O professor Tobias estava sozinho no convés. Com ele, pude observar somente o Cinturão de Órion e talvez a Cruzeiro do Sul – sim, se tem uma coisa que não sou bom é em identificar constelações – também se ajuntava a lua crescente que vez ou outra, escondia-se detrás das nuvens e, periodicamente, uma ou duas estrelas cadentes, dizem que em alto mar não deveria ser incomum encontrar tantas assim. Era um cenário mais apaziguador do que lá dentro das cabines onde algum tipo de solenidade daquelas entediantes e formais ocorriam.
— O senhor pediu para que me chamassem, professor? — ele apoiava o corpo na borda da proa, um vento forte chacoalhava seus cabelos curtinhos. Era estranho, ou melhor, era incomum ver que estava sem a sua consagrada cartola para esconder os fios negros.
— Sim, agradeço por vir. — me juntei ao seu lado — Desde o theatro, nós não paramos para ter uma conversa séria sobre tudo o que aconteceu, não é mesmo? — concordei com a cabeça.
— Se bem que, o que temos para conversar? Que Salieri mais uma vez tentou matar todo mundo?
— Não, eu não falo disso. Falo do seu poder, Franz.
— Bem, aquilo... — meu olho percorreu o céu — Foi só mais um caso isolado.
— Muito pelo contrário, me deu a certeza de uma coisa. — ele endireitou a coluna.
— De quê? — inclinei o rosto. Seja lá o que fosse falar, duvido que me convenceria.
— Nós meio que já sabíamos. Mas agora podemos trabalhar nisso. O seu poder se manifesta quando a sua vida ou a vida de alguém próximo a você está em risco no futuro próximo. É um gatilho, como o de uma arma.
— Tá e como que isso nos ajuda?
— Ora, nos ajuda em tudo! — ele me encarou friamente. Esticou a mão até o terno e, dele, retirou uma Barnett, acredito que calibre 17. Eu reconheci pelo acabamento de madeira escura e o formato do cano acinzentado, do tipo que meu pai colecionava.
— Você não está pensando... — pus minhas mãos a frente do corpo, em defesa. Ele ativou o gatilho. Encarei seu rosto, não consegui ler nenhuma expressão. — Isso é perigoso professor, melhor guardar.
— Por favor, eu não iria pegar uma arma se não fosse usá-la, né Franz?
— E como o senhor irá usá-la?
— Franz, você é mais inteligente que isso. Não estávamos agora mesmo falando que seu poder só se manifesta se sua vida ou a vida de alguém próximo a você estiver em perigo? — ele pausou — Pense um momento, estou segurando uma arma, você está a minha frente, o que acha que vamos fazer senão treinar seus poderes?
— O senhor pretende atirar em mim? — tenho certeza que minha voz estava trêmula.
Ele dobrou a testa e pareceu tentar segurar um riso.
— O quê? Que raios... Que tipo de professor eu seria se fizesse isso?! Não, não não. — depois, apontou o cano em seu próprio rosto — Um verdadeiro professor coloca os interesses de seu aluno acima de sua própria vida.
— Isso é uma piada? Essa arma é falsa, né?
De repente ele deu um tiro no chão.
— Preciso responder alguma coisa? — e voltou a apontar a pistola em sua cabeça.
— Por Deus, professor! O que está fazendo?! Pare com isso! — aguardei em silêncio alguma resposta, que por acaso não veio. — Pare com isso professor, guarde essa arma! Eu vou gritar.
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Homens Também Sentem Medo
Paranormal《《《 Livro Concluído 》》》 Não há problema homens sentirem medo. E Franz descobriu o porquê. Além do fato de ser filho de um herói de guerra, o herdeiro da casa milenar Silvertoch precisava ser forte, um homem de coragem, de confiança, um homem que nã...