"Não sei se o mundo é bom, mas ele ficou muito melhor quando você chegou".
Pov Maraisa
Mexi-me na cadeira enquanto Marília lia Hemingway na biblioteca aquela tarde. Ela estava linda com seus jeans pretos, coturnos, camiseta do AC/DC mostrando suas tatuagens no braço e um gorro preto cobrindo seus cabelos. Nosso cumprimento no início da aula tinha sido no mínimo tortuoso. Queria ter saído a correr para casa e perder-me em alguns copos de qualquer bebida forte. Nunca tinha me sentido tão perdida e desequilibrada. Minha mente zumbia impiedosamente com pergunta após pergunta, pontuadas por palavras da minha conversa com Henrique e meu papo com Rosi, antes de voltar a pensar no beijo.
Oh, Deus, o beijo.
Durante a aula, fitei descaradamente a boca de Marília e pigarreei quando ela ergueu os olhos em minha direção, como se sentisse que estava sendo observada. As minhas bochechas arderam. Desviei os olhos de volta para o livro. Marília franziu a testa antes de continuar a ler novamente.
- "Havia tratado essa visita a Catherine muito levianamente, eu bebera demais e quase me esqueci de aparecer, mas não poder vê-la fez com que me sentisse solitário e vazio."
- Certo, pare aí - coloquei sua cópia com o texto virado para baixo na mesa entre nós, ao lado do pacote de Oreo e da Coca que Marília tinha trazido - Quanto a essas últimas páginas, o que você percebe na mudança da atitude de Henry com relação a Catherine?
Mendonça se inquietou e seus dedos ficaram encravados debaixo do gorro enquanto ela coçava a nuca. Seus olhos se voltaram nervosamente para os meus.
- Ele está, hum, confuso com relação aos seus sentimentos.
Ela pegou a lata de Coca e tomou um grande gole.
- Como é que você sabe disso? - perguntei enquanto a observava.
- Porque ele sente falta dela, sabe? Quando, hum, ela não está por perto.
Os seus olhos encontraram os meus por um breve segundo, tempo suficiente para ativar um desejo ardente por todo o meu corpo.
- Como sabe que ele está confuso?
Marília sorriu com o canto direito da boca.
- Um palpite. Ele fica... "vazio". Ele fica sem chão sem ela.
O que enxerguei nos seus olhos verdes quase fez meu coração parar. Em geral, quando Marília me fitava, eu via sexo primitivo e desejo. Aquilo sempre estava presente nas irís dela, atingindo-as de um azul sem nuvens. Mas agora havia algo mais ali, uma certa névoa de paixão que rodeava cada milímetro de suas pupilas. Era tão claro que sabia, sem que ela dissesse uma palavra, como ela se sentia. Ela estava sentindo alguma por mim. E me sentia exatamente da mesma forma. Não fazia ideia de quanto tempo nós ficamos ali sentadas, olhando uma para a outra, perdidas uma na outra. Só voltei em mim quando Mendonça me tocou. A mão dela era quente e confortável sobre a minha, e a energia efervescente que sempre esteve presente entre nós foi aliviada. Parecia haver uma eternidade desde que ela me tinha tocado pela última vez.
Mendonça se inclinou para a frente.
- Pêssegos - disse, acariciando minha pele com o polegar. Manive os olhos na mesa, onde nossas mãos se uniam. A sensação das mãos dela era tão boa. A minha mente começou a imaginar como seria tê-las em outras partes do meu corpo. Minha atração por Marília estava lentamente se transformando em algo mais, assustador e irrevogável. Estava cansada de negá-lo, é claro, mas ainda tinha que traçar um caminho tortuoso. A mão de Mendonça apertou a minha - Quanto a sábado...
- Está tudo bem.
- Não - respondeu com firmeza - Não está. Foi... Bem, o beijo foi... - ela ergueu as sobrancelhas - Olha, o que quer que pense de mim, não beijei você para ser uma babaca. Mesmo.
- Eu sei, eu...
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Desejo Proibido - Malila
FanfictionCarla Maraisa nasceu em berço de ouro. Filha e neta de senadores, a bela garota de cabelos negros e curvas perfeitas se formou em Literatura e surpreendeu a todos ao decidir dar aulas em uma penitenciária. Mas quando Marília Mendonça, uma detenta in...