Capítulo vinte e três

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— Olá querida! — ele se senta na cadeira ao lado de mamãe e sorri. — Gostou da surpresa?

— O que Benjamin Louis Carter II, faz no Brasil? Veio matar de susto a única filha?

— De susto eu não garanto, mas de desespero quem sabe... Ah vamos lá, me dê aqui aquele abraçado apertado.

Papai levanta-se novamente e eu o abraço. Confesso que fiquei feliz em vê-lo. Por mim moraríamos todos no mesmo país. Mesmo com todas as loucuras do senhor Carter.

— Vocês querem me contar algo, é isso? Por isso esse almoço, a mentira mais cedo quando me ligou e disse que estava em uma feira em Miami? Ontem quando me ligou em chamada de vídeo? Que exemplo eim, mentindo para sua filha.

— Eu vim mais para você nos contar. — Meu pai então dispara um turbilhão de frases. — O que tem feito? Por que você não quer construir uma família com meu genro? Como vai o trabalho? E seus exames como estão?

— Isso é um interrogatório? — sorrio, mas vejo o semblante preocupado da minha mãe e a cara de poucos amigos do meu pai. — Gente! Está tudo bem comigo.

— Alícia, você saiu do Brasil com o intuito de ser mãe e voltou com um namorado, sem estar grávida e com exames que até então estavam certos, mas que sei lá por qual motivo deram errado. Imagino que sua cabeça esteja uma bagunça. — Mamãe diz.

— Ok! Não estou nos meus melhores dias, apenas tentando entender o que está acontecendo comigo. E não é que eu não queira construir uma vida com o Roger, eu adoraria fazer isso, só não quero criar expectativas de uma vida a dois quando nem eu mesma acredito que isso vá dar certo.

— Acreditar você acredita. Só não se permite por medo, por ainda se sentir insegura em confiar novamente em alguém. — Meu pai responde.

— Roger é completamente diferente do Otávio, meu amor. Ele jamais magoaria alguém, principalmente se esse alguém for a filha e você. — Minha mãe completa.

— Eu sei...

Fico em modo pensativo durante todo o almoço, entretanto, não deixo que meus pais percebam que divago em pensamentos vez ou outra. Sinto que meu pai não veio ao Brasil somente para me ver, acredito que há mais surpresas dentro desta viagem, só não sei o que ainda.

***

Sento-me e me deparo com meu reflexo no espelho que há de frente a minha cama. Carina chegará em poucos minutos, mas não é isso que me preocupa e sim o teste de gravidez que decidi comprar na volta para casa e que agora está a poucos segundos de seu resultado. Minhas mãos suam, mesmo com a certeza que um positivo seria impossível. Ou não? Meu coração bate como se eu estive prestes a pular do alto de um precipício.

A campainha toca.

Corro até a porta logo depois de esconder a canetinha embaixo de uma almofada.

— Que cara de pânico é essa? — Carina diz.

— Entra e me segue. Eu preciso ver o resultado.

— Resultado do quê? Você já fez o exame, pois eu comprei um para fazermos.

Carina me segue a passos lentos, enquanto eu disparo até minha cama. Pego a tirinha e fecho meus olhos criando coragem para olhar. Viro-me ainda de olhos fechados em direção a Carina que fala algo que não escuto, pois, as batidas do meu coração e minha respiração entrecortada não me permitem ouvir mais nada.

Abro os olhos e fito-os de Carina.

— Acho que nós duas estávamos com o mesmo pensamento.

— Comprei no caminho pra cá. — Ela sorri. O que me faz sorrir também. — Vamos tirar logo essa dúvida amiga. E depois eu te ajudo a resolver o que fazer.

— Certo!

Carina segura minha mão me dando apoio como sempre fez em todos os momentos da minha vida. E quando dois risquinhos são visualizados por nós, ela me abraça contente.

— Eu sabia! — ela diz eufórica.

Não sei se choro de felicidade ou de desespero ao ver as duas tirinhas.

— Cá, eu tô grávida?!

— Sim amiga! Gravidíssima! Nossa que felicidade!

Carina bate palminhas, eufórica pela novidade.

— Cá, mas como?

— Alícia, para que você sabe como. Você e Roger devem ter usado e abusado um do outro naquelas miniférias em Miami.

— Eu tomei a pílula e depois passamos a usar camisinha.

— Você tem certeza que tomou a pílula?

— Claro que tenho! Não iria confundir uma pílula com uma bala, por exemplo. — Sorrio de nervoso.

— O que importa agora é que você está grávida! Nós precisamos pensar em tudo. Em como contar ao Roger, ele é o pai né?

Arregalo os olhos para minha amiga que em seguida me responde em meio a gargalhadas.

— Ué! Vai saber se você não foi dopada, colocada em uma sala, te inseminaram e você não sentiu nada. Ou quem sabe você não foi fazer exame ginecológico e acabou fertilizada. É esse o termo que usa? — Carina gargalha mais uma vez.

— Hahaha! Muito engraçado. — sento-me olhando as tirinhas vermelhas. — Eu tô grávida, Cá. Grávida! Você consegue perceber a dimensão disso? — deixo as lágrimas caírem por meu rosto.

Neste momento existe uma intensa vontade de gritar, chorar, sorrir, pular... Não sei como me sentir diante do presente. Como desejei que este dia chegasse, como me preparei para estar neste exato momento, mas nada foi como o planejado.

— Foi exatamente isso que você sempre quis, amiga. E por mais assustador que seja o agora, tudo isso vai passar e a alegria vai chegar.

— Não foi assim que imaginei. Não foi assim que planejei, Cá

— Mas foi assim que Deus quis que acontecesse, Alícia Carter! Não venha me dizer que não está feliz com a notícia?!

— Eu estou, Cá, muito feliz. Mas a ficha ainda não caiu...

— Eu imagino, amiga, mas pode abrindo um sorriso e se animando, pois, hoje é dia de comemorar!

— Ok, dona Carina!

Sorrio como minha amiga ordena, mas lá no fundo me bate o desespero. Como será que o Roger vai reagir à notícia. Conto agora ou espero mais um pouco? Talvez eu deva ir embora e só voltar depois que a criança nascer. É! Talvez eu faça isso.

— Alícia?! — Carina me tira das minhas divagações.

— Oi?!

— Nada de fugir, se esconder, fingir demência ou férias de última hora, ok?

— Eu não estava pensando em nada disso. — Sorrio.

— Aham, sei. Ele não é o Otávio e nada de ruim vai acontecer a vocês dois. Eu prometo. — Carina coloca sua mão sobre minha barriga e depois me abraça.

— Nem eu sou mais a Alícia do passado, Cá. Não irei permitir que nada nem ninguém nos faça mal.


Vidas Cruzadas ( COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora