Oito

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Altura, aranhas, cobras, o mar, lugares apertados, de Anthony. Tinha medo de muitas coisas, mas não tinha dúvidas de qual era o maior dos meus medos.

O escuro. — respondi o professor Tobias, com os ombros encolhidos. Estremeci só daquele quarto tenebroso passar pela minha cabeça. O professor dobrou a testa, levantou a sobrancelha - em desafio, foi a impressão que tive - e ficou lá, me encarando com um silêncio incessável. — Tem algum problema? — questionei.

 — Não, não. É só que... É um medo interessante. — Concordei com a cabeça, mesmo estranhando o que aquilo poderia significar. Ele pôs a mão num dos bolsos do colete e retirou algo de lá. — Ponha. — disse e estendeu-me uma luva. Fiquei estarrecido. Que diferença isso faria? Por que eu deveria colocar? Seria algum teste?

 — E pra que isso?

Ele arregaçou a manga da camisa social como resposta, sua mão direita ficou evidente. Ela vestia-se da mesma luva que me entregava. As duas eram grossas, certamente de couro. Pretas, escuras como uma noite nublada, mas com a palma acinzentada. Eram largas, a dele quase passava do pulso. Havia linhas acinzentadas contornando-as, como se desenhasse algum estilo. E, ao centro, o couro se amarrava a um hexágono metálico que ocupava quase todo o peito da luva. Mais tarde descobri que era feito de um metal raro chamado tungstênio. Vendo-o com aquilo, aceitei tomar o objeto de seus dedos. O vi mais de perto. O hexágono de tungstênio ao centro aparentava ser uma elevação.

 — É um compartimento. — explicou-me. — Mantenha pressionado. — E assim eu fiz. O hexágono se abriu como a tampa de um porta-joias. Meu rosto se iluminou com o que havia dentro daquele espacinho. Uma pequena pedra, do tamanho da unha de meu mindinho. Sua cor era a mesma das folhas secas de um abacateiro, logo após caírem ao chão. Brilhava com fervor. De fato, uma linda gema. — É chamada de Foz do Outono. — respondeu-me

 — E por que está me dando? Parece ser tão valiosa.

 — Não tem valor comercial. Na real, ninguém sabe que ela existe. Estou te dando porque a fonte de nosso poder vem dela. A partir do momento em que colocar essa luva, seu medo se tornará real Franz. — admirei mais um pouco. A luz da pedra era relaxante. Fechei o compartimento e coloquei a luva sem mais hesitação. Coube perfeitamente, como se fosse feita nas medidas da minha mão. — Franz, essa luva é a nossa principal arma. Nunca a tire. Durma com a luva, acorde com a luva, tome banho e até vá ao banheiro com ela, mas nunca a tire por nada. — concordei com a cabeça, por mais estranho que fosse pensar nos detalhes pequenos do que ele disse. No fim, me achei estiloso com ela.

 — E o quê deve acontecer agora?

 — Bem, — ele coçou a barba rala. —, acho que é só esperarmos.

Senti um frio na barriga com essa ideia de manifestar meu medo. Lembrar do que aconteceu com os outros, aquela chinesa, ou o garoto fantasma, aumentou minha agonia. Foi quando analisando bem meus pensamentos, me dei conta que os dois também usavam luvas nas mãos direita. Os da Rhodes eram brancas, com linhas rosas a contornando, finas que facilmente passaria despercebido por alguém. Já a luva do rapaz sombrio era roxa, num tom melancólico, com traços mais claros da mesma cor. Se conseguisse fazer algo parecido com o que eles fizeram, também teria a certeza que não eram meros truques. Ou seja, estava curioso também. A questão era, estava com mais curiosidade do que assustado? Aguardei a resposta. Resposta essa que não apareceu em um, cinco, dez e até quinze minutos. Meu nariz chegou a coçar e espirrei, mas nada que significasse que um poder misterioso havia se manifestado.

 — Não costuma demorar tanto para aparecer algum sinal. — vi Tobias mordiscar o canto dos lábios, com impaciência. — será que seria melhor consultarmos a Rhodes?

Homens Também Sentem MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora