Vulnerável

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Soraya

Estava com o carro estacionado em frente ao
departamento de policia, enquanto esperava
de forma ansiosa que Mailza atendesse o
telefone. Tocou no mínimo três vezes antes de ouvir a voz da mulher do outro lado da linha.

- Aconteceu alguma coisa?

indagou ela assim que notou de quem se tratava.

- Não, Mailza. Eu estou aqui na frente.

- Como assim? Você não deveria estar no
hospital com Bolsonaro?

Fechei os olhos por alguns segundos, e
meneei com a cabeça em um sinal negativo.

- Sim, mas ele dormiu por horas. Eu disse
ao doutor que iria em casa para tomar um
banho e descansar um pouco.

- Entendi. E ele está bem?

- Infelizmente foi só a pressão, está forte
como um touro.

bufei irritada.

- Eu poderia fazer um comentário a respeito
do animal que escolheu para representá-lo,
mas irei ficar calada.

sussurrou com um risinho baixo, o que me fez rir também.

- Me diga, por que está aqui?

- Eu preciso falar com Simone.

- Soraya..

- Mailza, por favor. Eu preciso.

- Simone está em um dia péssimo. Eu nunca a vi tão transtornada antes.

- Droga...

Nada saiu como eu planejei. Em meus planos, Simone apenas teria um bom atraso
na investigação, mas não um desligamento
total do caso. Era como ter tirado a maior
oportunidade da carreira policial da mulher. Inferno. Ela iria me odiar pelo resto da vida. E como se não fosse o suficiente, ainda foi agredida verbalmente por aquele cretino do infernos.

- Mas bom, ela foi liberada. Deve estar em
casa agora.

- Certo, obrigada pela ajuda. Eu tenho que
desligar.

murmurei antes de desligar a ligação.

Dessa vez eu tinha um peso enorme sobre
minhas costas, como nunca havia tido antes.
Por anos, fazendo tudo que já fiz, nada me
abalou daquela forma. Era como se sentir
a pior pessoa do mundo, e não poder fazer
nada para mudar. Bati com força contra
O volante do carro, sentindo raiva de mim
mesma por tê-la envolvido nisso. Mas não
era como se eu tivesse alternativa. Tudo
estava milimetricamente planejado desde o
primeiro instante que coloquei meus olhos
sobre aquele homem. Simone foi uma grande surpresa; no caminho de um jogo pesado, regado de mentiras e rancor, ela se infiltrou, tirando toda a estabilidade que julguei ter.

- Eu não devia ter me apaixonado por você,
Simone.

sussurrei, enquanto tinha cabeça inclinada sobre o volante de meu carro.

Naquele instante, um único pensamento
tomou conta de minha mente.

"E se eu me entregasse?"

Simone me odiaria por tudo, e
consequentemente me prenderia.
Bolsonaro seria exposto, e ambos seriamos
julgados. Não era a melhor escolha a ser feita,não para mim, já para Simone poderia ser a melhor. Ela não merecia ser envolvida em uma historia tão conturbada como aquela, ela não merecia isso, certo?

- Você não pode...

Pela primeira vez eu poderia fazer algo
realmente bom, não por mim, mas por
alguém que amo. Encostei a cabeça no banco do carro, e encarei meus olhos na reflexo do espelho retrovisor. De repente, tudo que passei durante todos esses anos se espelhou por minha cabeça, todos os mínimos momentos. Desde minhas lágrimas, minha dor, raiva, rancor, até minha coragem e persistência para chegar onde cheguei. E no meio disso estava meu sentimento por ela, uma maldita mulher que se tornou minha fraqueza, meu calcanhar de Aquiles.

Xeque Mate- Simoraya Onde histórias criam vida. Descubra agora