Coletânea Nico di Angelo

Conforto

Nico di Angelo estava sentindo falta do irritante e falante Will Solace. O garoto estava fora há dois dias, ele precisou visitar Naomi. A mãe de Will estava muito doente e ele como médico se sentia culpado por não poder fazer nada por ela. Nem a sua magia podia curá-la, somente Apolo.

– Sr. Solace, sua mãe está num estágio avançado da doença. Eu sinto muito, você é bastante jovem. Queria poder lhe dar esperança, mas você como futuro médico deve saber que não podemos dar falsas expectativas a família dos pacientes. – Disse o médico responsável por Naomi.

– Eu conheço o quadro clínico dela e o histórico da família, minha mãe sabia que cedo ou tarde passaria por isso. – Respondeu Will. – Obrigado, Doutor.

O garoto voltou para o quarto ontem sua mãe estava e sorriu minimamente ao ouvi-la cantando. Ele sentou na poltrona ao lado e segurou na mão dela, a mulher sorriu de volta, mas não parou de cantar. Will ouviu atentamente, como se aquela fosse a última vez que ouviria a voz da sua mãe. Lágrimas caíam sem parar de seus olhos, ele se sentia frágil e sozinho, como nunca se sentia antes em toda a sua vida. A sensação de perda e abandono o abraçou friamente e ele chorou inconsolável até que Naomi estendeu os braços para ele.

– Meu sol, não fique assim... eu te amo tanto, não quero que esteja aqui quando eu partir.

– Mãe...

– Você não está sozinho. Você tem a seu pai, seus irmãos e agora Nico. Obrigada por ter sido o melhor filho que eu poderia ter, você me enche de orgulho. – ela disse ao secar as lágrimas no rosto de Will.

– Ele também me orgulha muito. – A voz de Apolo surgiu do outro lado do quarto e Will correu até ele desesperado.

– Pai, você pode curá-la! Por favor! Apolo, eu imploro.

Apolo o abraçou, consolando.

– Will, eu não posso interferir na vida dos humanos. No ciclo natural. Eu vim para cuidar dela e ficar ao lado dela, filho. Não se preocupe, Naomi naõ ficará sozinha.

Apolo se aproximou da cama e beijou a testa da sua tão conhecida Naomi. A mulher corou e ao mesmo tempo se sentiu em paz.

– Meu doce Apolo.

– Minha linda Naomi.

Will estava bobo observando os dois, nunca pensou que os veriam juntos, mas ficou feliz por Apolo não abandoná-la.

– Obrigado, pai.

– Mãe...

– Shiiii, você não vai mais chorar. Apolo vai cuidar de mim agora e você vai voltar ao acampamento meio-sangue e ficar com seus irmãos. Pegue isso – ela estendeu a mão e ele segurou o pequeno objeto –, sempre estarei com você, filho. Você é o meu pequeno sol, Will, eu te amo.

Will pôs o anel no dedo e abraçou a mãe novamente, despediu-se em lágrimas e deixou que Apolo o enviasse de volta ao acampamento.

Nico estava encarando os campos de morango enquanto vi os últimos raios solares no céu. Uma cabeleira loura surgiu na paisagem, seu coração imediatamente saltou no peito e ele ficou eufórico. Era Will Solace descendo a colina em direção ao Acampamento. Ele observou atentamente o filho de Apolo caminhar, mas algo parecia errado. Will não estava sorrindo, como de costume. Will estava cabisbaixo e parecia chorar. Quando Nico se deu conta do que estava fazendo seus passos já o levavam a Will. O garoto tentou sorrir ao vê-lo, mas não conseguiu, mais lágrimas caíam e ele começou a correr na direção de Nico.

O filho de Hades sentiu o coração apertar e a áurea de morte que rodeava Will, ele abriu os braços automaticamente e Will se jogou neles. Nico nunca pensou que alguém encontraria conforto em seus braços.

Will chorava sem parar. Nico o levou até onde estava sentado e o fez sentar na grama, onde o filho de Apolo sempre comia morangos.

– Ei, o que aconteceu? Alguém machucou você? – Nico ajudou a secar as lágrimas de Will e ficou triste ao notar tanta dor em seus lindos olhos azuis celestes.

– Minha mãe... ela se foi... Apolo ficou com e me mandou de volta para o acampamento... Minha mãe morreu, Nico.

Em segundos Nico relembrou toda a dor da perda da sua mãe e abraçou Will com força. Queria confortá-lo, queria que ele soubesse que não estava sozinho. Queria poder tirar aquela dor porque sabia exatamente como ela era destruidora e permanente.

– Sinto muito, sei exatamente o que você está sentindo, mas eu estou aqui. Estou aqui por você, Will.

Will sentiu seu coração derreter de amor e se deixou ser abraçado e cuidado por Nico di Angelo. Ele contou o caso da sua família e o histórico da família, explicou como foi conviver com a doença e como Naomi foi forte. Nico ouviu atentamente e não o soltou até que ele parecesse mais calmo.

O céu ficou cheio de estrelas e a corneta do jantar soou e eles nem se deram conta de que havia passado tanto tempo.

– Temos que ir. – Disse o filho de Apolo.

– Janta comigo hoje? Eu sei que é uma péssima noite, mas não quero que fique sozinho.

– Você deixou a noite melhor. Eu estou mais calmo, estou me sentindo seguro. Eu também não quero ficar sozinho, Nico. Não quero me sentir sozinho.

– Estou aqui com você. – Nico disse tocando uma mão de Will.

– Obrigado.

Will beijou a bochecha de Nico em agradecimento. O movimento foi tão rápido que Nico não reagiu, apenas corou ao perceber o que tinha acontecido. Os dois caminharam lado a lado até a aglomeração estranha de prédios.

– Te pego em trinta minutos. – Disse Will. – Vou conversar com meus irmãos rapidinho e tomar um banho.

– Fico te esperando.

Will encarou o rostinho corado de Nico e agradeceu silenciosamente a Apolo por enviá-lo no momento certo. Antes que Will virasse em direção ao chalé Nico segurou sua mão surpreendendo o filho de Apolo.

– Antes de ir eu só queria dizer que senti sua falta. Senti sua falta durante esses dois dias. – Despejou as palavras sem jeito, sorriu de um jeito "Di Angelo" e saiu deixando Will com um sorriso bobo no rosto.