Capítulo 27 - A Sage, Free-lancers e fotografias

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Saindo da MKT, a coisa começou a ficar "preta". De repente, com a Rosangela grávida, me vi desempregado. Ela ainda estava trabalhando numa associação da Petrobrás, mas a gente já havia decidido que, assim que a Daniela nascesse, ela sairia do emprego para dedicação total ao nenê. Eu tinha ainda minha velha prancheta que, apesar de guardada há algum tempo, estava plenamente funcional. Tratei de arrumar um cantinho no nosso cafofo para monta-la, e lembro que ela ficava realmente num canto do nosso quarto. Vale aqui um parêntesis: Quando casamos, meu pai ofereceu pra gente morar no antigo "quarto das bagunças", o mesmo que havia sido meu quarto. Nada mal, e na minha cabeça, ficaríamos lá por um curto espaço de tempo, até que a gente conseguisse uma grana pra comprar nossa casa. Ele por conta própria deu uma reformada no quarto; contratou mão de obra para dar um talento no lugar, com massa corrida e pintura novas, o que acabou apagando minhas obras de arte nas paredes e as estrelas fluorescentes do teto. Era um quarto e uma cozinha, com o banheiro embaixo da escada. Começamos literalmente do zero; compramos uma geladeira no Macro da Marginal Tietê, e o Rui, que tinha uma Kombi, foi comigo buscar. Compramos também um fogão em suaves montes de prestações, além de uma mesa de madeira com cadeiras da TokStok, modinha na época. A cozinha era tão pequena que a mesa era dobrável, pra poder caber. Mais uma cama e um guarda-roupas, uma estantezinha e uma TV que o Ciso tirou na fábrica (ele trabalhava na Walita – Phiplips) a um precinho bem abaixo do mercado. Era essa nossa casinha. Ficamos lá por um ano, mais ou menos, até o nascimento da Daniela, quando o lugar ficou muito pequeno para comportar também um berço, e então alugamos um apartamento na Av. Maestro Vila Lobos, no Tucuruvi. 

Durante esse "um ano" em que moramos lá, antes da Daniela nascer e recém saído da MKT, eu ainda tinha contato com o Martins, e com nossa saída da empresa, fizemos, por um tempo, muitos free-lancers juntos: Ele tinha uma cliente numa empresa de ele...

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Durante esse "um ano" em que moramos lá, antes da Daniela nascer e recém saído da MKT, eu ainda tinha contato com o Martins, e com nossa saída da empresa, fizemos, por um tempo, muitos free-lancers juntos: Ele tinha uma cliente numa empresa de eletrônicos que constantemente precisava de desenhos técnicos de componentes eletrônicos, nos quais eu era muito bom. Ele me passava esses trabalhos e com eles, além de outros freelas que eu pegava por conta em algumas agências de comunicação, como anúncios de jornal e coisas afins, a gente conseguia se virar e até comer uma carninha de vez em quando.

Um belo dia o André, aquele meu vizinho inglês da Caracaxá, me convidou a conhecer a Sage, empresa na qual ele trabalhava e que constantemente precisava de free-lancers. Fui conhecer, e logo me arrumaram uma tarefa lá: era um trampo extremamente chato de paste-up de um catálogo da Volswagen, no qual o Urias estava trabalhando e – acho – que não tinha a paciência necessária. Paciência com montagem de paste-up sempre tive, pois durante bom par de anos fiz isso no Cursinho Universitário. Terminei o tal catálogo e parece que fui aprovado, entrando, assim, no "fim da fila" dos freelancers da Sage. Haviam seis ou sete na minha frente, e eu só era chamado quando havia trabalho para todos os que estavam à minha frente. Ainda assim, graças aos céus, o serviço nunca faltava. O Martins sempre se referia a mim como "o rei do estilete", devido à minha extrema habilidade com a ferramenta. "- Ele consegue cortar uma folha de papel de arroz sem cortar a folha de baixo", dizia ele. E com a demanda de trabalho sempre aumentando, na Sage fui ficando. A cada trabalho realizado, era preciso emitir uma nota fiscal de serviços, que eu não tinha. Então, não só eu, mas muitos outros, tínhamos que "comprar" uma nota fiscal de alguém, geralmente pagando 10% do valor ao emitente, a título de impostos, para poder receber. Nessa época, e por esse motivo, abri minha primeira empresa: a Dot'Spray. O nome fazia analogia ao meu sobrenome e a um dos meus passatempos favoritos na época: o grafite. Daí, o spray. Nesse período entre agências e entre free-lancers, comecei a fazer grafites pelas ruas da Vila Gustavo. Não confundir com pichação. Da época do cursinho eu tinha guardadas várias folhas de acetato, aquelas que eram usadas como base para montar os fotolitos para gravação de chapas para impressão e depois seriam jogadas fora. Com eles, eu fazia as máscaras para os grafites, dos mais variados temas: personagens diversos, palavras de ordem, símbolos... Alguns ficavam tão bons que os amigos pediam para grafitar os vidros dos carros ou as paredes de suas casas.. De fato, ainda tenho algumas máscaras guardadas no porão de casa, dentro de uma pasta de papelão, junto do meu estojo de tintas Ecoline Tallens, réguas, escalímetros e canetas nanquim.

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