UM APANHADO DE ALGUMAS LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
Escrever essas lembranças tem me dado uma enorme alegria. Fazendo isso, relembro dos áureos tempos de criança, quando a maior preocupação era de que modo e com qual brincadeira gastaria me...
Lembro de uma ocasião, há muito tempo, devia ter uns 10 ou 11 anos, quando fui acampar com o Ciso e Cristina. Naquela época, meados dos anos 70, os jovens pós adolescentes, portanto alguns anos mais velhos que eu, também já gostavam de aventuras. De vez em quando aparecia alguma ideia diferente, e a turma do Ciso resolvia aderir. Camping foi uma delas... Lembro que o Ciso arrumou uma barraca Capri, para 5 pessoas. Barracona grande, emprestada de alguém, talvez, se não me falha a memória, do Yassuo, irmão do Kazuo, que moravam em frente à nossa casa. Esse japonês era outro cara que tinha dessas coisas. Certa vez, colocou a família inteira na Veraneio que ele tinha e foram para o Mato Grosso, passear, dormindo dentro do carro, que ele havia transformado num tipo de motorhome, com umas redes improvisadas entre os bancos, presas às colunas laterais da peruona. Por isso acho que a barraca era dele. Sei que fomos para alguma praia do litoral paulista, mas não sei precisar qual. Provavelmente Guarujá, que era o lugar pra onde passamos a ir, tempos mais tarde, para "farofar", nos finais de semana, ou alguma outra próxima. Desse acampamento especificamente lembro muito pouco: apenas da grande barraca azul claro com dois quartos e varanda, que tinha também uma mesinha dobrável e lampião à gás, para a luz noturna.
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Essa lembrança me remete a outra, muito tempo mais tarde, quando uma nova oportunidade de acampamento surgiu: o Nico estava na fase meio hippie, e ele e o irmão estavam juntando a galera para acampar em São Tomé das Letras, uma cidade já naquela época conhecida como centro de esoterismo, com histórias das mais diversas, inclusive de discos voadores e contatos com E.T's. Mas o Nando estava particularmente interessado nas cavernas da região, que ele e sua turma estavam decididos a explorar. E eu e a Rosângela, que nessa época já estávamos noivos, decidimos nos aventurar. Eu estava de férias da empresa, a Rosângela também, e com a autorização dos pais dela, decidimos participar, já que agora havia mais gente envolvida na empreitada, inclusive com os rapazes levando suas namoradas, e as meninas do grupo ficariam assim mais à vontade. Providenciamos lanternas dos mais variados tipos, disponibilizamos tudo o que havia à mão em matéria de objeto luminoso. Lembrando que naquela época, esses itens eram escassos e uma boa lanterna custava caro. Eu, por minha vez, como conhecia um pouco de eletrônica, tratei de inventar uma super lanterna, usando um pac de pilhas e restos de uma outra que eu havia desmontado especialmente para isso. Ficou com o pac de baterias separado, que seria levado à tiracolo, e a parte da lâmpada e refletor numa ponta de uma mangueira flexível, à mão. Partimos então para São Tomé das Letras. Uma galera havia ido de carro, no dia anterior, e eu e a Rosângela saímos de ônibus, no dia seguinte, rumo a Três Corações, onde havíamos combinado da galera de carro pegar a gente para levar a São Tomé quando o ônibus lá chegasse. E assim, no dia seguinte, quase anoitecendo, chegamos a São Tomé das Letras. Era final de Junho, um frio quase insuportável. Quando chegamos no local, uma parte plana de uma encosta de morro, já era noite. Achei um lugarzinho pra montar minha barraca próximo às dos demais. Não lembro nem se jantamos, mas fazia muito frio e nos retiramos para dormir. Naquela noite, quase morremos de frio. Literalmente. Fazia tanto frio que, mesmo usando todas as roupas e cobertas que havíamos levado, não havia jeito de nos esquentarmos. Um vento gelado subia o morro e entrava pelas frestas da barraca, levando a temperatura próximo dos zero graus. Passamos, eu e a Rô, uma das piores noites de nossas vidas. Na manhã seguinte, vivos graças a Deus, a primeira providência foi arrumar algo para tapar os vãos da barraca. Era pequena, um modelo "lobinho", tinha aberturas laterais para ventilação, e por essas aberturas entrava aquele vento gelado. Forrei toda a lateral da barraca com capim, que cortei no mato próximo. A bem da verdade, acabei quase que cobrindo toda a barraca com capim. Nessa saída para achar capim, percebi que, durante a noite, quando chegamos, não tínhamos visto, mas montei a barraca a menos de cinco metros de um penhasco com bem uns trinta metros de altura. Se eu tivesse saído no escuro para fazer xixi, teria certamente caído lá.