𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐃𝐄𝐙𝐄𝐒𝐒𝐄𝐈𝐒 - Mares turbulentos

151 21 73
                                    

     Ninguém nunca nos explicou o porquê fazemos o que fazemos, apesar de tentarem desvendar incansavelmente isso, não há uma única pessoa que saiba realmente, com absoluta certeza, o porquê amamos, porque construímos tantos bens — sejam eles físi...

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

     Ninguém nunca nos explicou o porquê fazemos o que fazemos, apesar de tentarem desvendar incansavelmente isso, não há uma única pessoa que saiba realmente, com absoluta certeza, o porquê amamos, porque construímos tantos bens — sejam eles físicos ou mentais —, o porquê corremos, e o porquê voltamos. Libertos — ou ao menos acreditando que somos — pelo mundo, sem qualquer manual meramente plausível e que não seja fundamento em apenas resumos tão fúteis quanto meras exemplificações de "ser a natureza do ser humano" e de "ser assim que a humanidade se formou", apesar dela estar em constante mudança.

     Como era possível saber que certas coisas sempre permaneceriam iguais?

     Nossos barcos da vida lançados em mares turbulentos e rajadas de vento que nunca se preocupavam em anunciar a sua chegada e partida, levando embarcações alheias para suas profundezas também sem qualquer simples aviso, alavancando aqueles que nem ao menos necessitavam de tal ajuda. Harumi se sentia confusa em sua navegação, uma marinheira que nunca havia encostado em uma vela sequer, apesar de estar tanto tempo velejando nas entranhas do infinito oceano, que nem ao menos era infinito de fato. Tudo possuía um ponto final, até mesmo um parágrafo ainda na metade de uma história, até mesmo a água que do solo encontrava um jeito para retornar aos céus, e visse versa.

     Os mares se tornavam ainda mais traiçoeiros quando envoltos pela tempestade, e Harumi sem dúvidas estava em uma agora, sem saber o que fazer pelas entranhas do infinito finito oceano. Seus pés silenciosos ajudavam a empurrar rapidamente sua moto para longe — apesar de não estar tão perto assim — dos integrantes da nova praia naquele lugar tão estranho, seu corpo saltando de forma programada sobre o banco do automotor no momento que se sentiu confiante o suficiente para deixar seu motor ecoar pelas árvores densas da floresta, suas madeixas castanhas esvoaçando com o vento agressivo que cortava seu rosto devido a velocidade que logo conseguiu fazer seu veículo alcançar, como um vendaval que acertava os marinheiros segundos antes da chegada da tempestade. Provavelmente havia alcançado uma das maiores velocidades de toda a sua vida naquele momento, apesar de sentir que estava avançando tão lentamente, como se não soubesse onde gostaria de ir. Entre ela e sua jornada uma discrepância instintiva, as cordas das velas desprendendo-se lentamente do navio, cansadas de resistir.

     Enquanto Harumi percorria o mesmo trajeto qual fez para seguir o quarteto, em sua navegação nebulosa, ela ainda se sentia confusa com os novos sentimentos despertados em seu peito após um simples diálogo, o universo não parecia fazer sentido, sua mente como uma farsa presa a seu corpo feito de carne, ossos e sangue, talvez aquele fosse um ótimo momento para alguém descobrir de uma vez por todas o manual perfeito para usar perante a vida.

     Ou talvez a hora perfeita para entender que o universo nunca teve a mínima obrigação de fazer sentido para alguém, muito menos para ela.

     O mundo existia porque existia, ponto. Ela estava ali, as coisas estavam acontecendo, os oceanos continuavam a ser explorados, formados, mudados, precisava de algo a mais que aquilo?

𝐓𝐇𝐄 𝐑𝐄𝐀𝐋 𝐆𝐀𝐌𝐄 - 𝘚𝘩𝘶𝘯𝘵𝘢𝘳𝘰 𝘊𝘩𝘪𝘴𝘩𝘪𝘺𝘢Onde histórias criam vida. Descubra agora