Não

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A Kaijo estava enfrentando dificuldades com S/N na quadra, que fazia a diferença de pontos diminuir cada vez mais. Taiga também não pegava leve, focando na marcação e impedindo enterradas e lances.

No final do segundo quarto, os times haviam empatado em 44, contudo, isso jamais seria o suficiente para vencer, não importando o quanto eles persistissem esse número empatado no placar, nenhum dos times venceria. E S/N tinha apenas começado, logo estaria pronta para voltar ao banco quando, no fim do terceiro quarto, a diferença fosse grande o suficiente para que a Kaijo não conseguisse recuperar.

Os times seguiram até os vestiários, onde poderiam descansar melhor e comer algo para recuperar as forças.

- Makoto, você vai sair. - Avisou a técnica.

- Nem fodendo! Eu mal comecei! - Disse tirando a garrafa de perto dos lábios.

- Seremos desclassificados se descobrirem, mão tem como você sua identidade por muito tempo.

Enfurecida, a garota pegou a bolsa debaixo do banco e mostrou a identidade falsa junto com uma lista de exames afirmando que era um garoto transsexual.

- Não tem como eles me pegarem. - Disse balançando o laudo no rosto da morena. - Eu não sou tão inexperiente assim nesse ramo, queridinha.

- A técnica tem razão, Kise sabe sobre você, acha que ele não vai contar? - Perguntou o irmão.

- Se ele fosse contar, ele já teria feito, agora, sabe por quê ele ainda não fez? Porque ele vai entrar ali, nessa quadra quando eu estiver com a bola nas mãos e vai tentar me impedir, mas, você sabe muito bem, que ela vai cair no chão, ficar em último lugar, como sempre esteve. - Respondeu Makoto antes de levar a garrafa até os lábios e ingerir do líquido incolor. - E eu não jogo assim faz um tempo, essa notalgia é tão... gratificante.

- Você sentiu falta disso? - Perguntou o irmão incrédulo.

- É sempre bom ver o desespero nos olhos de quem sabe que não vai ganhar. - Brincou a garota.

Tetsuya passou a pensar durante o intervalo. S/N sempre amou basquete, tanto quanto o irmão, ela já tinha entrado em um nível superior da Zona, estava acima de qualquer um da Geração Milagrosa, Reis sem Coroa e jogadores profissionais. E também sabia como a mais nova não tinha piedade com os adversários, por mais que ela fosse carinhosa e gentil, ela não hesitava em dar o seu máximo nos jogos, sempre deixando a pontuação alta e o adversário perder sem nenhuma esperança e isso não era de agora ou da época da Teiko, era de muito antes, de algo que aprendeu se metendo com quem não devia e em casa.

O irmão suspirou fundo quando viu a irmã pegar o celular e responder alguns e-mails do trabalho.

- Você não pode parar de focar nisso nem quando estamos aqui? - Questionou o mais velho.

- Sabe que não. Se os e-mails ficarem sem resposta, essa empresa não vai para frente. - Disse com um sorriso no rosto.

- Você precisa de férias.

A mais nova apenas ignorou o irmão e guardou o celular no bolso, passando a prestar atenção na morena que ditava como devia ser o próximo quarto.

- S/N, você vai voltar para o banco na metade do terceiro quarto e...

- No final. - Retrucou a mais nova. - Eu vou jogar contra o Kise.

- Não aqui. - Insistiu a morena.

Já ficando irritada, S/N apenas olhou em advertência, os olhos já demonstravam sua raiva, que ficou mais evidente quando demonstrou o empoderamento apenas apoiando os cotovelos contra os joelhos, o sorriso que debochava das ordens da Aida fazia o irmão ficar em alerta.

S/N não tinha um histórico mais escondido das brigas que arranjava na rua, um detalhe que a família sempre quis esconder era seu temperamento e que nunca se falava "não" para a garota, algo que ficou mais forte nos últimos dois anos.

Ela não era mimada pela família e o irmão mantinha uma determinada rédea curta, mas a jovem nunca gostou muito de deixar de fazer algo queria apenas por que mandavam.

- Eu vou.

Riko ficou calada e apenas acenou positivamente. Uma tensão ficou no ar, fazendo com que Tetsuya arrastasse a irmã para fora abruptamente. Ele a levou até um corredor vazio e respirou fundo.

- O que deu em você? Achei que tínhamos concordado que você iria parar com essa personalidade violenta.

- Eu não machuquei ninguém! - Protestou.

- Fisicamente. Mas está pressionando todos ali a fazerem o que você quer. E você concordou que nunca mais faria algo assim, de pressionar até não aguentarem mais, nem de dar aquele olhar. - Disse o rapaz.

Demorou um pouco para jovem entender de que olhar o irmão falava. Era o olhar do avô, que levantava as sobrancelhas e tinha um olhar vazio no rosto, como um peixe morto, aquele que fazia a espinha arrepiar só de lembrar, que movido pelo medo acabava cedendo as vontades daquele que usava.

S/N apendeu aquilo com um dos únicos homens que conseguia conversar na família. O avô sempre deu o maior apoio a neta até morrer. Nunca deixou de ensina-la tudo o que podia e tinha direito, foi com ele que a mais nova aprendeu autodefesa e o poder da manipulação.

Mas os ensinamentos do avô não eram muito bem vistos pela sociedade e deixaram de ser algo bom quando a garota começou a passar por cima de tudo e todos. Talvez fosse a insegurança do irmão o motivo de querer que ela não usasse suas habilidades pessoais ou o medo do que aquilo poderia resultar, mas convenceu a irmã para não usufruir de tais competências.

- Eu não fiz aquilo. 

- Certeza? S/N... Talvez seja melhor dar um tempo no basquete e no trabalho, descansar.

- Não. Eu ainda posso fazer tudo isso sem nenhum problema. É apenas eu controlar os nervos, não é? - Disse antes de estender o punho fechado para que seu irmão desse um pequeno soco, apenas para encerrar a discussão como sempre faziam.

Tendo o retorno do mais velho, ambos voltaram para o vestiário, a jovem parecia mais alegre e relaxada quando entrou na sala com um sorriso grande no rosto, como se nada tivesse acontecido.

Pass it to me again!Onde histórias criam vida. Descubra agora