Capítulo 12 - Mantoux, cigarros e chuva de papel

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No ano seguinte, sexta série, a turma era outra: Márcio, Valdir, Maria Luiza, Maria Helena e Tania, que era namorada do Valdir. Tinha também uma outra garota, com a qual eu ainda tinha algum contato, ainda que distante, pelas redes sociais e que, após publicado este capítulo na internet, me mandou uma mensagem exigindo que seu nome não seja citado. Portanto, este capítulo foi pós-editado. Eu, confesso, era inocente, ingênuo, até bobinho, e essa turma era mais "madura", acho até que eram uns dois anos mais velhos, e tinham bem mais malícia que eu. A gente andava junto, fazíamos trabalhos em grupo juntos e como ele eram mais maduros e tinham mais "experiência", com eles fui aprendendo tudo o que não presta: a gente cabulava aula pra fumar escondido atrás da quadra e pulava o portão para matar aula. O Valdir é quem trazia os cigarros, e a gente achava legal e moderno fumar. Sou fumante desde aquela época graças à essa turma. Lembro que ele era bastante desrespeitoso com os mais velhos, principalmente com os funcionários da escola. Eu não estava acostumado com isso, pela educação que tivemos em casa. Desse período e desse pessoal não tenho muitas lembranças, exceto que namorei um tempo com a Marilu, e como ela era bem mais madura que eu, o negócio não deu certo. Acho que ela esperava algo a mais de mim, algo que eu ainda não conhecia, dada a minha inocência. Lembro também de uma vez em que a gente ia fazer uma das muitas reuniões de trabalho em grupo, desta vez na minha casa, e nessa época minha mãe criava canários. Ela tinha um monte de gaiolas, e algumas delas ficavam na parede da escada que dava acesso ao "quarto das bagunças", na parte de cima da casa. A galera chegou toda junta, e na hora de subir, aquela que eu não posso falar o nome esbarrou com as costas numa gaiola, que não chegou a cair do suporte, mas virou em cima dela e ela acabou tomando um banho de água de passarinho misturado com alpiste e cocô. Minha mãe correu pra acudir, primeiro os passarinhos, depois a moça. Graças às bagunças e cabuladas de aula, acabei repetindo a sexta série. Acho que boa parte dessa turma também repetiu, mas mudaram de escola, ou foram para o período noturno, pois perdemos contato geral. Apenas aquela que eu não posso falar o nome caiu na minha turma no ano seguinte. Nem agora, nas redes sociais, consigo encontrar nenhum deles. Acho que com a repetência, fui meio que "abençoado". Percebo hoje que, com aquela turma, o negócio ia "dar ruim". Estava indo muito pro mal caminho. Acredito que foi uma forma do universo me botar de novo no caminho certo. Digo isso porque, no ano seguinte, conheci uma galera especial, com a qual ainda mantenho amizade, mesmo após mais de 40 anos. E é dessa galera que tenho as maiores e mais gostosas lembranças. Especialmente dos dois grandes amigos e companheiros de aventuras, com os quais me iniciei na "vida adulta": Mané e Chacrinha. A gente andava sempre junto, estudávamos juntos, íamos e voltávamos da escola juntos, saíamos junto, ou seja, fazíamos tudo junto, tanto que meu pai sempre se referia a nós como "três pés de uma tropeça". Tropeça é um banquinho típico português, com três pés, ao invés dos quatro normais. Portanto, se você tirar um dos pés, o banco cai. Ele nos via assim: inseparáveis. Lembro que o Mané gostava de provoca-lo, fazendo perguntas "indiscretas", como por exemplo sobre masturbação ou sexo antes do casamento, e meu pai, muito religioso, tentava explicar as coisas de uma forma bem catequética e dentro da doutrina católica.

Nessa época, o pai do Mané tinha um bar na Rua do Gasômetro, no Brás, e me lembro que de vez em quando, a gente ia lá pra "ajudar"... Eu ajudava tomando guaraná com limão, e lembro até de uma vez em que quebrei o espremedor ao usa-lo. Era divertido ir lá, pois a gente conhecia gente diferente. Ele tinha também uma Variant, que de vez em quando o Mané pegava escondido pra gente dar umas voltas. Mas o legal era o carro do tio dele: um Charger modelo RT, amarelo com capota preta. Coisa mais linda. De vez em quando, ele levava a gente pra dar umas voltas. Numa desses vezes, o Mané tinha arrumado um dispositivo que fazia um barulhinho, um tipo de um "clec" ao ser pressionado. E dessa vez, ele foi sentado na frente, no banco do carona, mas com o braço e o dispositivo pra fora do carro. Quando o carro começava a andar, ele começava a fazer o barulho, tendo o cuidado de sincronizar os "clecs" com a velocidade do carro. Quanto mais rápido ia o carro, mais "clecs" o Mané fazia. O tio parava o carro, descia pra olhar, e nada. Voltava a sair com o carro, e o Mané voltava com o barulho... Parava, descia, procurava, e nada... E isso durou um tempão, até a gente não aguentar e cair na risada, revelando o trote. O tio ficou tão bravo que quase largou a gente no meio da rua. 

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