𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐃𝐎𝐈𝐒 - "Pela Ann"

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     A blusa preta de Chishiya disfarçava o tanto de sangue que havia perdido, sendo denunciado apenas pela sensação melequenta que o líquido viscoso deixava como marca no tecido, não era a primeira vez que Harumi via alguém baleado, nem nesse mun...

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     A blusa preta de Chishiya disfarçava o tanto de sangue que havia perdido, sendo denunciado apenas pela sensação melequenta que o líquido viscoso deixava como marca no tecido, não era a primeira vez que Harumi via alguém baleado, nem nesse mundo, nem em seu antigo lar. A sensação do sangue em suas mãos ainda lhe trazia lembranças, mas essas talvez eram uma das poucas que pareciam se distanciar cada vez mais, como se a recorrência lhe causasse um efeito analgésico, como o de seu corpo que esquecia a dor quanto mais ela batesse. Desajeitadamente, a jogadora retirou a jaqueta do desconhecido garoto, logo em seguida sua blusa, que parecia mais pesada, efeito do sangramento, e as colocou sobre a bancada em um bolo mal feito de roupas sujas. O peito do platinado subia e descia, lentamente, a marca da mão de Harumi ao lado esquerdo, junto de seu coração.

  Após um tempo com a compressão da ferida, a garota finalmente ousou ver o tamanho do estrago, o sangramento já estava controlado, comprovando que não havia uma hemorragia, ao menos não uma externa, bastava que o rapaz tivesse sorte o bastante para não ter rompido nenhuma artéria que o fizesse sangrar por dentro. A bala não parecia ter ficado mesmo dentro de seu corpo, apesar de que, pelo local — e conhecimentos sem estudos de Harumi —, não fosse ser preciso de fato ser retirada se estivesse ali. O tiro havia pegado um pouco após seu ombro, em um lugar que incrivelmente parecia ter afetado apenas seus músculos. Também havia um segundo rastro de bala, que mostrava ter passado de raspão em sua barriga, o que era bom sinal, apesar de já ter lidado com cuidados após um tiroteio, Harumi ainda possuía limites, e não fazia a menor ideia do que deveria fazer caso aquele tiro tivesse pegado em seu estômago, ela sabia que precisaria levá-lo a um hospital, e isso era uma piada naquele lugar. Parecia que o jovem morreria lentamente pelo sangramento, mas não pela bala em si. As consequências as vezes eram piores que os atos.

     O prédio qual estavam parecia ser domiciliar, um hotel rebuscado, havia um grande logo sobre suas cabeças, agora inclinado e amarelado, as plantas atrás do painel de madeira confundiam quem passasse ali, que se questionava se tal decoração já existia, ou se havia sido causada pela natureza daquele estranho "país", sobre a bancada da possível recepção, uma pequena campainha ainda ousava resistir, quase que intacta se não fosse pela poeira. Harumi olhou para os lados, se perguntando onde poderia encontrar recursos para ajudá-la no momento, não era possível que um local tão luxuoso quanto aquele não fosse possuir o mínimo equipamentos de primeiros socorros, a garota levantou-se procurando no primeiro andar qualquer resquício de auxílio que pudesse encontrar, ela revirou o refeitório, a cozinha, a ala de convivência, e finalmente ao chegar no banheiro que era provavelmente destinado aos funcionários, encontrou um armário aberto, ele parecia ter sido arrombado, apesar de não ter nem ao menos uma fechadura, sinal de que alguma pessoa desesperada após algum jogo já havia passado por ali, a jovem recolheu calmamente a última bandagem que restou do chão, e o tecido mais limpo que conseguiu achar por ai, junto do pequeno frasco de álcool, ou que esperava que fosse isso.

     Ao voltar para a frente do hotel, Harumi checou a respiração de Chishiya, seu cabelo caiu sobre seu rosto, o fazendo remexer o nariz de um jeito engraçado. A garota dobrou sua camisa — que no momento estava servindo como tudo, menos como uma camisa — junto com outras peças que encontrou, e colocou abaixo da cabeça do rapaz, deixando seu corpo levemente mais inclinado, com medo de que deixa-lo totalmente deitado no momento não fosse ser a melhor solução, ela limpou a superfície das feridas e fez o melhor curativo que conseguiu, atenta para troca-los caso o sangramento estivesse muito alarmante, e jogou sobre seu corpo seus trajes sujos, o cobrindo da melhor maneira que conseguiu, com medo de movimenta-lo ainda mais, ou talvez apenas se recusando em vestir o rapaz, seu consciente solitário as vezes parecia ter lapsos de domínio, e lhe faziam questionar o por que estava se esforçando tanto assim sobre aquela vida.

𝐓𝐇𝐄 𝐑𝐄𝐀𝐋 𝐆𝐀𝐌𝐄 - 𝘚𝘩𝘶𝘯𝘵𝘢𝘳𝘰 𝘊𝘩𝘪𝘴𝘩𝘪𝘺𝘢Onde histórias criam vida. Descubra agora