Óbvio que ficaria feliz em vê-lo. Meu tio George era a única artilharia que dispunha contra as investidas de Anthony. Não é a toa que ao abrir a porta, prendia-se em seu rosto, olhos tão cheios de indignação. Olhos inconformados. Olhos que não adimitiriam uma bagunça como essa.
— Geraldino contou-me tudo. Foi Anthony que fez isso com você, certo? — concordei com a cabeça — Venha, levante-se. — assim eu fiz e corri para acompanhá-lo, que já andava a muitos passos de distância.
Certamente a alegria de Anthony logo se desvaneceria. Nem ele nem ninguém esperava o retorno de Seu George, o único homem na Terra em que aquele demônio tinha temor. Já eu, bem, corria e sorria de satisfação em já ter uma certa ideia do que estava para acontecer.
Não ouvi o que eles conversaram no escritório. Seu George era um homem discreto e cheio de honra, não humilharia sujeito algum em público, independente da situação – por mais que eu discordasse dessa atitude e desejasse que Anthony fosse esculachado na frente de todo mundo, até dos empregados da casa. De todo modo, só de ver seu rosto de batata estragada, ao sair da casa sem olhar para ninguém, já foi um presente em tanto.
Por fim, mandou que me chamassem.
— Peço desculpas pela maneira como meu filho lhe tratou, Franz. Saber que algo tão abominável quanto isso, aconteceu, me entristece profundamente.
— Por favor senhor, não precisa ficar triste. Até porque o senhor não tem culpa alguma.
— Não, Anthony foi criado como um garoto mimado e orgulhoso... Deveria ter corrigido isso há muito tempo. É minha culpa sim o que acontece com você, rapaz. — ele suspirou. — Pedi que Griselda preparasse-lhe um banho quente. Você está em péssimo estado, meu amigo. — ele pôs a mão em meu ombro, seu olhar era exausto como um burro depois de andar quilômetros. — Não vou permitir que isso volte acontecer.
Algo assim, me deixava com ainda mais repulsa de Anthony. Eu mesmo já me sentia péssimo em preocupar meu tio deste modo, por que então o filho dele simplesmente insistia em decepcioná-lo? Eu disse a Mirian, em ironia, que estava enlouquecendo nesses dois anos que se passaram. Para falar a verdade, só realmente não cheguei nesse estado por conta da proteção que podia contar do meu tio George. É claro que na maioria das vezes não lhe dizia metade do que Anthony fazia comigo. Meu tio não andava com o coração lá muito bom, ele era formado em medicina e me disse certa vez que sua saúde estava bem frágil para um homem daquela idade. Eu me sentiria mal se, por conta de algo que dissesse, alguma coisa acontecesse com ele.
Ao anoitecer, no horário costumeiro, o jantar fora servido. Ali, de trás da cabeceira, me posicionava de pé, observando todos comendo. Após isso, finalmente, poderia me juntar a mesa. Havia me esquecido que desta vez, meu tio estava lá.
— O quê está fazendo de pé, rapaz? Sente-se, vamos!
E assim, me pus no acento ao lado de Natanael, mas de frente a Anthony, que me entregou um olhar vingativo. Mas não necessariamente precisava ficar ali, olhando para o rosto morto dele, eu poderia levantar os olhos e vislumbrar o saxo de gerações. O jantar parecia um enterro. Tio George vez ou outra tentava puxar assunto, falava de sua estadia no Rio e a vida na corte. Ele mal parava em casa, contava-se nos dedos as vezes do ano em que ele tinha a oportunidade de deitar em sua cama. Por isso assunto é o que não deveria faltar. Mas faltou, e todos ali sentiram o constrangimento invadir o estômago como uma comida que não pegou muito bem. Ao fim, cada um se retirou sem muita cerimônia.
Foi difícil dormir naquela noite, mais porque sabia que uma hora meu tio tomaria a estrada de volta ao Rio. A insegurança do que Anthony faria para se vingar me açoitava. Talvez me jogasse de volta naquele quarto horripilante por mais alguns dias. Aqueles foram os dois dias mais longos de minha vida, se ele decidisse me prender por mais tempo do que isso, não sei se aguentaria. E, logo, escutei um burburinho vindo dos outros cômodos da casa. Abri a porta que dava de frente ao corredor. A luz das lamparinas estavam acesas, escutei mais burburinho. Segui para a sala de estar. Meu tio se encontrava de frente a porta que dava para a saída da casa, com Anthony a sua direita. Ali, do outro lado, com os pés ainda no tapete de entrada, pude ver dois homens intrigantes.
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Homens Também Sentem Medo
Paranormal《《《 Livro Concluído 》》》 Não há problema homens sentirem medo. E Franz descobriu o porquê. Além do fato de ser filho de um herói de guerra, o herdeiro da casa milenar Silvertoch precisava ser forte, um homem de coragem, de confiança, um homem que nã...