24. Capítulo XXIV - Beleza indestrutível

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CAPÍTULO XXIV – BELEZA INDESTRUTÍVEL


Não estava conseguindo se concentrar.

Suspirando, ele largou os papéis na mesa e esfregou os olhos. Quase não havia dormido, de tão irritado que estava, e agora conseguia estar ainda pior. Sakura, obviamente, havia dado um jeito de fugir dele, alegando estar indisposta para ser incomodada por qualquer pessoa.

Provavelmente havia um estoque de comida nele quarto dela.

Sakura não ficaria sem comer nem mesmo se sua vida dependesse disso. Retirando seu comportamento irritante por causa daquela discussão idiota, Sakura estava bem, em todos os sentidos da palavra. Ela comia muito, passeava no jardim, andava a cavalo, e antes de queimar seus livros, ela também estava lendo bastante.

Já o duque estava mais afetado pela distancia dos dois do que achou que seria capaz. Ela era na melhor e na pior das hipóteses, sua melhor amiga, o que nem sequer fazia sentido, pois Sasuke nunca teve qualquer amiga do sexo feminino.

Mas tinha ela.

E por mais que sentisse falta do sexo, ele sentia ainda mais falta de olhar para o lado e vê-la lendo. E de ouvir sua voz, e as suas risadas, ou de como ela resmungava.

Sasuke daria tudo para sentir seu cheiro, mas ele parecia ter evaporado de todos os cômodos, como se ela nunca houvesse pisado lá.

O duque havia até mesmo mandado colocar um sofá para ela perto da janela do seu escritório, com uma mesa para que Sakura conseguisse colocar seus petiscos e as suas bebidas, sem se preocupar em derramar nos livros.

E ela passava toda a tarde ali, sentada com as pernas no sofá, usando sempre meias de seda, como se quisesse provoca-lo. Mesmo que não fizessem nada, Sasuke gostava de tê-la ali. Ele não havia mentido quando disse que se concentrava melhor ao olhar para ela, porque quando estava longe, não conseguia tira-la da sua cabeça. Pelo menos com ela ali, saberia onde encontra-la, e não ficava fantasiando sobre onde ela estaria, ou que vestido usava, ou o que fazia naquele momento.

Na última semana, porém, ela não entrou ali nenhuma vez.

O livro ainda estava na sua mesa, e o copo em que ela bebeu suco estava ao lado do sofá, intacto.

Sasuke não queria que ninguém limpasse, apesar de saber que isso era muito anti-higiênico. Logo logo surgiria bichos, mas ele não conseguia se forçar a se livrar das últimas lembranças dela ali. Ela tinha colocado o copo de vidro naquela posição. Ela tinha jogado as almofadas para a parte do meio do sofá, para que pudesse apoiar as pernas. Ela colocou a manta rosa no encosto, totalmente torta porque estava com preguiça de mudar de posição.

Isso era patético.

Sasuke Uchiha havia atingido um novo nível de auto piedade.

Suspirando, ele se forçou a continuar.

Não tinha muitas escolhas, pois era domingo e geralmente passava na companhia da esposa. Sem roupa. Como ela ainda estava trancada dentro do quarto, suas opções eram trabalhar ou enlouquecer batendo na sua porta.

Quem sabe se ela pensasse que ele tinha esquecido, saísse mais rápido. E com isso em mente ele voltou a trabalhar, pulando a hora do almoço. Pelo jeito o seu apetite não era tão bom quanto o dela, pois havia diminuído desde que brigaram, e agora ele simplesmente não sentia fome.

Extremamente injusto, claro, porque ela não estava afetada em nada. Sakura continuava linda, talvez ainda mais bonita do que quando a conheceu, se é que isso era possível.

Irritado com ela e com a sua beleza indestrutível, ele continuou lendo, até quase escurecer. Perto da hora do jantar, escutou batidas na porta, e mesmo sem ver, soube que era a governanta, do mesmo modo que ela o chamou para o almoço mais cedo.

- Entre – ordenou.

A porta se abriu, e a mulher baixa entrou, arrastando seu vestido pelo chão. Ela nunca fazia isso, pois sempre estava com a coluna endireitada.

- Senhor? – chamou, com a voz tremula.

Isso captou sua atenção.

A governanta parecia assustada.

- O que foi? - perguntou, mas ela ficou em silencio - Diga logo.

A mulher engoliu o seco.

- A duquesa pediu para não ser incomodada.

Sasuke levantou as sobrancelhas. Já sabia disso.

- E?

- Fui levar algo para ela comer agora à noite, pois não é bom ficar o dia todo sem comer. Precisei usar a chave reserva para entrar, e esperei que ela estivesse deitada de repouso, mas ela não estava lá.

Então existia uma chave reserva e ninguém pensou em lhe dar? Sinceramente, esses empregados estavam impossíveis.

- Deve estar no jardim – respondeu por fim.

Ele devia saber que Sakura não passaria um dia todo no quarto, exceto se estivesse doente. Ela com certeza daria um jeito de sair um pouco.

A governanta negou com a cabeça.

- Os objetos pessoais dela sumiram, junto com algumas peças de roupa. Procurei no estábulo e sua égua não está lá.

Foi necessário muito auto-controle para não gritar. Respirando fundo, ele se levantou.

De uma coisa Sasuke tinha certeza: iria matar sua esposa teimosa assim que a encontrasse.





Seus olhos a acompanharam.

Movimentos lentos e calmos, como era o esperado dela. Ela sempre era calma e controlada, mesmo quando estava irritada. E ela estava, ele sabia que sim.

A conhecia melhor do que ninguém.

Sabia cada movimento seu, cada pensamento, mesmo antes que ela os tivesse.

Sakura era tão linda, e tão previsível. Às vezes chegava a ser triste e um pouco decepcionante. Ela devia ser melhor, ela devia ver mais, saber mais. Porém, sua noiva não era assim. Ela era emotiva, era impulsiva, e odiava ser enganada.

Se ela fosse mais inteligente, se ela fosse mais esperta, se ela houvesse se casado com ele, e não com aquele duque nojento, nada disso teria acontecido.

Não.

Não.

Não.

Ela não se casou com o duque. Sakura era sua noiva, não poderia ter se casado com ninguém além dele.

A coitada só estava confusa, era isso. Ela só estava confusa. Tudo bem, ele não se importava. Cuidaria dela, faria tudo ficar bem, e ela não precisaria mais se preocupar com nada.

Ele cuidaria de tudo.

Ele sempre cuidava.

Sua carruagem diminuiu a velocidade, e ele fechou a cortina, se encostando no estofado. Estava escurecendo, e ela nunca para ao escurecer. Sakura conseguia cavalgar por dois dias seguidos, se assim lhe permitissem, mas ela não era cruel, e por isso era previsível.

Ao amanhecer sua noiva pararia, descia do cavalo para que o animal descansasse, e daria água e frutas para o bicho. Ela iria sentar na grama para comer, exatamente como sempre fez, e então ele iria se aproximar.

Sakura não fugiria dessa vez.

Dessa vez, ela não escaparia das suas mãos.

Dessa vez, ele estava preparado.

Segurando a arma com força, ele adormeceu. Já havia sonhado diversas vezes com tê-la em seus braços novamente, e agora, tudo estava prestes a acontecer.

O Canalha PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora