Capítulo 32 - Começo

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"Um coração carregado de amor está sempre preparado para lutar até o fim".

Pov Marília

- A que horas é o seu vôo, querida? perguntou Maria, quebrando o silêncio que envolvia a sala de estar.

- Daqui a algumas horas - respondeu Maraisa ao meu lado.

Pêssegos desenhava círculos invisíveis nas costas da minha mão, que estava acomodada entre as dela em seu colo. Almira estava sentada na poltrona larga de pelúcia à nossa frente, enquanto nos encarava. Fiquei imaginando o que Almira via quando olhava para mim. Será que enxergava o amor que tinha por sua filha? Será que enxergava o conflito pelo qual tinha passado para ficar com ela? Será que enxergava que abriria mão da minha própria vida para mantê-la em segurança? Ou enxergava apenas minha lista de crimes? Será que me via como um exemplo perfeito do tipo inadequado para Maraisa? Será que me considerava igual àqueles animais que tinham tirado a vida do seu amado marido?

É, era exatamente assim que ela me via.

- Sei que você tem muito a dizer - murmurei - Sei que tem opiniões duras a meu respeito - ergui as sobrancelhas - Quero que me diga quais para que eu talvez possa mudá-las.

- Isso não vai acontecer - silibou Almira.

- Você não sabe.

- Não ouse me dizer o que sei e o que não sei. Sei muito bem quem e o que você é.

Apertei a mão trêmula de Maraisa.

- Será que pode me explicar? - inclinei-me para a frente - Todo o mundo merece a chance de se defender.

- Você já tem bastante experiência com isso - apontou ela, enjoada.

- Almira.

Todos os rostos se voltaram para Maria, que olhava boquiaberta para a filha. Almira olhou para a mãe antes de abaixar os olhos respeitosamente.

- Sim - confirmei - Já cumpri pena.

- Mais de uma vez - retrucou Almira. Ela sacudiu a cabeça, perplexa - Você acredita mesmo que vou querer minha filha com uma mulher que considera um tempo na prisão umas férias estendidas de verão?

- Não vejo dessa forma! Não me orgulho do meu passado.

- Talvez - retrucou - Mas o passado de fato aconteceu.

- Como o passado do meu pai? - interferiu Pêssegos.

Almira olhou para a filha por um instante, seus olhos se enchendo de lágrimas.

- Não ouse compará-la ao seu pai - censurou - Seu pai... Seu pai... - ela mordeu o lábio e enrolou os braços no próprio corpo - Ele pode ter feito coisas das quais não se orgulhava - continuou antes de voltar a olhar para mim - Mas fez algo para de redimir depois. Tornou-se alguém que as pessoas admiravam, respeitavam, amavam...

- Mendonça já fez coisas que admiro e respeito - enfureceu-se Maraisa - Você não faz ideia do que ela superou, contra o que ela lutou a vida inteira. Você não faz ideia da noite em que meu pai morreu, de como Mendon...

- Mara - interrompi.

Não queria que Almira soubesse de minha participação na noite em que o senador tinha morrido. Não agora. Não se tratava de ganhar pontos.

Um soluço abafado veio do outro lado da sala. Desviei o olhar de Pêssegos e vi o rosto devastado de Almira e Felipe acariciando seu cabelo.

- Você acha que não faço ideia da noite em que seu pai morreu? - repetiu sem fôlego - Como você pode... Maraisa, aquela noite... - ela maneou a cabeça, sem palavras - A noite em que seu pai faleceu foi a pior da minha vida - falou. Lágrimas escorriam por seu rosto - Não faço ideia? - repetiu, soltando um ronco agressivo de risada - Nunca tinha sentido tanto medo quanto no momento em que recebi aquela ligação.

Desejo Proibido - Malila Onde histórias criam vida. Descubra agora