Vidas Cruzadas ( COMPLETO)

Capítulo vinte e quatro

Carina e eu ficamos separando as roupas que preciso levar para o QG e entre peças esportivas, românticas, de alta costura e street, eis que só uma única peça interessa à Carina.

— Amiga, imagina você e o baby com roupas iguais?! Nossa! Pensa só em quantas ideias podemos criar. Mal vejo a hora de irmos comprar looks mamãe e bebê. — Ela suspira.

— Já pensou em ter um?! Assim você pode combinar os seus looks. — Gargalho com sua careta.

— Sabe que não é má ideia. Assim seríamos duas amigas grávidas comprando e montando looks iguais. Nossos filhos seriam amigos como nós duas. Vão estudar no mesmo colégio... acho que vou pra casa agarrar o maridão!

— Super apoio! — sorrimos.

Depois de termos ajeitado tudo, Carina vai embora e me deixa ciente que devo contar ao Roger, para juntos decidirmos o que vai acontecer. Caminho para cozinha e começo a preparar o jantar. Lavo folhas para a salada, e faço lasanha a bolonhesa com molho branco, mas é com o aroma de tempero que meu estômago embrulha e agora, mesmo com náuseas, me sinto feliz por saber o real motivo do meu mal-estar.

Roger assim que chegou, vai direto tomar um banho e quando volta para a cozinha, estou finalizando o jantar.

— O aroma está delicioso. — Ele diz.

Roger segura minha cintura e sela nossos lábios. Faço carinho em seu cabelo e retribuo seu abraço apertado.

— Espero que esteja tão delicioso quanto o aroma. Está quase pronto e podemos jantar daqui uns minutos.

— Que tal antes, nós nos sentarmos um pouco e conversarmos?

Congelo ao pensar em uma conversa com Roger depois dessa tarde, mas não posso deixar de contar a ele. E mesmo que ele mereça uma surpresa, algo planejado com carinho, não seria eu se fosse cheio de purpurinas e paetês.

— Enquanto o queijo derrete, nós iremos sentar e conversar? Ok, combinado... Quer beber alguma coisa?

— O que você escolher.

Sirvo uma taça de vinho a ele e me sirvo de suco de maracujá. Quero me manter calma.

— Não vai beber uma taça comigo?

— Vou ficar no suco hoje. — Sorrio.

***

Roger e eu nos sentamos no sofá ao som de uma música internacional qualquer, cujo a letra e cantor não faziam a menor diferença agora. Eu só conseguia ouvir a voz que dizia no meu ouvido.

"Vai, conta a ele".

"O que você está esperando?"

"Só fala, esquece o restante".

"Anda logo".

— Roger?!

— Sim?

— É... e a Nina, como está?

— Nos falamos mais cedo, ela está doida pra te ver de novo. Disse que tem uma coisa pra te contar.

— Podemos marcar alguma coisa para fazermos juntas. Uma coisa só de meninas... — sorrio e beberico meu suco.

— Ela vai adorar. Mas, e você, como foi seu dia? E o almoço com sua mãe?

— Ah sim! Foi surreal. Meu pai está no Brasil...

— Sério?! Que legal. Quero encontrá-lo, tudo bem pra você?

— Claro que sim, ele até perguntou por você, e trouxe presentes para Nina.

— E o que ele veio fazer no Brasil?

— Segundo ele, bateu saudade, mas sei que quando se trata do Sr. Carter II alguma coisa ele está aprontando.

— E você acha que é sobre sua mãe? Você me contou que eles ainda mantêm contato. — Roger beberica seu vinho.

— Eu ainda não parei pra pensar no que pode ser. Tem muita coisa acontecendo agora...

— O que está acontecendo?

— Ah, trabalho... — caminho até o forno e o abro, retirando em seguida a travessa com a lasanha.

— Eu te ajudo.

Roger pega um pano de prato e retira a travessa quente das minhas mãos, a colocando em seguida em cima da mesa sobre o descanso de panelas. Em seguida pego os talheres e nos sirvo.

— Mas é só o trabalho que está te incomodando ou tem mais alguma coisa?

Respiro fundo.

— Não é que esteja me incomodando. Na verdade, eu não faço ideia do que estou sentindo ou de como deveria estar me sentindo.

— E por que isso?

Roger me encara receoso e por mais que mil pensamentos estejam passando agora em minha cabeça, eu só consigo pensar em uma única coisa.

CONTE!

É o que grita em minha cabeça.

— Roger... — respiro fundo — Eu ainda estou tentando assimilar o que está acontecendo. E eu poderia te dizer isso de outra forma, de outro jeito, mas nesse momento o único modo que encontrei pra te dizer é...

O nervosismo toma conta de mim e começo a tremer e chorar sem parar. Flashes do meu passado ecoam a minha volta.

— Alícia, o que está acontecendo? Estou ficando preocupado.

Roger me abraça tentando conter minhas lágrimas.

— Eu juro que não planejei — digo — E também não fiz de propósito. Eu só...

— Você o que, Alícia?

Encaro seus olhos preocupados com meu desespero e solto de uma vez.

— Eu estou grávida, Roger.

Ele tenta assimilar o que acabei de dizer, embora, as palavras parecem não fazer sentido.

— Você está grávida? Isso é sério, Alícia? Você tem certeza?

— Sim. Fiz o teste de farmácia mais cedo... Eu sei que parece impossível, mas...

— Nada é impossível, Alícia, nada nesse mundo é impossível...

Ele coloca gentilmente a mão sobre meu rosto e sela nossos lábios, para em seguida encarar meus olhos e dizer:

— Como você está se sentindo?

— Confusa.

— Você está feliz? Por que eu preciso saber, Alícia. Preciso ter certeza que você quer tanto quanto eu, essa criança.

Ouvi-lo dizer que quer essa criança, faz com que um pedaço do muro que criei ao meu redor de rache. Saber que ele deseja ter um filho comigo me enche de esperança.

— Eu estava com medo. E embora lá no fundo algo me dizia que você aceitaria, eu...

— Jamais duvidaria de você. Não depois de te conhecer como eu conheço. Não depois de ver tudo o que vinha sofrendo para chegar ao dia de hoje. Eu disse a você que te apoiaria e repito. Eu quero estar com você e te proteger de qualquer coisa que você ache que vá te acontecer.

— Você não existe, sabia?!

Roger me abraça e beija meus lábios em total carinho. E eu retribuo, pois neste instante meu único desejo é me deixar levar.

A comida ficou um pouco para segundo plano, Roger não quis mais falar de outra coisa que não fosse fazer planos para contar a família, amigos e principalmente a Nina. Ele achou melhor contarmos primeiro a ela e eu concordo, mesmo receosa de como ela realmente vai reagir ao saber que seu pai terá outro filho ou filha.