Olhos cegos

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Aonung

- Os Sully vão para o clã Tipani amanhã! - Já cheguei no Marui com a voz um pouco alterada.

- Já esperávamos por isso... - Minha mãe disse enquanto cuidava dos ferimentos do marido.

- Não deveríamos ir junto? O combinado não era o Metkayina partirem junto até a floresta?

- Como sabe disso? - Meu pai perguntou, eu havia esquecido que ele não sabia que eu e os outros ouvimos a conversa aquele dia.

- Eu perguntei primeiro...

- Nossos homens estão feridos, além de que o combinado seria irmos semana que vem. - Meu pai falou com um tom ríspido.

- Mas se os Sully partirão amanhã temos que ir junto!

- Não temos nada! Os Sully estão fugindo igual fizeram anteriormente. - Minha mãe disse cerrando os dentes.

- Não! Eles estão indo para poderem tratar do Neteyam! - Falei um pouco mais alto e notei o olhar mortal de minha mãe.

- Isso não são modos de falar com seus pais, Aonung!

- Desculpa... Mas eu acho que alguém deveria ir para preparar o território e...

- E quem seria esse alguém, Aonung? - Meu pai finalmente me olhou.

- Eu me ofereço! A culpa é minha do Neteyam e o Lukan... - Fui interrompido.

- Não! Você perdeu a cabeça? - Minha mãe falou se aproximando. - Nunca permitiria que você fosse para literalmente o outro lado do oceano!

- Mas mãe...

- Aonung! Não basta o medo e os problemas que causou hoje? - Meu pai se levantou de onde estava.

- Eu voltei para casa sã e salvo depois de ter matado um monte daqueles demônios! Isso não é o suficiente para vocês sentirem pelo menos um POUCO de orgulho de mim? - Nem percebi minha voz ficar alterada.

- Aonung, você é meu filho e eu tenho muito orgulho de você... Mas nunca vamos permitir que vá embora...

- Mas...

- AONUNG! Eu nunca mandaria um filho meu para o outro lado do oceano! Não sabemos os perigos ou quantos humanos tem lá... Além de não sabermos o que acontecia com você.

Pensei por um momento olhando meu pai, ele tinha uma expressão rígida e brava, conhecia bem aquela expressão, mas pela primeira vez ela não me intimidava. Logo me agachei no chão ficando de joelhos diante dos dois.

- Olo'eyktan! Eu peço para ir junto de Kasämy e os Sully até o clã Tipani para fazer uma análise na área... Como o senhor mesmo disse, não sabemos os perigos e o local que se passará nossa futura luta, mas eu me ofereço para estudar esses pontos e trabalhar em um plano de batalha... - Olhei bem nos olhos de meu pai. - O senhor conhece minhas capacidades intelectuais... Posso não ser o melhor na luta, mas lhe garanto que não vou decepcionar em ser seu representante aos povos da floresta!

Meu pai tinha um olhar menos rígido, olhava para mim com as sobrancelhas levantadas e parecia que iria chorar, mas não iria, meu pai nunca chora.

- Tem razão, precisamos de alguém para falar com os Tayrangi sobre nossa futura visita... - Minha mãe olhou para ele desacreditada. - Você pode ir... Garanta que irá conversar com a Olo'eyktan dos Tayrangi e explique nossa situação atual, além de que levará mais dois de nossos homens com você. - Me levantei tentando esconder meu alívio.

- Você não está falando sério Tonowari... - Minha mãe ficou de frente para meu pai.

- Só falta alguns meses para ele iniciar sua caminhada para a vida adulta, além de que  Aonung é extremamente inteligente com estratégias e precisamos de um representante antes de irmos para o território Tayrangi... O que melhor do que o próprio filho do Olo'eyktan e da Tsahìk dos Metkayina?

Avatar - Guerreiros Da Cor PúrpuraOnde histórias criam vida. Descubra agora