Encontro

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Soraya

O jantar transcorreu lentamente, em uma
espécie de tortura psicológica para mim.
Bolsonaro dialogava educadamente com
Geraldo, que fumava seu charuto escocês,
soltando as lufadas de fumaça pelos lábios
grossos, em meio aos sorrisos falsos e
forçados. Reuniões de negócios eram sempre assim, um querendo engolir o outro, se sair melhor, ter a melhor proposta, mas no final sempre fechando um acordo. A falta de paciência aquela noite me fez permanecer calada durante o jantar inteiro, exceto por breves trocas de palavras com meu marido, que por sinal parecia ter percebido minha irritação. Bolsonaro me olhou por breves segundos, e repousou sua mão sobre minha coxa, acariciando de leve.

Eu nem sequer me movi, continuei degustando o vinho tinto que preenchia minha taça em cristal fino.

- Muito bom esse restaurante Bolsonaro.

Geraldo falou bem humorado.

- Eu também adoro. Foi aqui que pedi minha
esposa em casamento, não é meu bem?

Soltei um sorriso amarelo, e com leveza
retirei a mão de Bolsonaro de minha coxa,
repousando a mesma sobre a mesa. Ele
engoliu em seco, me olhando com os olhos
semicerrados.

- Exatamente. Boas lembranças daqui.

me permiti falar.

- Imagino que sim.

Talvez aquela fosse uma das poucas
interações minha naquele jantar. Eu estava
de mau humor, irritada, furiosa melhor
dizendo. Antes de sairmos da Bolsonaro
Enterprise, Jair teve a "brilhante" idéia de dispensar os serviços de Simone.

Dando ordem para que ela fosse embora
em meu carro, e levasse a secretária em
casa antes de devolver o veículo para nossa
garagem. Eu deveria dizer o quanto aquilo
me irritou? Ver o sorriso da agente ao
conduzir a miserável secretária para saída
me causou um súbito estalo de ira. Mas eu
sabia muito bem meus limites, e onde posso
chegar.

Na volta pra casa eu permaneci calada,
como no jantar. O nosso motorista conduzia
o veículo em uma velocidade alta, de
acordo com minhas ordens. Ao meu lado,
Bolsonaro se mantinha quieto, enquanto
fumava um de seus cigarros. Ele olhava
os prédios do lado de fora, em um olhar
distraído, quase perdido. Quando por mim
respirou fundo, e se virou em minha direção.

- Posso saber o motivo de estar assim?

Deixei que meus olhos saíssem das imagens
de fora do veiculo, e pousassem sobre a
expressão confusa de Bolsonaro. Ele me
olhava com aquele par de olhos azuis intensos, espremidos por suas pálpebras apertas.

-É por conta do seu carro? Porque deixei
Simone usar ele?

Antes fosse por isso. Imaginar aquela
secretária aos beijos com Simone no meu
carro me causava raiva.

- Obvio! Por que mais seria?

O homem rolou os olhos impaciente, levou o
cigarro até os lábios dando um último trago
antes de apagá-lo no cinzeiro à direita. Ele
meneou com a cabeça lentamente e me olhou.

-Qual o problema disso? Ela veio dirigindo
para você, não?

- Sim! E por conta disso você vai disponibiizar o meu carro para ela levar a
sua secretariazinha em casa?

falei, dando certa ênfase nas palavras "meu carro" e "secretariazinha"

Bolsonaro abriu um sorriso, ainda com os
olhos fxos em mim. Franzi o cenho em sua
direção, sendo tomada pela confusão daquele momento. Porque diabos ele estava rindo?

- Então é isso?

perguntou ele em meio a uma risada alta.

- Isso o que?

Xeque Mate- Simoraya Onde histórias criam vida. Descubra agora