Capítulo quatorze

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Terminamos nosso iogurte e fomos dar uma caminhada por Lummus Park e aproveitar as sombras das árvores no calor que faz mesmo a tarde. Nina está aprendendo a falar inglês, então tudo o que ela vê, reproduz em som. E faz questão de nos perguntar o nome das coisas que não sabe. Ela é chamada por uma outra menina para brincar de fazer bolhas e nós nos sentamos no gramado para observá-la brincar.

— Você vai mesmo conosco para Orlando?

— Sim. Por quê?

— Pensei que talvez você quisesse ficar mais tempo por aqui e quem sabe resolver o que veio fazer. — Ele diz cabisbaixo.

— Sobre isso eu já nem sei. Acho que a gente precisa ter uma conversa...

— Também acho que sim, mas não agora. Quando voltarmos ao Brasil à gente senta e conversa sobre o que você quiser.

— Roger não pode ser assim. Nós estamos fazendo coisas que... — ele me interrompe.

— Eu sei exatamente o que a gente está fazendo. Eu só não quero pensar nas consequências agora. Eu sei o que comprou na farmácia e eu te apoio no que você achar que deve fazer.

— Como você soube? — Pergunto sem o encarar. Fixo meus olhos em Nina que brinca.

— Eu vi a cartela.

— Eu sei que talvez isso não faça diferença. Você viu meus exames, eu só não sabia como tocar nesse assunto com você sem que parecesse... Não quero que aconteça de novo.

— O preservativo foi erro meu, mas confesso que não quis usá-lo. E eu sei das suas condições e jamais seria comigo da forma que foi com ele... Eu só quero curtir essa viagem da melhor forma possível.

— Então é isso? Só curtição?

— Não pra mim! Eu quero sim curtir os momentos com minha filha, os papos cabeças com seu pai, essa viagem, os negócios que fiz. Esses sim são os momentos de curtição. Em nenhum momento passou pela minha cabeça te tratar só como uma curtição, se foi isso o que pensou. Eu gosto muito dos momentos em que estamos só você e eu.

— Posso te fazer uma pergunta? — digo e ele confirma. — Por que você não falou nada sobre saber da pílula e porque não quis usar preservativo?

— Duas perguntas! — ele sorri e beija minha mão. — Confesso que na hora eu esqueci completamente de usá-lo. Ao seu lado sinto como se já fossemos íntimos suficientes para não usar. Não sei se você vai conseguir entender, eu mesmo não faço ideia do por que disso. Mas é como se já tivéssemos sido um do outro — ele sorri e balança a cabeça para os dois lados como se estivesse negando algo. — Você deve estar me achando um louco.

— Nem um pouco. — digo, pois passei a me sentir da mesma maneira ao lado dele.

— Só parece natural pra mim, estar ao seu lado... E quanto ao remédio, eu não tenho o direito de te impedir a fazer nada. Se você achou que era importante tomar, eu vou concordar com você. É o seu corpo, são as suas vontades. Mas se não os tomasse também, eu concordaria do mesmo jeito. Eu só quero que saiba que eu irei te apoiar no que você decidir.

— Eu só não quero que... — olho pra Nina que acena pra nós.

— Te garanto que ela iria adorar! — ele diz me tranquilizando.

— E quanto a você? Você ia gostar? Roger eu só estou supondo...

— Alícia, suponhamos então que acontecesse. Ele ou ela seria muito amado. Você realizaria o seu sonho e eu o meu. — Ele sorri.

— Hã?

— Eu também quero poder ser pai novamente, quero que Nina cresça tendo irmãos, mas sei que se isso for acontecer com você, será um pouco diferente.

— Diferente de que?

— Você não quer um pai por perto e eu quero participar. Mas eu entendo seus motivos.

— É justamente o contrário, Roger, eu quero um pai que queira estar presente e não um que suma. Você é completamente diferente. Nina sempre esteve em primeiro lugar na sua vida. Você a ama, lhe dá carinho, promete e cumpre. Você é um ótimo pai e eu vejo isso.

— Então acho que isso quer dizer que passei no teste?! — ele beija minha bochecha. — Vamos deixar acontecer e o que tiver que ser, será. Sem cobranças, sem indagações. Eu gosto de você Alícia, sempre gostei, e quero continuar ao seu lado. E eu prometo a você que não será como foi seu último relacionamento. — Ele sela nossos lábios com um selinho.

***

Horas mais tarde...

Ao sairmos de casa para jantar, apostamos uma corridinha. Quem chegasse primeiro ao hidrante do final da rua do condomínio, venceria. Papai deu a largada e dois passos à frente eu fingi tropeçar. Eu dei o meu melhor e gritei exaltando a dor inexistente. Roger todo preocupado parou no mesmo instante e veio conferir o que estava acontecendo.

— Onde dói? — ele pergunta e eu faço cara de dor.

— Aqui, bem aqui. Ai ai! Vai Nina!! — grito sorrindo e ele percebe a armação.

— Uhul!! Eu cheguei!

Nina pula de alegria, vindo ao nosso encontro. Roger nos encara incrédulo ao mesmo tempo em que sorri. E eu ainda estava sentada no chão gargalhando de sua cara.

— Isso foi trapaça, vocês estão cientes, não é?

— Trapaça nada. Eu caí tá. — Levanto do chão fingindo dificuldade.

Quando me aproximo de Nina levanto a mão para que ela bata.

— Toca aqui campeã!

— Isso não valeu. Você está sendo péssima influência pra ela. Eu todo preocupado e vocês duas armando contra mim.

— Que calúnia, meu Deus! Eu aqui com o pé doendo depois de ter-me estabanado no chão e você me vem com essa de armando contra você?! — finjo estar chocada. — Aprenda a perder, Roger. Isso sim é um bom exemplo, e não ficar caluniando as pessoas.

— Eu só tenho a dizer que você está ferrado meu camarada. — Papai bate nas costas de Roger e gargalha indo em direção ao carro.

— A senhorita fique esperta, pois irei cobrar por isso. — Ele diz em tom malicioso fazendo meu corpo se arrepiar.

Vidas Cruzadas ( COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora