficando animada, Angélica faz questão de falar sobre suas habilidades secretas para Vance. - O meu favorito era o de teatro, eu amava o jeito com qual as atrizes se expressavam!

- Bom, é, teatro é bem sua cara mesmo.

- E também tinha o clube de arqueiros! Eu amava usar o arco e a flecha, porém teve uma vez que eu quase acertei a cabeça de um dos garotos da minha sala e...

  Vance permaneceu em silêncio, apenas rindo, um riso discreto, ele gostava de a ver falando das coisas que gostava. Ela até poderia repetir inúmeras coisas, poderia errar quantas palavras quisesse e até mentir, mas não iria ofuscar o fato de que ele ama ouvir ela tagarelar, a voz de Angélica era como uma música, e aquela música era a favorito de Vance.

- Hm? Angélica? - Ele reparou que a garota havia parado de andar, ficando em frente a um dos casarões de seu bairro.

  O casarão não possuía ninguém, é notáveis, pois ali sobre a grama possui uma placa, indicando que aquela casa estava estava sendo vendida.

- Olha que casa bonita... - Diz Angélica, ainda hipnotizada pela beleza daquela residência.

- Você acha? - Vance resmunga, ao lado da garota.

- Sim, olha lá!

  Ele então fica visando aquele casarão, analisando cada detalhe daquele lote, tentando decifrar oque sua namorada vê de tão incrível em uma casa abandonada e quase caindo aos pedaços.

- Sabe oque mais parte o meu coração?... - Mumurrando, com aquela feição tão entristecida enquanto encara o casarão, ela aguarda uma resposta vinda do loiro.

- Depende, a tinta das paredes descascando ou as tábuas soltas da varanda?

  Angélica revira seus olhos, e desfere um soco sobre o ombro do loiro, o fazendo rir baixo da reação da garota.

- Ei, desculpa, ok?... Mas vai, fala ai... O que parte seu coração?

- É saber que a pessoa que vai comprar essa casa não vai amar ela assim como eu amo...

  Agora tendo noção do que Angélica disse, Vance volta a encarar a garota, ainda curioso do motivo pelo qual ela ficou tão fascinada por aquele casarão. Porém ele se mantém calado, e apenas fica observando junto a sua namorada aquele tão misterioso, porém belissimo casarão.

- Ei, vamos, já está quase no seu horário. - Agora retornando á realidade, Vance pega mais uma vez na mão de Angélica, a acompanhando até em casa.

  Eles se despedem de uma maneira calorosa, como se fosse um refúgio em meio á escuridão daquela imensa noite, um abraço gentil e um selar de lábios inocente, era algo que ambos faziam sempre que se despediam, Vance então vê Angélica subindo pelo rosário, indo até seu quarto, a vendo da sacada, ele acena para ela, e ela apenas corresponde com um aceno suave de sua destra. E assim que Angélica sumiu da sacada, estando se preparando para dormir, Vance prossegue com seu caminho, enquanto pensa naquele gigantesco casarão, o casarão no qual Angélica ficou encantada.

𝐆𝐀𝐑𝐎𝐓𝐎𝐒 𝐄𝐌 𝐕𝐄𝐙 𝐃𝐄 𝐅𝐋𝐎𝐑𝐄𝐒 - 𝐕𝐀𝐍𝐂𝐄 𝐇𝐎𝐏𝐏𝐄𝐑.Onde histórias criam vida. Descubra agora