Capítulo 13 - Um fusca meio suspeito, uma despedida e algumas explosões

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Num belo dia de 1977, eis que aparece o Luiz Cesar, um dos colegas de classe, com um fusca! Todo faceiro, disse que o fusca era dele, que havia comprado. Que maravilha! Passamos a cabular aula para andar de fusca. Juntávamos umas moedas, pois a gasolina naquela época era barata, e íamos, prá variar, pras Palmas ou para o Horto Florestal. Acho que ele nem tinha carta de motorista: éramos todos moleques e ele era só um pouquinho mais velho que a gente. Enfim, o que valia era a farra. E o Luiz César ficou com esse fusca um bom tempo, e aproveitamos bastante. Mas lembro de uma ocasião em que ele ficou doente, e ficou uns dias sem aparecer na escola. E depois de uns dias, achamos o carro dele aberto, estacionado numa vilinha, travessa da Tanque Velho, perto da igreja São Camilo. Preocupados, achando que houvesse sido roubado ou coisa parecida, fomos então à casa dele saber o que houve e avisar que o carro estava aberto. Chegamos lá e ele não estava, então falamos com a mãe dele que, surpresa, perguntou com um grito: "Que carro?"... Foi aquela saia justa... Ela não sabia de nenhum carro. E ficamos enrolando, tentando contornar a situação, para tentar "livrar a barra" dele... Ele deve ter feito algum rolo com aquele carro, e provavelmente nem era dele, já que a própria mãe não sabia de sua existência. Quem, com menos de 18 anos, compra um carro sem a mãe saber? E pior: quem compra um carro e deixa ele aberto, estacionado à várias quadras de casa? Até hoje não descobri a verdadeira história do fusca.

Outra história relacionada a carros diz respeito à uma das professoras da oitava série, que por algum motivo do qual não me recordo, estava indo embora da escola. Ela era muito querida, e resolvemos fazer uma surpresa de despedida: No seu último dia de aula, arrumamos uma caixa de giz, e com giz molhado, para não danificar a pintura, cada um escreveu uma dedicatória NO CARRO da professora, que ficava estacionado em frente à escola, na rua. Cobrimos inteiramente o carro dela de giz, cada um escrevendo algo. Então, enquanto ela estava na sala de aula, na última aula dela na escola, que era exatamente na nossa classe, o Luiz Cesar entrou esbaforido – grande ator – dizendo que havia acontecido uma tragédia, e que ela deveria ir lá fora verificar o estado do carro... Ela então saiu correndo da sala, com toda a galera atrás. Quando ela chegou no carro e viu aquilo, não se conteve e começou a chorar de emoção. Todo mundo então correu para abraça-la no meio da rua mesmo. Esse episódio foi muito emocionante e ela disse que se lembraria da nossa turma para sempre. Depois da emoção, o próprio Luiz César se dispôs a levar o carro dela no posto para lavar. E levou.

Eu já mencionei minha frustração por não saber tocar nenhum instrumento. Mas não foi por falta de tentativa. Havia o Josué, um cara extremamente paciente, que também estudou comigo e um belo dia resolveu que iria me ensinar a tocar violão. Ele morava na atual Rua Camateí, quase na esquina da Major e eu estava sempre na casa dele, geralmente aprontando alguma travessura. Um dia cheguei lá, e ele estava tocando piano. Fiquei impressionado, e comentando com ele, ele se dispôs a me ensinar violão. Ele aprendera sozinho; disse que como havia tomado aulas de piano, o violão veio fácil. E assim decidimos. Começou a tentar me ensinar, mas não havia jeito de eu aprender. Até hoje tenho essa dificuldade. Mas naquela ocasião, o motivo era que a gente sempre terminava nossas aulas fazendo alguma arte ou alguma coisa que explodisse. Lembro que chegamos a fazer um negócio que a gente chamava de "nitroglicerina" – lógico, não deveria ser. Jogávamos glicerina e permanganato de potássio numa latinha de pomada, fechávamos a latinha e depois de um tempo a latinha explodia. Adorava essas experiências. Outra vez, conseguimos um pouco de carbureto. Achei que seria fácil fazer algum tipo de maçarico, só pra ver a chama saindo do bico. Para isso, tinha que usar o que estivesse à mão. Então, não tendo outro material, tive a brilhante ideia de usar um vidro pequeno de palmito como recipiente, tampado com um daqueles cones de papelão, que antigamente era usado como base para rolo de barbante. Esse cone tinha um furo, e eu achei que daria certo: o carbureto produziria gás, que sairia pelo furo com pressão suficiente para formar um jato. Feito. Coloquei as pedras de carbureto no vidro e pré-preparei o cone com fita adesiva, deixando pronto para colar no vidro assim que colocasse água. Adicionamos água e na sequencia fechamos com o cone e a fita adesiva. Logo em seguida, acendi o bico do cone. Ainda bem que eu uso óculos, porque o troço explodiu. Do vidro, não sobrou nada. O cone subiu uns tantos metros – muitos - de altura, e caiu do meu lado. Minha cara ficou toda furada, com os cacos de vidro, e as pedras de carbureto desapareceram. Assim que as pernas pararam de tremer, tomamos ciência da besteira que fizemos. Graças a Deus nada de pior aconteceu, mas poderíamos ter ficados cegos, com os cacos de vidro no olho. E a gente gostava dessas coisas "perigosas".

