Talvez os seres humanos possuíssem o péssimo hábito de se apegar uns aos outros, pois estivessem fadados, perante a famosa desculpa de ser de "sua natureza", sempre procurarem aquilo que mais lhes façam sofrer. Não havia muitos que fossem corajosos o suficiente para confessar aquilo, e até mesmo aqueles mais destemidos uma hora outra caíam na tentação que a falsa eternidade podia carregar, era um fato, ninguém queria confessar ou encarar a mais pura e inevitável certeza: as pessoas são temporárias. Podia ser por qualquer causa que fosse, por qualquer acidente ou escolha do proclamado "destino", alguma hora elas sempre iriam embora. Todas as coisas no mundo já estavam presas, grudadas, atraídas sobre as amarras do futuro tão idêntico. Todas as coisas estavam morrendo desde o primeiro mísero dia o qual começaram a existir, e talvez fosse este também, o verdadeiro valor delas.
As pessoas queriam tanto enriquecer, pois um dia todo aquele dinheiro não valeria de nada.
Queriam tanto amar, pois um dia não poderiam mais fazer isso.
Queriam tanto extrair cada item da imperfeita perfeita natureza, pois um dia apodreceriam.
Deveria ser por isso que mesmo em um mundo tão caótico quanto aquele estranho país o qual estavam, as pessoas também continuassem tentando sobreviver.
O valor da vida estava no fato dela ser finita, e isso não mudaria em nenhum universo que fosse.
Yuta parecia conhecer bem aquele sentimento, seus olhos frenéticos analisando cada parte do carro antigo, suas mãos encostavam tantas vezes sobre a marcha que estava até mesmo deixando Harumi tonta, seu pé afundando tão profundamente no acelerador que parecia que seria capaz de abrir um buraco sobre o automóvel, o atrito do pneu sobre o asfalto em uma orquestra com o som do, estranhamente potente, motor. Eles haviam conseguido passar pelas duas brutas caminhonetes da nova praia, ganhando a dianteira na inusitada perseguição, seus corpos chacoalhando pelo balançar nada suave o qual o veículo possuía, a cabeça de Kuina ainda sobre o colo de Harumi, da maneira mais confortável e segura a qual a mais velha conseguiu encontrar, o sangue ainda fresco em sua mão, sendo pela primeira vez um incômodo para si.
Era engraçado como um simples elemento como aquela gosma vermelha podia despertar tantos sentimentos diferentes, algo que todos sabiam que existia correndo igualitariamente dentro de suas veias, mas, ao mesmo tempo, tão absurdo quando visto de fato, escorrendo pela sua carne, penetrando um ambiente que não era o seu habitat natural, como uma nova espécie infiltrada em uma região do mundo, a qual pouco a pouco dizimaria os verdadeiros habitantes daquele local, um parasita, um aviso do perigo. O sangue de Kuina era mais estranho que o próprio sangue de Harumi, a dúvida implantada em sua mente, uma preocupação buscando a parte mais espaçosa de seu cérebro para se acomodar, se questionando se ainda restaria algum único resquício do elemento dentro da morena, como uma torneira que apesar de ainda possuir litros de água para sugar, estava a cada gota mais próxima do fim.
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𝐓𝐇𝐄 𝐑𝐄𝐀𝐋 𝐆𝐀𝐌𝐄 - 𝘚𝘩𝘶𝘯𝘵𝘢𝘳𝘰 𝘊𝘩𝘪𝘴𝘩𝘪𝘺𝘢
Fanfictionㅤ E se não houvesse como voltar para casa? Quando mesmo após conquistar todas as cartas, Harumi, o estranho garoto qual salvou depois do jogo do rei de espadas, chamado Chishiya, e as demais pessoas que conheceu, descobrem com o fim dos jogos q...