Plano

1.4K 99 10
                                    

Simone

- Não podemos ver isso depois? Vamos para cama.

Resmunguei, fazendo ela rir.

- Não, temos que ver agora. Logo preciso ir embora, estamos no meio do dia.

Soraya estava sentada sobre a mesa de
escritório, usando apenas sutiã e calcinha, enquanto se mantinha totalmente concentrada nos relatórios policiais recolhidos no início do caso Bolsonaro. Agora que ambas estávamos do mesmo lado, não havia problema algum em abrir todas as minhas provas e evidencias dentro daquela pasta.

- Acho que aqui tem material suficiente
para ela se enrolar. Entregue tudo, menos os que tem naquela sala.

Apontou para meu escritório particular.

- Não acho uma boa ideia engana-la.

- Está com pena da sua namoradinha?

Indagou ela com um tom sarcástico, que me rendeu uma boa risada.

- Não, só não acho justo.

- Simone! Por Deus! Ela não esperou um
segundo para pegar esse caso. Não teve a
menor consideração com você.

- Eu sei, mas eu não sou assim.

Retruquei.

Soraya suspirou, e sorriu.

- Você é boa demais.

Ela pousou a ponta do pé entre minhas pernas, apoiando no acento da cadeira no qual eu estava sentada.

-Sou?

Perguntei ao levar minhas mãos ao seu
tornozelo, subindo lentamente até alcançar sua coxa. Soraya permaneceu com os olhos fixados em mim, como se buscasse me manter ali. Ela estava linda, como de costume. Suas peças intimas de tonalidade negra, se destacam em sua pele bronzeada e macia. Seus cabelos claros, e agora um tanto revoltos pendiam para um único lado, dando-lhe um ar mais sensual. No entanto, agora ela carregava um sorriso preguiçoso, e
desleixado que me deixava hipnotizada.

- Muito. Preciso te ensinar a ser má.

- Me deixe assim, acredito que nos damos
bem dessa forma.

- Certo, vem aqui.

Murmurou ao me puxar  pela camisa.

Ergui meu corpo da cadeira, recebendo as pernas de Soraya ao redor de meu quadril, ao mesmo tempo em que seus braços envolveram meu pescoço. Eu agarrei sua cintura, recebendo um beijo rápido em meus lábios.

- Eu não confio nela, mas sei que meu
histórico também não é nada confiável.

Ela deu de ombros, e eu assenti.

- Nós não vamos fazer nenhum mal a ela, a não ser que mereça. Só vamos colocar você de volta nesse caso, como a estrela principal. Só vamos fazer ela caminhar para direção oposta do grande enigma.

- Você controla tudo, fico pensando como
fazia isso comigo.

Soraya fez uma careta engraçada, quase em um pedido de desculpas.

- Me desculpe, só eu sei o quanto minha
consciência pesou. Eu não quero que ache que não é uma boa policial. Você é incrível, Simone.

Disse ela, enquanto deslizava o polegar pelas maçãs de meu rosto

- Eu me aproveitei de você, mas havia um motivo sério para isso. Hoje, eu quero consertar o mal que lhe causei.

- Sabe que não precisa fazer isso...

- Eu quero. Você é a única que pode fazer isso por mim. Tem ideia do quão importante é sua missão? Você vai colocar o homem que mais odeio na vida atrás das grades. Vai fazer justiça da maneira correta por mim, e por
Charlie.

- Eu só quero que isso acabe, Soraya. Quero ver você livre dele, e de todo esse mal.

A loira suspirou de forma tensa.

- Eu só quero me ver livre de todo esse
sentimento ruim que ainda existe em mim.

- Vou mudar isso.

- Confio em você, Simone.

Flashback off

- Eu sou inocente, agente. Estou tão espantada quanto vocês. As acusações contra meu marido são tão fortes.

murmurou ela de forma melancólica.

- São sim. Seu marido tem uma ficha criminal bem vasta, sra. Bolsonaro. Me custa acreditar que nunca desconfiou de nada.

O olhar do investigador se mantinha fixo
sobre a alemã como se quisesse analisa-la por completo. Ele não sabia com quem estava lidando, sabia? Ela poderia passar horas ali, e continuaria da mesma forma.

- Quando amamos alguém sempre
enxergamos o melhor lado, talvez tenha
acontecido isso.

Ele assentiu, enquanto olhava para o bloco de papeis repousados sobre sua mesa. Soraya  havia errado em meio ao depoimento, se contradisse ao falar sobre Charlie, o que para mim, parecia totalmente normal, levando em conta o peso que aquele nome tinha em sua
vida. Mas sabia que para Ciro, aquilo seria uma boa entrada.

Flashback on

Depois da saída de Soraya, que tratou de
reclamar durante longos minutos sobre
Leila. Estava enciumada, revirava os olhos a cada instante em que lembrava que eu teria que continuar meu envolvimento com ela se quisesse que nosso plano desse certo.

- Se você for para cama com ela outra vez, eu acabo com sua vida.

Eu ri de sua cara emburrada, recebendo
outro resmungo.

- Sempre muito ciumenta.

- Me odeio por isso.

Ela suspirou, e me encarou.

- Eu preciso voltar, vou passar na galeria com Damares.

-Tudo bem.

- Espero que as coisas fluam bem para nós daqui para frente.

- Espero também.

Aquele era um recomeço. Soraya e eu agora  estávamos em um outro nível. Minha cabeça ainda estava perdidamente bagunçada, deixando-me um pouco confusa. Era o momento de confiar em Soraya, mesmo quando seu histórico como um todo me dava sinais para fazer o contrário. Eu havia enxergado verdade em seus olhos, em suas palavras e em seus toques. Ela não poderia estar mentindo, poderia?

- Vamos manter contato, sem que ninguém saiba.

- Certo, se cuida.

Falei ao beijar seus lábios.

Vi Soraya se afastar pelo corredor de meu prédio. Ela parecia cansada, apesar de um tanto mais aliviada do que quando chegou. Era notável agora os sinais de exaustão com toda aquela história, foram muitos anos em uma transformação guiada pelo ódio. Ela merecia algo melhor.

Voltei para o interior de minha casa, mais precisamente o meu pequeno escritório.

Soraya e eu ficamos por cerca de uma
hora vasculhando todos os documentos,
verificando todos os detalhes. Perdi mais
alguns minutos ali, montando toda a historia que agora eu já sabia. O organograma ganhou um novo rosto, e um novo topo. Agora no centro estava ela, interligando todos os pontos. Sendo a grande mandante daquele jogo.

- A rainha.

Sussurrei para mim mesma ao tocar sua foto exposta no quadro pendurado na parede.

Ouvi o toque da campainha ecoar ao lado de fora, lembrando-me que agora, eu era uma peça mais forte. Ter a visão ampla sobre todas as peças do tabuleiro, prevendo suas possíveis jogadas, me dava certa adrenalina em continuar a jogar, até que meu lado fosse o grande vencedor. Respirei fundo, inalando o ar para dentro de meus pulmões, enquanto controlava minha mente para tudo que estava por vir. Apaguei as luzes do escritório, me retirei daquele lugar,
trancando para que ninguém mais tivesse acesso. A campainha continuou a tocar insistentemente, e tão logo me aproximei, recebendo a primeira peça que eu teria que ultrapassar.

- Simone.


  

Xeque Mate- Simoraya Onde histórias criam vida. Descubra agora