Numa outra vez, descobrimos como fazer pólvora: bastava misturar salitre, enxofre e carvão. Nunca soube se essa é mesmo a composição da pólvora, nem se chega a ser explosiva, pois nunca tivemos coragem de comprimir a mistura, mas o fato é que o negócio pegava fogo mesmo. Aproveitando esse expertise, certa vez, para participar de uma feira de ciências da escola fiz um vulcão. Usei uma base de madeira na qual eu modelei, em papel machê, uma montanha, tendo o cuidado de deixar um furo no centro, onde eu embuti uma lata de extrato de tomate elefante, muito comum na época. Arrumei também um pouco de cimento, e com a modelagem ainda molhada, pulverizei cimento em pó sobre a escultura, o que lhe conferiu uma resistência além do esperado. Pintei como se fosse uma cobertura de mata nativa, com vários tons de verde e marrom. Naquela época eu já manjava um pouco de desenho, então a pintura foi a parte mais fácil. Tudo pronto, levei para a escola, pois antes da feira a diretora fazia questão de pré-aprovar o projeto, e queria ver o negócio funcionando. Com o cimento, o troço, que não era pequeno, havia ficado bem pesado. Deu trabalho pra levar pra escola. No Ligabue, na entrada "de cima", após subir as escadas, a porta ficava à direita, e na frente dela havia um tipo de um jardim gramado que era mais ou menos um metro mais alto que a calçada. Com uma bela plateia reunida, coloquei ali o vulcão, enchi de pólvora e taquei fogo. Para ser sincero e modéstia à parte, foi bem bonito: como a mistura não estava na proporção certa, um dos elementos, acho que era o enxofre, começou a derreter e a escorrer pelas laterais do vulcão enquanto o centro pegava fogo e soltava fumaça. Ficou igualzinho lava. Além disso, houve muita fumaça, que invadiu toda a parte de cima da escola. Resultado: aprovado, e pude participar com meu projeto da feira de ciências, na qual ganhei um 10 com louvor. A feira acontecia no páteo coberto, na parte de baixo da escola, e lembro que tive que fazer um cronograma com os horários das erupções, que diga-se de passagem, mobilizava muito público. E a cada erupção, enchia a escola de fumaça. Lindo! E o vulcão ficou bem resistente mesmo, pois aguentou toda a feira. Ainda, depois de terminado o evento, levei-o para casa, e não tendo onde nem porque guarda-lo, tive que destruí-lo. Coisa que não foi fácil. Tive que usar até um martelo para poder quebra-lo antes de jogar fora. Do Josué, lembro também das vezes em que havia alguma briga na escola. Geralmente, as turmas se "juravam" na saída das aulas, e era aquele rebuliço na rua. Uma turma esperando outra pra brigar. Mas o Josué não era de briga. Um cara muito certinho pra ser brigão. Em compensação, corria pra caramba... e geralmente quando alguém arrumava as tretas e ele estava envolvido, na hora do vamos ver era o primeiro a correr e era o que corria mais rápido... É outro do qual não tive mais notícia, apesar das tentativas de contato. 

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