Vou até a área externa da casa onde Roger está. Ele resolveu fazer um churrasco para jantarmos, já que não estou animada para sair depois das notícias que tive.
— Está tudo bem? Percebi que você não comentou nada pra ela — ele diz se aproximando da bancada onde estou.
— Não quero estragar a lua de mel deles. Eu sei que se contar, eles pegam o primeiro voo e vem pra cá.
— Isso é verdade — ele caminha até a cozinha e pega uma travessa com carnes. — E como você está se sentindo?
— Eu não entendo! Uma hora o médico diz que meus exames estão perfeitos e em outro não estou produzindo folículos suficientes. Me sinto frustrada.
— Mas lembre-se do que ele disse. Isso pode ter acontecido por conta do estresse, anticoncepcional — eu o interrompo.
— O problema sou eu e aquele... — meus olhos se enchem de lágrimas.
— Ei! Não pensa nisso — ele segura meu rosto. — Claro que o problema não é você...
— Claro que é Roger... Que droga, estava tudo dando certo. Tudo!
— Só não era pra acontecer agora, assim... — ele diz. — Nem sempre a vida sai como planejamos e isso não é ruim. Às vezes o momento não é o ideal.
O encaro.
— Estou esperando isso desde... Roger — choro. — Tenho me preparado psicologicamente e financeiramente, eu não vou aguentar se mais uma vez...
— Eu sei — ele me abraça forte e fica agarrado a mim até que eu me acalme. — Olha pra mim. Promete que você não vai desistir. Ficaremos aqui até ter uma decisão concreta do que aconteceu.
— Não Roger! Eu não posso fazer isso, você já está aqui comigo e não tem obrigação nenhuma em continuar... — ele me interrompe.
— Aqui é exatamente onde eu quero estar.
Um silêncio monstruoso se instala entre nós. Roger me acalenta com total carinho e eu me sinto bem por estar envolvida em seus braços. Seus carinhos ficam cada vez melhores. Entretanto, durou apenas alguns minutos, pois seu celular começa a tocar. Ele o pega e atende ali mesmo onde estamos.
— Oi mãe... sei... amanhã... vou estar esperando-a lá... pode deixar mãe, não vou esquecer...ok, também não vou esquecer de comprar... ela está aqui comigo. — Ele puxa o celular para fora do rosto e diz: — Minha mãe está mandando um beijo.
— Mande outro meu pra ela.
— Ela está mandando outro, mãe.... Pode deixar eu não vou esquecer — ele diz revirando os olhos. — Já avisei a companhia aérea. Ok, também te amo. Tchau! — ele desliga o celular e respira fundo.
— Está tudo bem? — pergunto.
— Sim.... Meu chumbinho chega amanhã à tarde. — Ele diz me fazendo sorrir deixando-me mais tranquila.
— Não a chame assim, Roger.
— Você ainda não a ouviu me chamando de papai chumbo, né?! Se eu sou o chumbo ela é a chumbinho. — Gargalho.
— Ela não está com medo de vir apenas com a companhia de uma aeromoça, já que sua mãe não poderá vir? Está tudo bem? Aconteceu algo para que ela não venha mais?
— Na verdade nós fechamos há alguns meses a compra de uma casa, mas somente agora a papelada ficou pronta, então ela precisa autenticar uns documentos, fazer recibos de outros, pedir autorização para as obras que queremos fazer. E isso tudo isso exige a presença dela, ou vira uma bagunça. E quanto a Nina, é uma responsabilidade e tanto, mas ela já viajou assim outras vezes. E eu confio muito nessa companhia. Tenho amigos que trabalham nela e eles sempre supervisionam pra mim.
— Eu não sei se conseguiria deixar minha filha viajar sozinha. Você é louco... Tudo bem que eu já fiz isso, no caso a filha era eu. Cansei de ir e vir para Miami sozinha, só acompanhada por uma aeromoça. Tem pai que é louco, né?! — digo e ele sorri me puxando de volta para seus braços.
— Pois é, tem pai que é louco. Mas eu tenho pena mesmo é da aeromoça que te acompanhava, a coitada se não morreu, deve fazer tratamento psicológico até hoje.
— Roger!! — eu o repreendo e ele sai rindo.
Eu o sigo até a adega. Pego uma garrafa de vinho tinto e me sirvo com uma boa taça. Roger me observa atentamente enquanto saboreio o vinho.
— Nossa, parece que estou há séculos sem beber.
— Boa escolha a sua — ele diz e eu lhe entrego minha taça.
— Vou pegar outra — ele segura minha mão e faz sinal de que não precisa.
Roger bebe um pouco do vinho e me entrega a taça.
— Você tem certeza que vai beber esta noite? — balanço a cabeça afirmando.
— Não quero pensar nisso agora. Quero esquecer tudo o que está acontecendo e aproveitar a noite, o jantar e a companhia. Então me darei o prazer em desfrutar essa garrafa.
Ergo minha taça ao ar como se fizesse um brinde a isso e vejo-o sorrir e acenar com a cabeça. Sento-me próximo a piscina e apenas observo Roger cuidar de tudo. Às vezes me pego pensando que não seria má ideia dividir o mesmo teto que ele, porém, sei que se fossemos um casal as coisas seriam bem diferentes. E meu maior medo são as brigas desnecessárias, cobranças sem fundamentos e ciúmes exagerados e até desastres como no passado. E assim do jeito que estamos está ótimo, não rola brigas, ciúmes, beijos, sexo... É não está tão bom assim! Sexo e beijos poderiam rolar.
— Seu pai ligou? — ele pergunta sentando ao meu lado e me tirando de meus pensamentos.
— Ligou mais cedo, disse para aproveitarmos a casa e ordenou que fizéssemos compras decentes.
— Compras decentes? — ele pergunta confuso.
— Da última vez que passei uns dias aqui, as únicas compras que fiz foram de pizza, enlatados e comidas prontas. E quando não comia isso, eu ia a fast food. Meu pai é da vibe saudável de natureza e acredita que eu deveria experimentar comer alimentos mais saudáveis. Ele acha que passo o mês inteiro a base de pizza e coca cola. — Reviro os olhos.
— E você passa?
— Claro que não, né! Amo cozinhar e sempre faço pratos considerados saudáveis. Você nunca participou dos meus jantares — digo como se estivesse me recordando de que, sim, ele nunca jantou em minha casa.
— Você nunca me convidou — ele me encara. — Só pra ficar claro.
— Precisamos mudar isso então — digo e beberico meu vinho.
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Vidas Cruzadas ( COMPLETO)
RomanceAlícia tem uma vida tranquila, harmoniosa e rodeada de pessoas que a ama, mas nem sempre foi assim. Hoje ela é uma mulher determinada a realizar seus sonhos e conquistar seus objetivos. Entretanto, os traumas do passado a fizeram desacreditar no amo...