Três dias depois...
— O que foi filha?
— Nada, só estou nervosa.
— O médico disse mais alguma coisa?
— Não, só que precisava conversar pessoalmente comigo.
— Você acha que pode ser alguma coisa séria? — meu pai pergunta.
— Não. Provavelmente ele vai sugerir que eu faça algum tratamento ou que congele os únicos óvulos que me restam.
— E o que você pretende fazer?
Eu o encaro.
— Não sei. A única coisa que sei é que não irei mais insistir. Depositei muita energia e tempo nisso e olha no que deu. Vou voltar ao Brasil e pensar um pouco antes de tomar outra decisão. Quero conversar com minha médica e entender o que de errado aconteceu.
— Sim meu amor! Vai dar tudo certo, baby. — Ele passa seu braço em volta do meu ombro e beija minha bochecha.
***
— Como é que é doutor? — pergunto aturdida.
— Houve um erro em nossos arquivos. Pode ser que seus exames precisem ser refeitos. Eu recomendaria que a senhorita os refizesse.
— Mas como isso foi acontecer?
— Tivemos um problema interno, contudo, já foi resolvido, porém, muitos exames foram trocados.
— Há a possibilidade dos meus resultados estarem errados? É isso mesmo? — pergunto esperançosa.
— Há sim! Seria bom que refizesse os exames o mais rápido possível. Posso marcar outro dia...
— Oh my Gosh! Eu não terei como refazer, doutor. Embarco amanhã para o Brasil e não tenho data para voltar — me afundo na cadeira com as mãos uma em cada lado da cabeça.
— Você precisa refazê-los.
— Sim, eu os farei. Mas quanto ao erro que cometeram? O que de fato aconteceu?
— Infelizmente problemas internos... precisamos confirmar que seus exames estavam entre os afetados. E pedimos perdão pelo ocorrido. Podemos refazer agora mesmo um novo exame, tudo por nossa conta, porém ele só ficará pronto daqui quinze dias, pois será feito em outro laboratório.
— Pois que façamos então.
Sou encaminhada para outro laboratório, onde o médico foi pessoalmente assistir toda a coleta de sangue que foi feita. Passei boa parte do dia na clínica refazendo tudo o que pude. Queria entender melhor o que houve, mas o assunto não era dito com clareza pelos médicos. Era como se escondessem algo. Eu só queria ir embora o mais rápido possível. Essa viagem não foi do jeito que esperava. A única coisa boa em tudo isso foi os momentos que passei ao lado das pessoas que não consigo mais viver sem. Os dias que passei ao lado de Roger e Nina me fizeram enxergar o que é amor de verdade e o quanto eu os amo.
Fiquei triste quando vi a casa do meu pai sem a Nina e o Roger, queria tê-los por mais tempo, mas também pude aproveitar o restante da viagem ao lado do meu pai. Ele e suas extravagâncias proporcionaram um fim de viagem a Nina, maravilhoso, do mesmo jeito que ele fazia comigo todas às vezes que embarcava de volta ao Brasil. Meu pai conseguiu que Nina entrasse no castelo da Cinderela e conhecesse a suíte da princesa e que pudesse tirar uma foto com ela. E para Nina, foi sem dúvida uma linda experiência. Tanto que no final do passeio ela estava em frente ao castelo de olhos fechados e mexia os lábios sem que nenhum som saísse de sua boca. Ao abrir os olhos, Nina sorri ao ver minhas mãos entrelaçadas as de Roger e sai cantarolando a nossa frente.
***
Ao chegar da consulta tento não pensar muito em tudo o que ouvi, mas sei que é impossível, então ocupo minha cabeça com quem me faz bem. Ligo para minha amiga Carina.
— Oi Cá!
— Você vem mesmo embora amanhã?
— Sim, estou morrendo de saudades de casa, do blog até de você.
— Eu aqui toda saudosa e você me colocando em último lugar. — Sorrio com a cara de cachorro sem dono que ela faz. — Tudo bem, eu posso superar. Agora vamos ao que interessa.
— Diga.
— Você desistiu mesmo? — respiro fundo antes de responder.
— Sim. Pelo menos por agora irei adiar ter um filho. Talvez daqui dois anos. Talvez eu adote. Ainda não sei, Cá.
— Eu sinto muito amiga. Não quero que desista!
— Eu não vou desistir, Cá, só não vou fazer com que aconteça do meu jeito. Irei finalmente deixar a vida me levar. — digo e esboço um sorriso.
— Vou te buscar amanhã no aeroporto, ok?!
— Ok, vai adiantar eu dizer que não precisa, ou vai?
— Não, não vai! — ela sorri. — E também por que quero um tempo a sós com minha amiga que não me conta nada. Não é mesmo, dona Alícia!
— Quando eu chegar aí eu prometo que te conto tudo o que você quiser, até o que você acha que estou escondendo.
— Acho bom, pois odiei ter que ficar sabendo certas coisas pelo Théo.
Engulo em seco.
— Tipo o que?
— Conversaremos quando você chegar, Alícia Carter. — ela diz calmamente meu nome e eu sei que ela está furiosa.
***
Meu pai resolveu me levar ao aeroporto e durante o caminho refiz em minha cabeça toda a viagem e tudo o que aconteceu nela e quando cheguei ao portão de embarque me senti feliz por poder voltar ao Brasil, não da forma que imaginei, grávida, mas ansiosa para rever os dois motivos que tornaram minha vinda à Miami alegre. E eu juro que não esperava me envolver com o Roger, mas foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido.
— Pronta para voltar à realidade? — meu pai me tira de meus pensamentos.
Solto o ar que estava prendendo e lhe retribuo um sorriso. Tento me manter animada com minha volta ao Brasil.
— Criando coragem, você quer dizer. — digo.
— Você vai se sair bem, confie no seu velho aqui. E volte mais vezes, aquela casa é muito solitária sem você.
— Prometo voltar em breve. — Eu o abraço. — Agora você também pode muito bem ir me visitar no Rio.
— Da última vez que sua mãe e eu estivemos embaixo do mesmo teto, você sabe o que aconteceu e eu receio que não gostou. — Ele sorri envergonhado ao mesmo tempo em que um sorriso safado invade seu rosto.
— Pegar vocês transando no meu quarto de hóspedes, mesmo os dois tendo cada um o seu quarto, não foi algo agradável de ver, mas eu sobrevivi a isso, não foi?
— Eu não consegui resistir filha. Sua mãe continua gostosa!
— Pai! Chega. Não quero detalhes. — Reviro os olhos ao reviver a cena. — Só tenta ir me ver, ok?!
— Combinado! — ele me abraça carinhosamente e beija meu rosto. — Faça boa viagem, minha vida, e pense nos bons momentos que viveu aqui. Eles podem continuar, basta você permitir. Love you baby!
— Eu sei pai. Eu juro que vou pensar em tudo o que vivi e tudo o que quero viver... Love you dad!
Caminho pelo longo corredor até o avião. Sento-me em meu lugar e assim que olho o celular há uma mensagem do Roger.
Boa viagem de volta pra casa.... Me avisa quando chegar!
Não respondo de imediato, na verdade queria dizer o quanto sinto sua falta e o quanto queria estar em seus braços, mas tenho medo de parecer carente demais.
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Vidas Cruzadas ( COMPLETO)
RomanceAlícia tem uma vida tranquila, harmoniosa e rodeada de pessoas que a ama, mas nem sempre foi assim. Hoje ela é uma mulher determinada a realizar seus sonhos e conquistar seus objetivos. Entretanto, os traumas do passado a fizeram desacreditar no amo...