𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐐𝐔𝐀𝐓𝐎𝐑𝐙𝐄 - Nada a perder

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     Harumi não costumava fazer planos para o futuro, achava inconveniente programar algo mesmo sabendo que pudesse estar morta cinco segundos depois, ela não tinha grandes ambições para daqui a alguns anos, se contentando apenas em vislumbrar, no...

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     Harumi não costumava fazer planos para o futuro, achava inconveniente programar algo mesmo sabendo que pudesse estar morta cinco segundos depois, ela não tinha grandes ambições para daqui a alguns anos, se contentando apenas em vislumbrar, no máximo, o mês em que estava, apenas para que pudesse controlar minimamente a sua vida por conta da criança a qual era responsável.

     A única coisa a que ela não conseguia deixar de pedir de imaginar era a maior quantidade de anos possíveis ao lado de Fuyuki.

     Aquilo parecia certo para ela, ela morreria antes dele, talvez ele até mesmo a considerasse egoísta por isso, mas um dia entenderia como aquela era, no fim, a ordem mais certa das coisas. Talvez ela pudesse até mesmo limpar suas lágrimas antes de fechar os olhos, lhe dizer como últimas palavras um sincero “eu te amo”. Aquela deveria ser a única coisa a qual ela se programava toda vez que o perigo aparecia diante sua vida: se despedir.

     Fora apenas quando em meio aquele consultório médico, de paredes brancas e móveis de madeira mogno tão bem polidos que poderiam até mesmo refletir a claridade do ambiente, quando o senhor de idade trajado em seu jaleco, sentado em sua frente, em uma cadeira confortável de um preto profundo, começou a lhe mostrar alguns exames, ansioso, receoso, como quem pisasse em ovos, que ela pela primeira vez se questionou de todo aquele plano que havia feito.

     Fuyuki não podia morrer antes dela, não podia morrer jovem, não podia morrer sem ter vivido metade das coisas as quais ela deseja poder mostrar a ele, sem ter aproveitado a sua vida, a sua primeira bebedeira, e qualquer outra coisa que pessoas comuns deveriam fazer.

     Mas quem era ela para garantir aquilo?

     — O que você está dizendo? — Questionou em um murmúrio, suas mãos postas sobre seu colo, estáticas, chocadas demais até mesmo para acompanharem seus pensamentos — Um... Câncer no cérebro?

     Apenas ao engolir em seco aquela notícia, rasgando a sua garganta, queimando o seu intestino como uma bebida barata, que o seu corpo pareceu disparar uma adrenalina em seu sangue, mesclada de raiva e incredulidade, o qual era difícil de qualquer ser humano controlar.

     Suas mãos estáticas se tornaram ágeis após a mulher levantar de supetão da cadeira, apoiando uma delas sobre a mesa, enquanto a outra buscou a borda do tecido branco do médico, lhe segurando com força, a cadeira atrás de si sendo levemente empurrada para trás devido o reflexo.

     — Você tá zoando comigo? — Esbravejou — Fuyuki é uma criança, nunca teve nada, e agora você me diz que ele tem um câncer incurável no cérebro? Acha que sou idiota?

     Talvez fosse da natureza humana, sempre jogar para o outro o peso sobre seus ombros, encontrar qualquer teoria, mesmo a mais maluca possível, que pudesse refutar aquela a qual, apesar de certeira, era indiscutivelmente impossível para si.

𝐓𝐇𝐄 𝐑𝐄𝐀𝐋 𝐆𝐀𝐌𝐄 - 𝘚𝘩𝘶𝘯𝘵𝘢𝘳𝘰 𝘊𝘩𝘪𝘴𝘩𝘪𝘺𝘢Onde histórias criam vida. Descubra agora