Era ela

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De todos os casos possíveis em São Paulo,
eu havia pegado o único no qual ela estava
presente. Aquilo só poderia ser algum prova
de fogo, ou uma pegadinha de televisão.
Não era possível, com tantas mulheres
nesse mundo, Bolsonaro tinha que ter casado justamente com Soraya? Quer dizer, não era culpa do homem, se a algumas semanas eu havia transado com sua esposa, se é que na época eram casados.

- Está tudo bem?

Eliziane perguntou ao sentar a minha frente.

Eu meneei com a cabeça negativamente,
tentando voltar a minha realidade.

- Está! Eu só estou pensando no caso de hoje.

- Está animada? Soube que é um caso grande!

seu tom de voz era surpreso.

-É um caso importante, e difícil. Muito difícil.

- Pensei que quisesse um caso dificil, Simone. Foi para isso que viemos para cá, não é?

Eu suspirei pesado, enquanto ela me olhava
um tanto confusa.

-E eu quero! Vou resolver isso. Lula
apostou todas a fichas em mim.

- Isso é maravilhoso! Mesmo você não sendo
mais delegada, creio que esse cargo é tão
importante quanto!

- Com certeza é. Só tem um problema.

Eliziane semicerrou os olhos em minha
direção.

- Que problema?

Eu olhei para ambos os lados, como se
procurasse alguém que tivesse interesse em
nossa conversa. Apoiei meus braços sobre a
mesa, me inclinando um pouco para frente, a ponto de ficar mais próxima de minha amiga.

- A mulher do empresário, Bolsonaro.

- Ela é gata?
perguntou com um sorriso.

Eu sorri da expressão sacana e ao mesmo
tempo maldosa de Gama.

- Sim, muito!

- Oh, Deus! Você quer pegar a mulher dele?

-A questão é essa, eu já peguei.

Eliziane arregalou os olhos em puro susto.

- Você está brincando, não é?

ela cochichou.

Fechei os olhos, levando meus dedos até
minhas têmporas, onde fiz uma massagem
leve.

-Não! Ele é casado com Soraya Thronicke.

A mulher ficou calada por alguns segundos,
talvez pensando em quem poderia ser
Soraya Thronicke, quando em um lampejo de memória, Elize tocou com a ponta do dedo indicador em sua cabeça.

- A alemã do ménage?

Eu voltei com meu corpo para trás,
encostando minhas costas na cadeira
estofada.

- Ela mesma.

Elize levantou de sua cadeira, com uma
risada que se espalhou por todo o ambiente.

- Você está muito fodida!

- Obrigada pela parte que me toca.

- Simone, você passou o mês todo falando
o quão boa na cama aquela mulher é. E
olha que você já dormiu com muitas, mas
nenhuma teve esse efeito sobre você.

- Eu sei! Porra.

resmunguei ao levantar de minha cadeira.

- Ela não pareceu ficar desconcertada, pelo contrario, gostou de me ver.

Caminhei devagar até a estante, pegando
uma das xícaras pretas com o brasão
da delegacia, para depositar uma boa
quantidade de café quente. Aspirei a pequena fumaça que saia do recipiente, sentindo o cheiro gostoso do café.

- De duas uma, ou ela é muito safada ou você está louca.

Eu virei em direção a Eliziane, que me olhava  com um olhar divertido.

- Eu aposto nos dois!

disse antes de tomar um gole do café quente.

- Eu acho que você deveria manter o foco no
seu trabalho. Ela deu bola pra você?

- Ela passou o dia me provocando!

- Tem certeza?

- Elize, ela é cínica demais.

- Talvez você esteja assustada com tudo. Vai
ver aquela noite deveria ser a despedida de
solteiro dela. E ela aproveitou com você, e
Leila.

Eu me encostei sobre a estante, deixando
minha cabeça vagar sobre a idéia de Elize.
Talvez eu estivesse louca, a correria e as
poucas horas dormidas estavam me fazendo
imaginar coisas que não existem. Mesmo que suas palavras estivessem nítidas em minha cabeça, eu ainda queria acreditar que eu estava ficando louca.

-O que vai fazer hoje?

Perguntou a mulher.

- Eu tenho que ir ao jantar com os Bolsonaro. Vamos relatar o caso mais detalhadamente. E você?

- Eu vou curtir a noite. A agente Dilma é
interessante, e me prometeu algumas bebidas depois daqui.

seu tom de voz era animado.

Eu franzi o cenho.

- Você mal chegou e já vai sair com alguém da delegacia?

- Pelo menos não vou sair com a mulher da
vitima, não é?

- Vai se foder!

Elize soltou uma risada e se afastou.

- Agora é sério, ela é divertida e bonita! Disse que me levaria para conhecer um pouco de São Paulo, e como tem poucos dias na delegacia, eu aceitei!

- Espero que tenha uma boa noite então.

Levantei a xícara como se fizesse um brinde.

- Com toda certeza eu terei, Tebet!

Xeque Mate- Simoraya Onde histórias criam vida. Descubra agora