Em 1979, por "determinação" do meu pai, comecei a estudar no Senai. Ele tinha dessas coisas: a gente precisava trabalhar. Acho que, para ele, que fora acostumado a trabalhar desde cedo, o estudo não era muito importante. Trabalho era mais. Assim, todos os filhos eram "convidados" a fazerem um curso profissionalizante, para começarem a trabalhar logo. Meus irmãos mais velhos fizeram cursos ligados à área de metalurgia. Eu, como gostava de eletrônica, e sempre fui o encarregado a arrumar principalmente a antena da TV de casa, acabei optando por fazer "radio e TV", um curso se eletrônica, no Senai Roberto Simonsen, no Brás.
Eu havia Terminado o ginasial no Ligabue em 1977, com um ano de atraso, pois repeti a 6ª série. A maioria dos colegas foi para o Graco, uma outra escola, pois no Ligabue não havia colegial. Outra parte foi para outras escolas, entre elas o Albino César. No ano seguinte, 1978, estudei no período da manhã, e aquela parte da turma do Ligabue que não havia ido para o Albino César estava na mesma classe, no Graco. Soube depois de um tempo, que no período da manhã as aulas eram mais "puxadas", e acho que por isso acabei estranhando muito o Colegial, principalmente porque as matérias eram bem diferentes daquelas que a gente estava acostumado. Eu achava a matemática super complicada. Odiava. Hoje vejo que não era tudo isso, e até gosto de matemática, mais do que naquela época. Acabei aprendendo que tudo no mundo envolve matemática. Química até hoje odeio; peguei trauma, pois tive um professor que simplesmente não se esforçava em explicar a matéria. Colocava tudo na lousa, e a gente que se virasse. Não havia meios de eu entender aquele negócio de Números atômicos, que hoje vejo que era coisa mais boba do mundo, mas naquela época, não havia jeito de eu entender. Conclusão: repeti de ano mais uma vez, graças à Química. Acho que aquela música do "Paralamas do Sucesso", - odeio química – foi feita pra mim.
Com a repetência, veio então a intimada do meu pai: fazer Senai. Porém, o Senai era em período integral, e então eu tive que pedir transferência para o período noturno, no Graco. Eu ainda tinha contato com o Edu, amigo do Ligabue, que também gostava de eletrônica. Então, fizemos nossa inscrição no Senai e começamos o curso juntos. No Senai, eu e o Edu caímos em turmas separadas, o que não foi um problema, pois logo a gente se enturmou e conhecemos novos amigos.
Era uma rotina puxada: acordava super cedo, pegava o ônibus "174-M Museu do Ipiranga", invariavelmente lotado, e invariavelmente ia pendurado na porta até mais ou menos a estação Santana do metrô, quando o ônibus dava uma esvaziada e eu poderia tentar achar um lugar para sentar. Levava marmita para o almoço e todo material escolar na mochila, já que eu ficava o dia inteiro no Senai, que era em período integral, e à noite tinha que ir para a escola normal, pois o curso do Senai não tinha validade como complemento ao ensino médio. Então, saía do Senai e ia direto pra escola. Como citei, na época, eu estudava no Augusto Graco, no período da noite. Saía do Senai no Brás às 17:30 hs e tinha que correr, pra pegar novamente o ônibus lotado de volta pra escola. Descia no Metrô Carandirú, onde pegava outro ônibus, o "Vila Nivi" pra chegar à esquina da Rua Cruz de Malta com a Rua São Marcelo, ponto onde eu descia e onde tinha uma barraca de pastel, e quando eu tinha dinheiro, comprava um como janta e corria pra escola, geralmente em cima da hora.
A rotina do Senai em si também era puxada. Havia, na parte da manhã, aulas com as matérias regulares, que eu havia estudado na escola normal. Até hoje não sei porque isso, já que o curso não era complementar. Sempre achei que poderia ser suprimida essa parte, e o curso passaria então a ser só meio período. Mas, enfim... À tarde, era a parte de oficina, onde a gente aprendia realmente a parte profissionalizante. A cada dois alunos, uma bancada, onde a gente desenvolvia e testava circuitos eletrônicos para conhecer o funcionamento dos componentes. Trabalhávamos em dupla. Cada bancada tinha uma chave geral e lembro que uma vez o Norberto, meu parceiro de bancada, estava montando um circuito, quando o Midena, outro colega, sem perceber, ligou a força na bancada. O Norberto tomou um choque tão grande que o deixou branco. Jurou vingança, que não tardou... Um belo dia, chegamos na oficina e o Norberto havia tirado todas as baterias do armário, colocou-as em cima da bancada, e ligou-as em série. A princípio, com a desculpa de medir a voltagem total do conjunto de baterias. Colocou duas pontas de prova, uma em cada polo e quando o Midena passou, ele grudou as pontas de prova em seu braço. O choque foi tão grande que o Midena caiu deitado no meio do corredor, quase desmaiado. Essa "briga" entre os dois acabou fazendo com que o professor de educação física fosse "incumbido" de passar um corretivo nos brigões: 500 polichinelos. Colocou toda a turma em fila, com os dois brigões na frente, e mandou outros dois contarem os exercícios. Alertou que "não adiantaria roubar", pois os dois teriam que acabar mais ou menos no mesmo tempo. Assim, se alguém roubasse na contagem e acabasse muito antes do outro, toda a turma teria que cumprir o castigo. Ainda bem que não roubaram, e o restante da turma foi poupado do castigo.
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Lembranças
Non-FictionUM APANHADO DE ALGUMAS LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA Escrever essas lembranças tem me dado uma enorme alegria. Fazendo isso, relembro dos áureos tempos de criança, quando a maior preocupação era de que modo e com qual brincadeira gastaria me...