Trinta e Sete

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Áquila era Salieri.  

Quanto tempo eu levaria para acreditar nisso? Se fosse verdade, continuar negando poderia custar a vida de todos os outros membros de Cartago. Até das outras comunas.

— Eu não te julgo por ficar assim, pirralho. — o duende tentou me consolar com voz mansa, mas não funcionou — Nesse mundo amaldiçoado, não existe ninguém digno de absoluta confiança.

— Se ele realmente for Salieri, então não tenho motivo algum para não enfrentá-lo agora mesmo.

O duende suspirou, depois concordou com a cabeça.

— Sim, atacá-lo antes dele fazer o primeiro movimento pode ser uma boa ideia. Mas precisamos ser cuidadosos, não vamos o atacar logo de cara, precisamos pensar em alguma coisa antes.

A porta da sala onde estávamos se abriu bruscamente.

— Então aquele desgraçado na verdade é o Sarará? — essa era a forma em que Piatã se referia a Áquila. — Eu escutei tudo.

O duende e eu nos entreolhamos surpresos.

— Piatã! — balbuciei seu nome — Por que você...

— Eu tinha vindo me desculpar pelo jeito que te tratei, Franz... Aí acabei ouvindo. — Piatã fechou os olhos, seu rosto estava tão vermelho que temi que ele fosse desmaiar — Como ele pode... Como ele pode fazer isso com a gente.

— Piatã...

— Não, Franz! Eu vou matar aquele desgraçado! Não, não só isso, eu vou desmembrá-lo, vou fazer ele sofrer segundo por segundo até que enfim morra. Uma morte rápida é pouco pra ele. — Piatã deu um berro em seguida — QUE DESGRAÇADO!

— Vamos agir com cautela, Piatã. — ele me encarou, senti medo, senti um frio na espinha que nunca havia sentido antes por causa de um olhar. Depois Piatã deu as costas e saiu de lá sem pronunciar uma única palavra.

— Isso é um problema. — o duende iniciou.

— E você acha que eu não sei?! Eu nunca vi ele assim, ele sempre foi o calmo, o equilibrado e o responsável do grupo. Mas também, dá pra entender pensando em tudo o que Salieri fez para ele. — me apressei e conclui enquanto já caminhava em direção a saída — Tô indo atrás dele, fique atento e me avisa qualquer coisa, tá bem?

Corri pelo corredor, ainda tinha bastante gente no prédio, mas a exposição já estava para fechar. O sol se deitava no horizonte e a luz que iluminava o caminho era alaranjada. Entre uma sala e outra, alguém se pôs a minha frente. Não foi um acidente, aquele homem alto e bigodudo me interrompeu de propósito. E de todas as ocasiões possíveis, aquela era a que eu menos estava afim de perder tempo conversando com meu tio.

— Por favor tio, pode sair do meu caminho? Eu realmente não tenho tempo para o senhor agora.

— E eu realmente preciso conversar com você agora, Franz.

— Tio...

— Não Franz, não vou sair daqui enquanto você não me escutar. — eu tinha alguma escolha? Bem, de todo modo ele viu meu rosto cheio de desdém.

— Então fale, fale logo! — normalmente eu não trataria qualquer adulto assim, normalmente, mas meu tio foi quem escolheu minha pior hora. Ele ficou surpreso e isso estava mais do que evidente. Normalmente ele ficaria bravo ou chateado, mas em comparação a tudo o que ele já me fez, imagino que tenha tentado ignorar.

— Eu pensei bem nesses últimos dias e decidi que é melhor te contar de uma vez, afinal, com o fim dessa viagem não vamos mais poder nos encontrar. Quero que você saiba o porquê não pode confiar em Cartago.

Homens Também Sentem MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora