𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐓𝐑𝐄𝐙𝐄 - Gosto de chuva

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     Talvez uma das maiores mentiras quais Harumi tivesse contado para Fuyuki havia sido sobre não ser uma má pessoa, competindo tão acirradamente apenas com a fabulação de sua mãe estar os guiando em um reino sobre as nuvens, ao lado de um Deus t...

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     Talvez uma das maiores mentiras quais Harumi tivesse contado para Fuyuki havia sido sobre não ser uma má pessoa, competindo tão acirradamente apenas com a fabulação de sua mãe estar os guiando em um reino sobre as nuvens, ao lado de um Deus tão fantasioso. Ela não acreditava em nenhuma das duas histórias contadas, guardando para si o fardo daquelas invenções, mas de fato não se arrependia da segunda, de ter deixado a criança partir com uma ideia tão bonita a cerca da morte, a qual, no fundo, a mais velha quisesse muito que fosse verdade, apenas para poder olhar para as estrelas vezes ou outra, buscando pelo garotinho. Entretanto, tratando-se da primeira mentira, a sua relação já era mais complicada, era difícil dizer se, se lamentava por aquela simples negação, tentava, na verdade, passar a maioria do tempo sem ao menos pensar naquilo, apoiando-se na ideia de que quanto menos se pensava em algo, mais se afastava dela — apesar de saber que aquela também seria a terceira, e talvez maior, mentira de todas —, contudo tornava-se complicado que tais lembranças não voltassem a sua mente com a fala tão áspera do garoto que lhe encarava naquele instante, seus olhos sempre tão atentos e gentis carregavam uma raiva que tornava custoso o ato de recusar a verdade naquela frase, se houvesse alguma verdade nela.

     Harumi era uma pessoa má, pois não sabia amar?

     Harumi não sabia amar?

     Quando não se havia ninguém importante para apontar nossos erros emaranhados nas ações do cotidiano, era fácil ignorar qualquer peso de suas consequências, utilizando a mesma teoria de distância anterior, quando não se havia fé em nada, era fácil considerar que não iria para o inferno ou qualquer outra representação de submundo, mas ainda continuava doendo, pinicando no interior algumas vezes, a tristeza de também não ter nenhum lugar agradável para que as pessoas merecedoras pudessem descansar. No fundo, talvez a morena nunca tenha se perguntado realmente se, se arrependia de todas as pessoas que matou, neste ou no outro mundo, apesar de não saber se não se importava, ou se possuía medo demais de acabar parando em algum de seus piores pesadelos — se é que alguma divindade fosse ter criatividade o suficiente para lhe fazer sofrer mais do que já havia sofrido. Normalmente ela aceitava o conforto da apatia da primeira opção, porém do momento parecia refutar totalmente aquela ideia, afinal, se não se importava tanto assim, porque os olhos de Arisu pareciam tão julgadores quanto de algum Deus qual nunca acreditou, um julgamento que pesava tanto em seu coração?

     Por que imaginar a verdade exposta em meio àquele ataque de raiva lhe doeu tanto?

     — Pessoal! — Kuina exclamou ao lado, levantando-se de sobressalto da cadeira qual estava sentada, suas madeixas presas balançaram em sincronia a seu movimento veloz, enquanto a mesma se pôs em frente aos colegas que discutiam, seu campo de visão vislumbrava pela brecha deixada pela distância dos dois, um Yuta boquiaberto mais adiante, do outro lado da parede de tensão causada pela ocasião.

     — Parem com isso, por favor — Usagi pediu, se aproximando similarmente ao perceber que necessitavam de uma intervenção para aquele desentendimento.

𝐓𝐇𝐄 𝐑𝐄𝐀𝐋 𝐆𝐀𝐌𝐄 - 𝘚𝘩𝘶𝘯𝘵𝘢𝘳𝘰 𝘊𝘩𝘪𝘴𝘩𝘪𝘺𝘢Onde histórias criam vida. Descubra agora