Xeque Mate- Simoraya

História parte 2

- Charlie passou a visitar o lugar com
frequência, e sempre que podia brincava
comigo. De inicio eu relutei, não gostava
de interagir com estranhos, mas ele soube
ser insistente.

ela sorriu, e se sentou no sofá.

- Eu esperava ansiosamente a semana
inteira por aquele dia. Ele era especial,
entende? Fazia-me rir, me contava
historias, me escutava, e me aconselhava.
Eu me apaguei a ele, mas sabia que ele
era um homem ocupado. Sabia também,
que não tinha mulher, e nem filho. Não
demorou muito, e ele me deu a melhor
notícia que eu poderia ter em toda minha
vida.

Flashback

- Pensei que não viria mais.

murmurei, enquanto balança minhas pernas de um lado para o outro. Elas não encostavam no chão.

Estava sentada no banco do jardim, ao
lado de Charlie que me encarava enquanto
mastigava alguns pedaços do chocolate que
ganhei no dia anterior. Era o favorito dele,
e mesmo comendo um pedaço, deixei o
outro para ele.

- Eu tive que fazer uma viagem importante,
por isso não pude vir antes. Desculpe, pequena.

murmurou ao afagar meus cabelos.

- Só senti saudade.

- Sentiu? Temos um avanço aqui!

exclamou em brincadeira, me fazendo rir.
Quase nunca me permitia falar sobre o
que sentia e pensava. Charlie apesar de me
parecer tão bom, ainda me conhecia pouco.
No entanto, parecia incrivelmente disposto
a lutar por isso.

- Eu senti muito a sua falta também. Acho
que a cada dia sinto mais! Só que temos um
problema.

- Qual?

- Eu vou precisar ir embora. Vou ter que
morar em outro país.

Suas palavras caíram feito toneladas em
minhas costas. Senti meu sangue inteiro
parar em minhas veias, acompanhado
daquele medo repentino de ficar sozinha
outra vez. Mesmo não o vendo todos os
dias, sabia que viria me visitar. Se ele
fosse embora, eu nunca mais poderia
vê-lo, nunca mais teria seus cuidados, seus
carinhos, e sua proteção.

- Eu sabia...

exclamei sentindo meus olhos arderem.

-O que?

ele perguntou, franzindo a testa.

- Você vai me abandonar também! Como
meus pais! Vai me deixar aqui sozinha
outra vez.

- Ei! Calma aí, mocinha.

ele me segurou, antes que eu me afastasse.

- Me solta!

exclamei, tentando me soltar de seus braços longos e fortes.

- Nada disso.

- Me deixa.

choraminguei.

- Você quer ir comigo?

perguntou rapidamente, fazendo-me parar.

- Quer morar comigo?

Seus olhos se fixaram sobre mim.

- Eu estive resolvendo muitas coisas, e
entre elas, está sua adoção, Soraya. Eu
não quero ficar longe de você, nunca. Mas
não posso mais ficar aqui, tenho muitos
negócios. Por issl, quero saber se gostaria
de morar comigo. Prometo ser o melhor pai
de todo mundo!"

Flashback off

- Naquele momento, minha vida inteira
mudou. Era como ver uma luz no fim do
túnel, entende? Para uma criança órfã, ser
escolhida por alguém de coração tão bom
como Charlie, era um sonho. E eu realizei.
Ninguém poderia explicar com palavras o
quão feliz estava quando saí daquele lugar.
Meu coração explodia dentro do peito com
realização por finalmente ter a minha
família. Eu tive uma casa, um quarto só
meu, tive um cachorro, brinquedos. Tudo
que uma criança poderia querer, mas,
sobretudo, tinha o amor sincero daquele
homem. Charlie se tornou um pai, o melhor
pai.

ela afirmou em meio a um suspiro.

- Mesmo com tantos negócios, se fazia
presente. Cuidava de mim quando estava
doente, me ajudava como dever de casa,
me levava para passear em meus lugares
favoritos, e me fazia dormir com um beijo
no topo da testa. Antes de sairmos, eu pedi
que ele adotasse Damares também, eu não
poderia deixá-la sozinha, e ele fez.

Soraya ficou em silencio por alguns
instantes, fazendo-me suspirar
completamente perdida. Havia dor em
suas palavras, ao mesmo tempo em que
expressavam gratidão. Sentia-me atingida,
como se alguém estivesse esmagando meu
peito com seu sofrimento.

- Fomos uma bela família, até que os
negócios começaram a crescer além da
conta. Charlie estava sendo consumido
pelo trabalho, cada dia mais. Não tínhamos
tanto tempo juntos, e eu compreendia,
estava com mais idade. Terminei o colegial
com Damares, tendo tudo que uma garota
adolescente poderia querer. Iniciamos a
faculdade na Suiça. Era um dos lugares
favoritos de Charlie, e meu também. Nossa
primeira viagem juntos tinha como destino
Saint moritz.

Remeter aquele lugar, me trouxe
quase que instantaneamente as nossas
lembranças juntas.

- Eu vivi momentos incríveis ali, que nunca
vão se apagar. Honestamente, foram os
melhores momentos de toda minha vida.

Eu senti meus olhos marejados. O clima
estava cada vez mais pesado, inundando
aquele lugar em uma melancolia
nostálgica, mas nada falei, apenas me
aproximei da mulher que relatava sua
vida.

- Aquele lugar se tornou meu ponto de paz,
Simone. Talvez o único onde eu realmente
consiga me sentir completamente feliz. Eu
fiquei por anos em Zurique, estava cursando
artes, enquanto Charlie tocava os negócios
no Brasil. Nós quase não nos víamos, somente quando ele se permitia descansar. Passava alguns dias conosco na Suíça, e depois voltava para o inferno de suas empresas. Recordo-me de como ele mudou, vivia cansado, estressado. Estava sempre a reclamar de problemas, desconfianças, e brigas internas com um de seus novos sócios. Eu pedi que se afastasse um pouco, mas ele não conseguia. Ele se afundou mais depois do roubo que sofreu. Investiu rios de dinheiro em uma empresa fantasma, que levou grande parte de seu patrimônio. Foi tudo de mal a pior. Ele dizia que sabia o verdadeiro culpado, e que tomaria providencias.

Soraya suspirou pesado, e tomou forças para continuar

- Estávamos em uma fase difícil, mas me
reconfortava saber que o veria no final do
ano. Eu estava me formando na faculdade,
faltava apenas dois dias para a festa de
formatura, quando eu recebi a notícia...

Continua...