Com um andador, eu caminhava até a outra sala, sendo acompanhado pela pressa de Áquila.
— Acabei de acordar. — o olhei de canto — Não dá para dar um desconto?
— Só tô seguindo as instruções de Tobias.
Era difícil sequer mover um braço, àquilo ia demorar mais do que Áquila esperava. Grunhi algumas vezes, ele suspirou com impaciência e aceitou:
— Tudo bem, vai no seu tempo.
Olhei para a janela, a luz laranja do crepúsculo brilhava mais forte. Ardeu em meu olho. Respirei fundo.
— Todos estão bem? — perguntei — Quero dizer, numa hora estávamos lutando contra aquele monstro poderosíssimo e agora acordo aqui. O que aconteceu com todo mundo? Salieri foi derrotado?
Áquila permaneceu admirando meu rosto. Não disse nada a princípio. Depois, sua resposta veio.
— Sim, todos estão bem. — disse despreocupado. Senti alívio — Pelo menos fisicamente bem. Além das duas fatalidades que você já sabe, ninguém mais morreu. Mas Salieri não foi derrotado. — virou o rosto, tenso — E nem poderia ter sido, já que não era ele lá na floresta também.
Prosseguimos por um corredor. Levamos mais alguns minutos até chegar a outra porta. As velas de cera de abelha já haviam sido acesas e causavam uma vibração aconchegante com sua luz amarelada que iluminava os papéis de parede. Entramos naquela sala com um desenho de dragão no chão. O professor Tobias e a senhora Rhodes estavam lá, como Áquila havia dito, de frente a uma fileira de longas janelas que traziam o laranja do fim do dia. Ficaram surpresos ao me verem.
— Franz?! — Tobias exclamou com perplexidade — Por que está aqui?! A médica nos contou que você acabou de acordar.
Dobrei a testa.
— Como assim? Áquila disse que você queria me ver o quanto antes.
Desta vez, com o rosto enfezado, o professor encarou o garoto ao meu lado.
— Falo com você depois — disse para ele. Áquila estremeceu. Finalmente, o professor virou-se para mim — Bem, iríamos te chamar depois que você descansasse um pouco. Mas já que está aqui, por favor, se sente. — e me estendeu uma cadeira. Os dois seguiam de pé, imponentes. Pareciam que já tinham na ponta da língua o que dizer — Antes de mais nada, nós gostaríamos de te agradecer profundamente, Franz.
— Agradecer? — curvei o pescoço.
— Você foi de imensa ajuda no ataque que sofremos durante os exames. Você nem mesmo pertencia oficialmente a Comuna, mas ainda assim, lutou como se fosse um dos membros. A forma que você agiu para avisar seus companheiros do perigo, além de todo o esforço que fez para proteger eles, foi admirável. — senti sua voz embargar. — nem consigo descrever o orgulho que sinto de ter sido seu professor. É o melhor aluno que já tive.
— Mais hã? — Áquila se intrometeu, mantinha os braços cruzados e o encarava no canto — Ele não é o seu primeiro aluno?
— Silêncio, Áquila! — Tobias o repreendeu, eu ri baixinho. — De qualquer forma, Franz, não tinha como não aceitarmos você como membro da Comuna de Cartago depois de tudo. Mas no final das contas, a decisão é sua. Deseja entrar na nossa Comuna?
Parecia uma resposta óbvia, principalmente depois de tudo o que escolhi passar por eles. Mas não, não era assim tão fácil. E não era só por medo da força dos barbarians depois de vê-la tão de perto, ou por ainda não ter manifestado meu poder.
Ia muito além.
— De todos os meus receios deste trabalho, eu nunca pensei que sentir o sangue de um companheiro nas mãos, no rosto, seria o mais assustador. Eu não sei se conseguiria passar por isso de novo. — abaixei o rosto — permita-me tomar minha decisão mais tarde.
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Homens Também Sentem Medo
Paranormal《《《 Livro Concluído 》》》 Não há problema homens sentirem medo. E Franz descobriu o porquê. Além do fato de ser filho de um herói de guerra, o herdeiro da casa milenar Silvertoch precisava ser forte, um homem de coragem, de confiança, um homem que nã...