25. Capítulo XXV - Com amor

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CAPÍTULO XXV – COM AMOR

Suas botas bateram contra a grama, e ela suspirou, movendo os ombros devagar. Depois de quase vinte e quatro horas de cavalgando direto, ela se sentia exausta.

Os olhos verdes se fecharam durante alguns segundos, apenas para descansar, e ela os forçou a abrir.

Não podia parar, não ainda.

- Estamos quase lá... – sussurrou para a égua, acariciando sua crina.

Em movimentos lentos, ela caminhou, levando o animal consigo. O dia já tinha amanhecido, mas ainda era possível ver o céu em um tom mais escuro nas bordas, indicando que não se passava das sete ainda.

Se aproximando da árvore, ela soltou a sela, tirando o peso das costas do animal. Princess era acostumada a correr muito e descansar pouco, e no geral sempre ficava agitada presa dentro do estabulo por ter muita energia acumulada. Não era o caso de hoje, que após um percurso longo e apenas duas pausas curtas para comer e beber água, o animal estava exausto.

Sakura também estava.

Felizmente, estava a poucas horas da sua casa de campo, quase no limite da propriedade, e conhecia muito bem a região.

A égua também, e por isso foi direto ao riacho perto dali.

Sakura a observou se afastando, e tentou sorrir.

O céu estava lindo, o ar estava puro, a grama bem verde e a vista era de tirar o fôlego: montanhas e montanhas verdes, um longo rio não muito longe, animais pequenos passeando entre as árvores, e o único som era o da água correndo e os pássaros cantando.

Geralmente, ela gostava dessa vista mais do que tudo. Geralmente, ela só sentia paz.

Mas hoje estava arrasada e não conseguia aproveitar. Sakura não era de se abalar com muita coisa, e conseguia suportar até a situação mais irritante e constrangedora, como foi o caso da última semana. Sabia que estava exagerando, sabia porque não era estupida, mas também sentia a necessidade de dar ao seu marido exatamente o que ele havia pedido: uma mulher submissa.

Entre ficar irritada e querer fazê-lo admitir que estava errado, fazê-lo dizer que queria ela e somente ela, do jeito que sempre foi, Sakura nunca pensou que ele podia simplesmente não se importar.

Pior, nunca pensou que ele poderia traí-la.

Tudo bem que estavam passando pela primeira briga, e havia sido uma briga bem feia e desnecessária, qual geralmente ela teria tentado resolver se não fosse pela fala infeliz do duque. Mas traição?

Ele tinha prometido.

Como pode?

Como ele ousava manter uma amante? E ainda por cima no maldito primeiro mês de casamento? Que ele era um canalha todos sabiam. Por deus, ela mesma sabia disso no momento em que fez aquele acordo, na verdade, esse foi um dos fatos que fizeram Sakura acreditar que ele era o homem perfeito para ajuda-la. Mas não achou que ele iria traí-la.

Bom, ela havia pensado no assunto, mas não quis acreditar. Não até voltar ao seu quarto dois dias atrás, após queimar todos os seus livros – maldito fosse o duque – e encontrar aquele bilhete no papel cor de creme passado por baixo da sua porta.

Obviamente haviam confundido os quartos, pois isso era bem fácil de acontecer. Sakura nem mesmo planejava ler, pois estava chateada, irritada e com fome. Mas ao observar a caligrafia elegante e sentir aquele cheiro de perfume feminino, não conseguiu se controlar.

Talvez devesse ter ignorado.

Era melhor não saber? Era melhor permanecer ignorante?

Com um suspiro, Sakura se sentou na grama, apoiando o corpo na árvore. Estava faminta, mas o alimento já estava acabando. Não importava, logo estaria em casa.

Logo ficaria tudo bem.

Seus planos, no final, só foram levemente adiados, e ela podia ser feliz sozinha. Podia ser feliz sem ele, tinha certeza disso. Então por que ficava tão chateada com a possibilidade de nunca mais deitar na sua cama? Ou ouvir sua voz? Ou simplesmente vê-lo?

Não podia perdoa-lo por fazer a única coisa que ela realmente não queria que ele fizesse. Não podia perdoa-lo por ter outra mulher, mas queria.

Isso era ridículo e patético.

Sakura nunca aceitaria amantes, e não iria mudar por causa dele. Não seria esse tipo de mulher: melhor ser infeliz sozinha do que ser infeliz casada.

Mordendo uma maça que já estava muito macia para o seu gosto, ela buscou o bilhete na bolsa. Não cansava de ler, talvez porque quisesse se machucar, ou talvez porque quisesse um lembrete que estava fazendo a coisa certa.

Tinha que estar fazendo, pois qual era a outra possibilidade?

Sasuke realmente não tê-la traído?

Essa ideia era extremamente tentadora, e a vontade de acreditar se tornava maior a cada segundo. Mas tudo indicava que sim, ele mantinha a amante.

Primeiro aquelas contas, e depois o recadinho amoroso e romântico, que obviamente não foi deixado por ela. Abrindo papel, ela voltou a ler, mesmo que já houvesse decorado cada palavra.


"Querido duque,

Realizei aquelas compras que combinamos, e devo lhe dizer que o milorde irá apreciar imensamente. Estou com saudades, e aguardo o seu retorno a Londres.

Com amor, sua lady"


Com amor? Com amor?

Cretino miserável.

Maldito fosse ele por mentir, e maldita fosse ela por acreditar.

Engolindo a vontade de chorar, Sakura bufou, enfiando o papel dentro da bolsa novamente.

Não iria chorar por ele, definitivamente não iria. Não chorou nesses últimos dias, nem mesmo quando quase morreu de vontade, e não choraria agora.

Ela seria forte, como sempre foi, e iria superar isso.

Mordendo a maça novamente, ela fez uma careta. Queria uma torta de morango. Não, ela precisava de uma torta de morango. A dispensa provavelmente estaria vazia, já que ela não planejava ir para lá tão cedo, mas isso era facilmente resolvido: precisava ir ao vilarejo, comprar algumas coisas. E faria uma torta ainda essa noite.

Enfiando a maça comida na bolsa, ela se levantou, decidida a terminar o percurso o mais rápido que conseguisse, para que pudesse comer em breve. Procurando a égua com os olhos, Sakura se manteve parada.

Onde estava o animal? Podia jurar que o havia visto poucos instantes atrás. Elas nem haviam parado por muito tempo, apenas por uns cinco minutos para que pudessem descansar.

E Princess era treinada desde pequena, nunca a deixaria sozinha, mesmo se estivesse solta.

Dando alguns passos para frente, ela esticou o pescoço para tentar encontra-la.

Em vez do cavalo, um homem saiu de trás das árvores. Ela não era uma especialista, mas conhecia um andar arrogante quando via um. Sakura ajeitou o braço, para esconder a roupa que usava, e então o observou atentamente.

Ela franziu as sobrancelhas. Algo naquele homem encapuzado era familiar. Ele parou a poucos metros de distancia, e ela tentou ver o seu rosto, mas era impossível devido ao capuz.

Quando a arma apareceu por baixo do sobretudo negro, ela deu um passo para trás. Ele balançou a arma, mas não se moveu, como se apenas quisesse mostrar que estava armado.

Com a mão livre o homem retirou o capuz, revelando os cabelos negros e o rosto pálido.

- Sai... - sussurrou, sentindo o sangue sumir do seu rosto.

Ele sorriu, mostrando os dentes e transformando seus olhos em fendas.

- Sentiu minha falta, querida? – perguntou, com o sotaque arrastado.

O Canalha PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora