Capítulo 30 - Estou aqui - Parte 2

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Entrei com determinação e dignidade na sala de estar. A neve tinha caído durante a noite, cobrindo os jardins com uma manta invernal. Vovó não estava presente, o que me agradava. Ela não merecia ver nem ouvir o que estava prestes a acontecer. O fato de Almira entrar na casa de Maria daquele jeito, e no Dia de Ação de Graças, fez os meus dentes rangerem. Fala sério, quem era a mãe ali?

Parei com as costas eretas e os braços cruzados, quando Almira me viu.

- Achei que vocês estivessem na casa dos pais de seu marido. O que você está fazendo aqui?

- Não fale comigo desse jeito, Maraisa.

- E não me diga o que fazer - retruquei - Como ousa entrar no meu quarto, na casa da vovó, daquele jeito?

- Está tudo bem com Maria. É com você que estou preocupada, furiosa, na verdade.

- Por quê?

- Por quê? Porque minha filha não fala comigo, não atende minhas ligações. Minha filha, que não apenas trabalha em uma maldita prisão, como está andando por aí com... com aquela...

- Cuidado - avisei quando ela apontou na direção da porta.

Almira ficou branca e uma faísca de mágoa acendeu seus olhos.

- Estou aqui para pôr um basta nisso.

Bufei.

- Você tem noção de quão ridícula está sendo?

- Ridículo é você colocar toda a sua carreira, sua reputação e quem sabe até mesmo a sua vida em risco por causa de uma delinquente, um desperdício de...

Voei na direção de minha mãe, parando a poucos centímetros dela.

- Não fale dela desse jeito!

A minha proximidade e a ferocidade que emanava de cada poro fez Almira recuar.

- Se acalmem - disse Felipe ao lado dela. Ele ergueu a mão na direção do meu ombro, mas a abaixou - Vocês duas, por favor, se acalmem.

Almira engoliu em seco.

- Você pode não acreditar, mas estou fazendo isso porque amo você, Maraisa. O presídio não é bom para você. Ela não é boa para você.

- Você nem sequer a conhece - censurei - Nunca deu a ela uma chance.

Minha mãe estava incrédula.

- E como é que eu poderia fazer isso se você estava fazendo tudo pelas minhas costas? Tive que saber pela sua avó!

- E é realmente um mistério o porquê de eu não ter contado a você!

- Porque sabia que era errado! - retrucou - Pelo amor de Deus, você poderia se complicar tanto.

- Acha que não sei disso?

O rosto de Almira se contraiu, confuso.

- Então por que está...?

- Você não fez nada além de me colocar para baixo desde que comecei a trabalhar em Arthur Kill. Nada do que realizei desde que aceitei aquele emprego foi bom o suficiente para você, até mesmo a mulher que amo é uma decepção aos seus olhos.

Ela bufou.

- Ora, por favor, você não a ama.

- Com todo o meu coração - declarei em tom de súplica - Você não sabe o que tenho passado nesses últimos meses, mãe. Como é difícil encarar meus maiores medos em Arthur Kill, confrontar o que me manteve acordada nos últimos dezesseis anos - ela fez uma careta - Mas Mendonça esteve lá, comigo, me ajudando e cuidando de mim quando ninguém mais o fez - virei o rosto na direção do teto, furiosa por minha mãe nem sequer ousar chorar - Quando saí daqui naquela noite, foi Mendonça quem cuidou de mim, e nunca, em momento algum, ela disse ou fez nada comigo que justificasse essa mesquinharia da sua parte.

Desejo Proibido - Malila Onde histórias criam vida. Descubra agora