CAPÍTULO II – UM BRILHO NOS OLHOS
O acordo com seus pais era bem simples, na verdade. Após anos e anos de discussão, finalmente havia conseguido convencer ambos: se não encontrasse ninguém até o final do quinto ano com debutante, receberia seu dote e a casa de campo na qual crescera, e eles lhe deixariam em paz. Seu pai havia sido mais fácil de convencer, afinal, ele só estava preocupado em que ela tivesse alguém para cuidar de si quando fosse embora, mas Sakura conseguiu provar que era capaz de cuidar de si mesma, e logo seu pai concordou. Sua mãe, entretanto, havia tido uma vida diferente da sua, uma infância difícil, considerando que o pai morreu quando ela ainda era jovem, e ela teve que crescer como uma mulher sozinha, sem um homem para cuidar da família. Sakura não sabia muito sobre como a mãe crescera, afinal, a Condessa evitava falar muito sobre o assunto, apesar de sempre ter demonstrado orgulho de suas raízes. De qualquer modo, a mãe havia sido mais difícil de convencer, e por isso colocou algumas condições, como por exemplo ela não poder dizer não a um pedido de casamento.
Sua única opção, portanto, era impedir eles de fazerem o pedido, os assustando ao máximo, no menor tempo possível. Não que isso fosse um desafio. Bastava fazer um comentário sobre a economia, ou sobre como amava a temporada de caça, ou como passava suas tardes cavalgando de calças de couro. Qualquer comentário desses era o bastante para fazer os homens desistirem. Exceto Naruto. O bendito parecia não se intimidar com nada, apenas ria, como se ela estivesse fazendo algum tipo de brincadeira. Talvez ele realmente acreditasse que tudo não passava de uma piada. De qualquer modo, após o acontecimento no fim da última noite, qualquer homem deveria ter saído correndo.
Mas, assim que chegou no baile, soube que não teria essa sorte. Naruto já lhe esperava, sorrindo. A vontade de revirar os olhos foi grande, mas Sakura tentava se comportar o melhor possível para não envergonhar a mãe. A mãe, que inclusive foi sorrindo cumprimentar o filho do marques.
- Era só o que me faltava... – resmungou baixinho.
- Tente não cuspir no rosto dele de novo, minha querida – seu pai sussurrou em seu ouvido.
Quando lhe olhou, viu um sorriso discreto em seus lábios, e foi impossível não corresponder. Sempre havia sido mais próxima do pai do que da mãe, talvez porque seus interesses eram os mesmos, ou porque ele não tentava torna-la algo que não era. De qualquer modo, ele era a única pessoa com quem conseguia ser ela mesma, sem se sentir deslocada ou estranha, sem receber um olhar reprovador ou alguma crítica. Sakura não queria se casar, não queria ser submissa a um homem, um homem que dificilmente seria mais inteligente do que ela, mas, se seu pai pedisse, ela se casaria ainda essa noite, com quem ele escolhesse. Mas ele nunca lhe pediria isso, e talvez fosse por esse motivo que ela o faria. Seu pai era o único homem que respeitava sua opinião, o único que não lhe considerava uma propriedade, o único que colocava sua felicidade em primeiro lugar. Só de olhar para ele ela sentia uma vontade de chorar e de agradecer a Deus por ter tido a sorte de tê-lo como pai. Qualquer outro homem já teria lhe obrigado a casar, mas não ele.
- Foi sem querer – respondeu, dando os ombros discretamente.
- Já lhe peguei bebendo uísque direto da garrafa, e quando me viu você simplesmente engoliu tudo, sem deixar cair uma gota, e depois sorriu, orgulhosa de si mesma.
Ela deu os ombros novamente.
- Ele me assustou.
O Conde abriu um longo sorriso.
- Uma ratazana invadiu seu quarto e pulou no seu rosto, e você nem sequer gritou.
Sakura colocou a mão em cima do peito e fingiu estar magoada.
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O Canalha Perfeito
RomanceTodas as debutantes da sociedade londrina desejam ardentemente se casar, preferencialmente com um nobre, principalmente se o nobre em questão for o filho do marquês, Naruto Uzumaki, dono de um belo par de olhos azuis e um sorriso gentil que faz dama...