[Atenção, este capítulo contém menção ao suicídio]
Para estar naquele estranho país era necessário ter encarado a morte diversas vezes, os jogadores sobreviventes possuíam cravado em suas memórias, nem que fosse no inacessível subconsciente de seu cérebro, envolto pela proteção que havia sido criada sobre os repentinos traumas, aquela ligação com ela. Não havia como ter chegado até aquele ponto sem se deparar com as mais dolorosas e grotescas partidas, daquelas que estouravam as cabeças, tanto fisicamente quando metaforicamente falando. Logo, era óbvio que não aquela não fosse a primeira vez que os membros daquela peculiar equipe haviam se deparado com a morte também, talvez tal evento fosse uma companheira tão antiga de Harumi que ela pudesse até mesmo encontrá-la de olhos fechados, seus passos sempre perdidos no bar imenso que era a vida, embriagada demais para encontrar uma mesa vazia ou porta de incêndio.
Apesar disso tudo, nenhum dos três colegas conseguiu evitar o choque que aquele corpo balançando ainda lhes causava, dominados pela quebra repentina da rotina.
Não existia nada de apavorante em ver alguém sendo morto, não se comparado com a capacidade de tirar a própria vida. Afinal era isso, não era? Como alguém poderia tirar o único bem o qual realmente possuía? A única insignificantemente significante finita vida, que algumas vezes tocavam a eternidade, em momentos inesperados de felicidade. O que uma pessoa precisava passar para chegar àquele ponto?
Usagi não conseguia acreditar que alguém poderia ter sugerido tal final para seu próprio pai, ela ainda se lembrava de cada manchete a qual leu, os comentários na rua, toda aquela aura ruim que as pessoas curiosas poderiam trazer com seus comentários, a ideia de que apesar de não utilizar uma corda como aquela, seu próprio familiar pudesse estar por aí, caído entre as altas montanhas, com o mesmo olhar de desespero que aquele desconhecido a sua frente. Era visível como seu corpo já começava a apodrecer, apenas a sua carcaça pendendo de um lado para o outro, mesmo que sua alma já tivesse se desprendido dele muito antes de sequer conseguir amarrar tão firmemente aquela corda na varanda. O fato era que algumas pessoas morriam antes mesmo de terem o fim da sua vida, e apesar de Usagi sempre negar aquela hipótese tão cruel, ela se perguntou, pela primeira vez, se seu pai ainda estava vivo antes de sair de casa. Ele estava, não estava? O homem sempre parecia tão feliz ao seu lado, seria possível que os comentários maldosos de pessoas quaisquer poderiam pesar mais sobre seus ombros do que todo o amor o qual ela despejava sobre ele? O que era cravado em nossas memórias? Diversos comentários positivos ou uma única menção maldosa?
A garota de madeixas curtas se perguntou se aquele homem não teria também alguém que transbordasse de tanto carinho por ele, talvez, pelas condições as quais se encontravam, fosse exatamente por isso que ele tivesse decidido fazer aquilo, o peso de não poder voltar para casa, para o abraço daqueles que amava. Usagi teve sorte de encontrar algo para amar neste estranho mundo também, um norte que lhe mantia de pé, focada em seus objetivos — se ainda existisse isso naquele lugar.
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𝐓𝐇𝐄 𝐑𝐄𝐀𝐋 𝐆𝐀𝐌𝐄 - 𝘚𝘩𝘶𝘯𝘵𝘢𝘳𝘰 𝘊𝘩𝘪𝘴𝘩𝘪𝘺𝘢
Fanfictionㅤ E se não houvesse como voltar para casa? Quando mesmo após conquistar todas as cartas, Harumi, o estranho garoto qual salvou depois do jogo do rei de espadas, chamado Chishiya, e as demais pessoas que conheceu, descobrem com o fim dos jogos q...