Voltando à época de infância e pré-adolescência, ou seja, muito antes disso tudo, lembro que através de mais um "escambo" com o Lincoln, caiu em minhas mãos um autorama, da Estrela. Talvez numa troca com um skate, realmente não lembro. Sei que era também um dos sonhos de consumo da molecada da época. Lembro que o kit tinha uma pista bem grande, que era montada "por partes" encaixadas uma na outra, e haviam muitas delas. Como era velho, às vezes os contatos metálicos dos trilhos não deixavam "passar corrente", ou seja, apresentavam mal contato, e a gente tinha que ficar consertando. Lembro também que, por ser grande, a gente montava ele na cozinha de casa, fazendo inclusive umas curvas elevadas usando as cadeiras da cozinha e passava o dia brincando. Mas os carrinhos originais não eram tão legais. Então, apareceu uma nova mania: montar carrinhos de autorama mais "legais". Certamente nessa época eu já estava trabalhando, pois descobri uma loja de modelismo na Rua do Seminário, pertinho do viaduto Santa Efigênia, no centro de São Paulo, onde deixava considerável quantia de dinheiro. Tinha de tudo, lá: peças, chassis, rodas, carcaças, aceleradores e até os famosos motores Mabushi, na época, o top dos automodelos. Fiquei freguês, e comecei a montar meus carros. Lembro que o meu preferido era um opala marrom metálico, escala reduzida daquele no qual aprendi a dirigir. Desde sempre tive essa fixação nos opalas. Montei também um fusca, e os dois passaram a ser meus carros oficiais, com motores e chassis iguais. Naquela época havia, no Ibirapuera, uma pista de automodelismo e a gente ia lá, aos finais de semana, com nossos carros para brincar. Era uma pista gigante, e a gente pagava o aluguel "por hora". Levávamos os carros e os aceleradores, e usávamos a pista até enjoar – ou até onde a grana dava.
Depois de muito tempo, já casado, lembrei que essa loja na Rua do Seminário não era somente voltada ao automodelismo. Haviam também lá, os trens elétricos, e meu vício passou então a ser os trens elétricos. Sempre que possível, quando a grana dava e quando tinha tempo de ir lá, comprava separadamente algumas unidades de trilhos longos e curtos, curvas, desvios, engates, além dos vagões e locomotivas. Acabei adotando a escala HO, mais comum e fácil de achar complementos, inclusive adquirindo sempre os itens da Frateschi. Não sei se a fábrica ainda existe, mas ainda tenho meu conjunto guardado, com mais de 20 metros de trilhos, desvios automáticos, transformador, uma locomotiva da RFFSA e vários vagões, tanto de carga como de passageiros. Tudo comprado nessa loja, num processo que levou alguns anos. Ainda pretendo, algum dia, achar um espaço para fazer uma maquete e deixar o conjunto montado definitivamente. Enquanto isso, ele aguarda, guardadinho em caixas de sapato, na área de serviço de casa.
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Lembranças
Non-FictionUM APANHADO DE ALGUMAS LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA Escrever essas lembranças tem me dado uma enorme alegria. Fazendo isso, relembro dos áureos tempos de criança, quando a maior preocupação era de que modo e com qual brincadeira gastaria me...