Vi um brilho ofuscante. Senti as pupilas queimarem. Vi fogo.
Fogo.
O diabólico véu vermelho incinerando tudo... Tudo... Tudo posto em chamas. A madeira do convés, as flâmulas. Das velas a popa, por onde meu olho percorria, o local ardia-se até as cinzas. Tossi com a fumaça. Minhas mãos estavam negras com a fuligem. Não achei ninguém mais ali no navio — se é que foram para algum lugar e o fogo não os consumiu — mas encontrei uma sombra, parecia triste e ofuscada na escuridão, ali próxima às cabines.
— Piatã? — dei um passo para trás, quase não o reconheci.
— Franz? — ficamos em silêncio, nos encarando por um instante — Você deveria ter saído daqui, ter se salvado! — Estava agachado e senti que estava trêmulo. Mas parecia que havia algo de errado com ele.
— O que aconteceu? Onde estão os outros?
— Salieri aconteceu. Todos estão mortos. — ele suspirou — Eu fiz de tudo para salvá-los, mas não pude. Me desculpe Franz.
— Salieri? Onde ele está?
— Fuja daqui Franz? Você irá morrer se ficar aqui. — eram tantas informações, tentei por o mínimo possível no lugar mas pensar direito se tornou uma tarefa difícil.
— Vamos então. — lhe estendi a mão.
— Não, vou ficar aqui.
— O quê?!
— Ninguém mais pode me salvar. Falhei na minha missão de vida, e aquele desgraçado irá continuar vivo. Mas você é Franz Silvertoch, descendente da milenar casa Silverock de ealdormans do antigo Reino da Mércia e pode matar meus inimigos. Então vá!
No instinto, corri com a ordem como um cachorro de caça. Antes de chegar até a saída do navio, tropecei em algo e amassei o braço no chão. Curvei o pescoço para enxergar melhor o que era, a fumaça seguia densa e ofuscava o ambiente, mas vi um corpo. Estava carbonizado da cintura para cima, mas pude reconhecer uma parte esquerda que cobria os olhos e a boca, pude reconhecer o professor Tobias.
Levantei o rosto e notei que Piatã me encarava. “Me desculpe...” li em seus lábios.
A gravidade pesou na minha cabeça. Depois, escutei risadas e uma melodia em violino.
Agora estava num salão de jantar. O professor Tobias gargalhava sem desviar o olhar para frente a mesa redonda que estávamos, contudo, sua mão apertava em meu ombro. Ele aproveitou uma deixa e aproximou os lábios dos meus ouvidos:
— Eu vi. Sua íris ficou amarela de novo. — sussurrou. — Não se preocupe, vou tentar encontrar um jeito de escaparmos disso.
Pisquei o olho e vi o imperador sentado na cadeira de frente a minha. Então me lembrei quando que realmente estava. O imperador havia nos convidado para esse tea time com a justificativa de nos conhecer melhor, conhecer cada uma das comunas melhor. Na realidade, o senhor imperador apenas falou dele mesmo durante toda a refeição, ou melhor, apenas falaria dele mesmo.
Seu rosto me encontrou e apertou os olhos em mim. Eu sabia exatamente o que viria a seguir.
— Sei que muitos vão discordar, mas ainda acho um absurdo crianças tão jovens pondo-se a se arriscar tanto! Para um pai, a dor de perder um filho é indescritível. Eu não queria que outros pais sentissem algo assim. E não queria tirar o futuro de crianças que mal começaram a vida. — um dos ministros ao seu lado pigarreou. Sim, acredito que o imperador tenha entrado num assunto um tanto incômodo.
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Homens Também Sentem Medo
Paranormal《《《 Livro Concluído 》》》 Não há problema homens sentirem medo. E Franz descobriu o porquê. Além do fato de ser filho de um herói de guerra, o herdeiro da casa milenar Silvertoch precisava ser forte, um homem de coragem, de confiança, um homem que nã...