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🖇 | Boa leitura!

— Sinto como se eu tivesse sido obrigada a crescer antes do normal

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— Sinto como se eu tivesse sido obrigada a crescer antes do normal. E não tem como recuperar a infância, na verdade eu mal sei como funciona a vida de uma criança de verdade. Eu tenho o meu instituto, mas eu mal piso lá. Acho que tenho medo de enfrentar o sofrimento deles e acabar tendo que encontrar memórias do meu. Por muito tempo eu sequer fui capaz de olhar para você como um ser humano. Para mim só existia pura maldade em você e naquele monstro. Não havia o que entender. Mas e se for exatamente isso que não me deixa em paz? E se eu precisar entender para deixar tudo no passado?

Ainda encarava o pôr do sol à minha frente, incapaz de olhar a mulher ao meu lado. Decidir estar ali não foi uma tarefa fácil e foi necessário deliberar por muito tempo na minha última sessão de terapia para decidir que era o que eu precisava. Toda a minha vida foi muito injusta e eu nunca quis entender o motivo de as pessoas me tratarem como me trataram. Em relação ao meu pai, não havia dúvidas de que ele era apenas um doente. Mas a minha mãe era uma peça que me deixava em dúvida.

Por um lado, Amy foi extremamente agressiva e ausente a maior parte do tempo e eu não lembro de um só dia em que ela não estivesse chapada. Por outro, eu realmente não a conhecia. Sabia que o meu pai também a tratava com violência e agora, que tenho um olhar mais maduro, vejo que talvez ela preferisse se drogar do que enfrentar o mundo real por alguma razão. Ele fez isso com ela ou foi o passado? Talvez um conjunto de traumas.

— Não estou aqui para te perdoar, eu só acho que era imatura demais e incapaz de enxergar coisas que deveriam estar nas entrelinhas. Eu tenho muitas dúvidas.

— Estou disposta a respondê-las.

Olhei para o meu colo e comecei a apertar a barra da minha saia de maneira nervosa. Fazer aquilo não iria ser fácil, mas eu precisava virar essa página ou fechar o livro de vez.

— Por que você se drogava?

Ouvi ela respirar fundo e soltar o ar por poucos segundos.

— No começo por diversão, depois para ter energia e depois... Não sei... Não lembro de boa parte da vida depois de me viciar. Mas sei que quando estive devidamente sóbria eu fiquei apavorada, como se alguém tivesse me arrancado à força do país das maravilhas onde eu estava vivendo. Acho que no final eu tinha medo de ter que lidar com a merda de vida que eu tinha.

— Quando começou?

— Logo depois que você nasceu. Eu tive depressão pós-parto e não conseguia parar de pensar em te jogar pela janela toda vez que você chorava no berço. Não tinha dinheiro para terapia, então eu comecei com o álcool e depois fui para coisas mais fortes até chegar à heroína. Eu me dopava pra impedir a mim mesma de te fazer algum mal.

— Quando você percebeu que ele... — não consegui terminar, mas ela entendeu.

— Você tinha quatro anos. Eu vi...

First Lady ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗOnde histórias criam vida. Descubra agora