A tela do meu celular iluminou todo o quarto quando apertei o botão de rediscagem mais uma vez. Caixa postal. Pisquei as pálpebras pesadas sobre olhos pesados e molhados. Não tinha notícias de Marília há doze horas. Nenhuma mensagem, nem ligação. Apenas silêncio. Minha cabeça latejava, meu coração estava dilacerado e meu corpo, exausto de preocupação. Cada parte do meu corpo doía. O vazio era paradoxalmente esmagador.
Mesmo assim, após muitas lágrimas derramadas e centenas de passos caminhados, não culpava Mendonça por nada daquilo. Como poderia? Não poderia culpá-la por encontrar uma saída, uma escapatória. Foram necessárias seis horas, diversas ligações histéricas e um sem-número de mensagens de texto para que reconhecesse isso. Mas havia reconhecido.
Marilia podia mostrar na maioria do tempo emoções de indiferença, mas sabia que ela não se sentia nada assim. Ela era irremediavelmente sensível e frágil. Se havia algum culpado, esse alguém era eu, que a coloquei em uma situação na qual ela se sentia claramente desconfortável. Devia ter ouvido meus instintos e lido a ansiedade nos seus olhos. Queria lhe mostrar que ela era boa o suficiente, provar a mim mesma que podia ajudá-la, que era forte o bastante para apoiá-la. Eu fui tão egoísta.
Sim, ela tinha prometido. Sim, havia confiado que ela estava falando de coração, mas a verdade é que não estava. Marília só prometeu porque eu a obriguei a isso. Ela sabia que eu precisava daquilo e tinha me dado. Não teria falado com minha mãe se ela não tivesse me obrigado e, em muitos sentidos, estava feliz por termos conversado. Não que houvesse obtido muito resultado. Roma não se fez em um dia, afinal de contas.
Nossas conversas após a partida de Mendonça foram desconfortavelmente forçadas e curtas, mas pelo menos aconteceram. Eu tinha visto, claro como água, no rosto de minha mãe: ela sabia que sua presença tinha forçado Marília a ir embora.
Virei-me de barriga para cima, apertando o celular com força contra o peito. Olhando pela janela, vi que a neve ainda caía. Não podia evitar certa angústia ao imaginar onde Marília se encontrava, se estava em segurança. Tinha ligado para o aeroporto, mas o voo marcado não tinha sido alterado. Não fazia ideia se ela tinha pegado outro voo para casa, mas algo dentro de mim dizia que não. Decidi, depois de arrumar a mala, que iria embora da casa de Maria e pegaria meu voo agendado para a tarde seguinte.
Abuela, é claro, havia implorado que ficasse, dizendo que o Dia de Ação de Graças deveria ser passado com a família. Mas, na verdade, estar na mesma casa que minha mãe, depois de todos os acontecimentos, simplesmente não fazia sentido para mim. Mandei mensagem para Marília dizendo onde estaria, caso ela voltasse para procurar-me e saí de casa.
Família ou não, precisava de espaço, quietude, tempo para pensar. Assim como marilia tinha precisado. Deus, o que ela deve ter sentido, ouvindo Almira dizer aquelas coisas? As palavras de minha mãe aniquilaram cada pedacinho de certeza e autoconfiança que eu e vovó tínhamos ajudado a construir em torno de Marília no dia e na noite anteriores.
Fechei os olhos. Céus, Só queria dizer que a amava. Não importava se ela nunca mais quisesse ter nada comigo, precisava que ela ouvisse isso. Permiti derramar mais algumas lágrimas por um tempo. Eram lágrimas por Marília e pela dor que ela com certeza estava sentindo. Lágrimas de raiva da minha mãe por ter feito aquilo com a mulher que amava, lágrimas por Maria e a situação horrível na qual ela havia involuntariamente se envolvido e lágrimas por meu pai. Como sentia a falta dele!
Lamentava tanto que ele não estivesse lá. Lamentava tanto por tudo. Estava tão triste e tão cansada. Antes que pudesse pensar mais em toda a confusão em que me encontrava, um sono abençoado e silencioso me dominou.
(...)
Houve um barulho. Aninhado na beirada da minha consciência, em um local entre a sombra e a luz, entre a realidade e os sonhos, havia definitivamente um barulho. Em meio a uma névoa sonolenta, joguei o braço para fora da cama, em busca do relógio, em uma tentativa de desligar o...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Desejo Proibido - Malila
FanfictionCarla Maraisa nasceu em berço de ouro. Filha e neta de senadores, a bela garota de cabelos negros e curvas perfeitas se formou em Literatura e surpreendeu a todos ao decidir dar aulas em uma penitenciária. Mas quando Marília Mendonça, uma detenta in...