23. Capítulo XXIII - Noite após noite

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CAPÍTULO XXIII – NOITE APÓS NOITE


Ela não voltou. Nem na noite seguinte e nem nas noites após essa. Não para dormir, pelo menos.

Sasuke respirou fundo, irritado. Lá estava ela, tomando café como sempre, lendo seu livro na mesa. Exatamente como fazia todas as manhãs. Mas, desde a última briga, Sakura não tirava os olhos do livro e sorria para ele. Ou comentava sobre alguma atitude da heroína. Ele até estava curioso sobre o que estava acontecendo no livro – teria Kate descoberto o assassino? -, de qualquer modo, Sakura não estava se comportando como ela mesma.

Não que ele pudesse exatamente reclamar sobre isso. Não tinha o que reclamar, exatamente. Ela não levantava a voz – na verdade quase não conversava com ele -, não gritava, não tomava seu copo de uísque, não invadia seu escritório, não se intrometia em nada e ficava fora do seu caminho o dia todo. Mas também não ficava na sua cama após transarem.

Queria ele poder reclamar sobre isso, mas na cama Sakura continuava a mesma, repleta de fogo e caricias, gemendo e chamando seu nome. Mas, no segundo em que acabava, ela se levantava, se vestia e voltava para o próprio quarto.

Por Deus, ele sentia falta do seu cheiro. Sentia falta de acordar com ela nos seus braços, ou do modo como ela sorria todo dia de manhã, assim que abria os olhos. Sentia falta de ver a luz do sol iluminando seu corpo nu, ou de como seu cabelo longo se espalhava pela cama. Sentia falta da sua gargalhada, ou como virava o copo de qualquer bebida que fosse, sem fazer uma única careta. Ou quando entrava em seu escritório e se sentava no seu colo, apenas para lhe provocar um pouco. Sentia falta de se afundar nela durante o dia, nos cômodos menos adequados, dos arranhões que ela deixava em sua pele, até mesmo sentia falta do modo como ela lhe manipulava para conseguir o que queria.

- Poderia não ler na mesa? – perguntou, tentando lhe provocar.

Sakura odiava que lhe dissessem o que fazer, e só de pedir que largasse seu livro, sabia que ela ficaria irritada. Mas não ficou. Apenas marcou a página em que estava e o fechou, deixando-o sob a mesa.

Maldição.

- Sinto muito – falou, mantendo seus olhos no próprio prato.

Sasuke sentiu vontade de gritar com ela, gritar até que ela gritasse de volta. Queria que sua esposa voltasse ao normal, que parasse com essa idiotice de se comportar como uma mulher submissa. Ele queria ver aquele fogo nos olhos dela, ouvir suas palavras de sarcasmo, ele queria...

Droga.

Se ela não iria voltar ao normal por si própria, então ele iria lhe irritar até que ela não aguentasse mais.

- Quero que queime todos os seus livros – falou, por impulso.

Sabia que ela amava a biblioteca mais do que tudo. Amava cada livro, mesmo quais não gostava, ela amava. Eram seus livros, e ele sabia que se isso não a tirasse do sério, nada tiraria.

Sakura olhou para ele, e durante míseros segundos ele conseguiu identificar ódio em seus olhos verdes, exatamente como ela lhe olhava quando estava pronta para brigar. Mas logo seus olhos ficaram sem vida, e ela concordou com a cabeça.

Por Deus, o que estava acontecendo com essa mulher?

Com raiva, Sasuke se levantou, saindo da mesa. Não sabia o que fazer com ela, e por estar irritado achou melhor sair um pouco.

Na última vez que ficou com raiva, acabou causando essa briga. Pelo menos parcialmente, e já tinha uma semana que ela estava assim.

Uma maldita semana.

O Canalha PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora