Trinta e Um

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Concentre-se! — escutei o professor Tobias gritar, depois de me fazer um corte no braço. Urrei e saltei até ele. Levei outro golpe da lâmina negra que ele havia formado com sua sombra, mas agora foi na coxa direita. — Você não está se concentrando. Preste atenção, foco, foco aqui Franz!

— Eu sei! — gritei e apertei o cabo do saxo. O ataquei de cima, até o pescoço. Ele desviou para trás e contra-atacou com uma joelhada. Pulei para o lado, só que uma caixa gigantesca de madeira me desequilibrou, levando-me ao chão — Inferno! Quem deixou essa droga aqui?!

O professor parou o que fazia e endireitou a coluna. Seu rosto estava impaciente. Já me preparava para escutar uma droga de sermão.

— O que foi, Franz? — ele disse — Por que tá com essa cara? Você vai ficar fazendo esse corpo mole o dia todo? — Eu ri irônico e o professor se irritou. — Levante logo daí! Eu deveria te dar um cascudo por causa disso.

— Então me dê logo!

Ele suspirou profundamente. Não sei como conseguiu se controlar.

— Você fica pensando demais nas coisas e não se concentra no principal.

— O que o senhor esperava, professor? Não preciso nem te dizer quem está aqui conosco prontinho pra nos matar.

— Ele está?

— Está! Eu preciso responder ainda? O senhor não viu?

— Viu o quê?

— Ora, não viu que não nos atacaram na noite passada?! Ele sabia que teria muitas perdas e que estaríamos preparados, por isso abortou o ataque. E eu nem precisava te dizer isso, né professor?

— Mas você não viu ele.

— Não, mas e daí...

— Tá certo, tudo bem que existe a possibilidade de Salieri ter infiltrado uma de suas marionetes aqui e por isso não podemos nos descuidar. Mas também é por isso mesmo que estamos treinando, não percebeu? — ele apontou o dedo para a própria cabeça e sorriu, um tanto forçado, mas sorriu. — Quando você ocupa sua mente com preocupações que não vão te levar a lugar algum, acaba não deixando lugar para o que realmente importa. — ele pausou, deu três passos até mim, depois, estendeu-me sua mão. — Pensa por um instante, o que seria mais vantajoso agora, nesse momento, esquece o futuro, pensa agora, se preocupar com Salieri, ou se concentrar em seu treinamento? — me levantei com sua ajuda.

— Tudo bem. Mas não é como se fosse fácil escolher o que vou ou não me preocupar.

— E não é mesmo. Até porque o seu poder de Cartago vem do seu medo do futuro — ele riu fraco —, mas nós lutamos junto com nossos medos para vencê-los, lembra?

Treinamos mais naquela madrugada, porém, seguiu sendo inevitável tirar Salieri da cabeça. Só que isso não me impediu de me concentrar melhor nos golpes.

Levou um tempo, mas, depois de vários cortes ligeiros e provavelmente fatais se acertados, numa investida rápida e precisa do professor eu desviei para a esquerda, contudo não foi isso que esticou seus lábios num sorriso, mas sim porque a evasão seguiu acompanhada de um brilho amarelo conhecido. O que aconteceu foi que há poucos segundos, vi sua mão se esticando até meu pescoço, então, quando ele de verdade se aproximou de mim, soube exatamente em que posição desviar e muito além, como colocá-lo num ponto que facilitaria o contra-ataque. O futuro estava cada vez mais próximo ao meu olho.

— Nesse ritmo, te dou alguns meses para você conseguir dominar o básico do seu poder.

Eu pingava em suor, meus músculos ardiam como brasas de carvão e minhas pernas tremulavam, porém cada segundo, cada milésimo daquele treino valeu a pena. Um vento gratificante enxugou meu rosto, fechei o olho e sorri aliviado. Depois o encarei de volta e lhe perguntei:

Homens Também Sentem MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora