𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐃𝐎𝐙𝐄 - A acidez das palavras

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     O céu estava incrivelmente azulado naquele dia, as nuvens ressaltadas, como pedaços de algodões dispersos pelo globo, Harumi aproximou-se da janela do quarto do hospital, abrindo por completo o objeto de metal, a brisa fresca brincou com suas...

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     O céu estava incrivelmente azulado naquele dia, as nuvens ressaltadas, como pedaços de algodões dispersos pelo globo, Harumi aproximou-se da janela do quarto do hospital, abrindo por completo o objeto de metal, a brisa fresca brincou com suas madeixas castanhas enquanto olhava para a avenida mais abaixo, que normalmente era tão movimentada, mas daquela vez estava incrivelmente calma, consequência de algo o qual a mulher não se preocupou em descobrir por ora, apenas aceitando sua simplicidade e incerteza. A televisão ao fundo soava baixo, a voz aguda do personagem do desenho animado na pequena tela, em uma repetição que às vezes chegava a ser irritante.

     — Haru — Fuyuki chamou, sua voz delicada e fraca, porém sem dúvidas melhor que a estridência da figura inanimada da obra infantil.

     — Sim? — Ela respondeu, virando-se para olhar a criança deitada confortavelmente sobre a cama de lençóis brancos feito as nuvens vistas segundos atrás.

     — Você é má? — Aquela sem dúvidas não era uma pergunta que esperava para aquela hora da manhã, sendo impossível evitar que os movimentos da mais velha parecessem bruscamente, arrebatados pela preocupação daquela questão, de algum modo ainda tão inocente.

     — Quem te disse isso, Fuyuki? — Ela não sabia dizer se era certo negar aquilo, apesar de que devesse ser.

     Harumi era uma pessoa má?

     — Eu escutei as enfermeiras conversando no corredor — A criança confessou — Elas falam muito alto — Completou, suas delicadas mãos agarradas no cobertor sobre seu corpo, achando até mesmo no tecido refinado e sem cor alguma diversão com sua grande imaginação.

     — O que elas disseram?

     — Que você parecia com a garota que passou na televisão, uma — O pequenino pensou um pouco, confuso com o diálogo que havia aparentemente escutado — Assassina alugável.

     Em outras circunstâncias, Harumi teria achado graça do termo errado qual o mais novo utilizou, mas naquele instante, aquilo não parecia indicado, lhe restando como única ação apenas aproximar-se da cama de solteiro, sentando aos pés do irmão, que possuía madeixas castanhas escuras, beirando o preto, uma mecha escorreu em seus olhos enquanto o colchão macio afundou-se levemente sobre seu peso. A morena respirou fundo uma única vez, seus pulmões se enchendo de um ar misturado com toda coragem que poderia encontrar ao um singelo sorriso invadir seu rosto, destinado à criança atenta a sua frente, seus olhos tão redondos quanto o da mais velha, apesar de seus lábios, levemente abertos pela dificuldade que sentia para respirar, fossem bem mais carnudos. Harumi se via como uma das pessoas mais calmas do mundo quando estava ao lado de Fuyuki, como se não houvesse nada que não pudesse controlar — talvez não houvesse mesmo —, a conexão sanguínea parecia mera bobagem perante ao vínculo cósmico que sentia, percorrendo seus destinos interligados, Fuyuki ainda beirava seus sete anos, não possuía distinções completas, nem julgamentos certeiros, mas não era como se precisasse daquilo tudo para apoiar a irmã, não quando o simples timbre de sua risada já lhe colocava novamente de volta a órbita. Todavia naquele momento foi difícil se todo o seu foco não teria vindo do simples medo avassalador que sentiu recair sobre seu peito com o questionamento do mais novo. A criança também podia apavorar a mais velha, em segundos.

𝐓𝐇𝐄 𝐑𝐄𝐀𝐋 𝐆𝐀𝐌𝐄 - 𝘚𝘩𝘶𝘯𝘵𝘢𝘳𝘰 𝘊𝘩𝘪𝘴𝘩𝘪𝘺𝘢Onde histórias criam vida. Descubra agora