Sozinha

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Soraya

Abri os olhos em uma tentativa de afastar
todas aquelas lembranças. Depois de realizar minha vingança contra Simone, um peso e instalou sobre mim. Era simplesmente inacreditável como eu havia me entregado a ela. Depois de um feito, que para um casamento seria totalmente normal, eu me sentia culpada. Culpada por ter transado com Bolsonaro, culpada por tê-la feito ouvir, culpada por não ter sido com ela. Simone me odiava agora, e eu não sabia até que ponto aquilo poderia ser benéfico. Afastá-la emocionalmente era o melhor caminho, mas eu ainda não sabia percorrê lo.

Um suspiro exausto deixou meus lábios assim que ergui meu corpo que estava repousado sobre colchão. Puxei o lençol acinzentado que me cobria, e caminhei lentamente até o banheiro, desviando das peças de roupas jogadas sobre o chão da suíte. Segui em direção a hidromassagem no canto do cômodo, e acionei os dispositivos digitais para enche-la com água morna. Larguei o lençol sobre a bancada, onde ficava pia de mármore branco, e encarei meu reflexo no espelho enorme a minha frente. Havia algumas marcas avermelhadas espalhadas pela extensão de meu corpo, pelo pescoço, busto e próximo aos seios, em uma demonstração ilusória de uma noite satisfatória para um casal. Quando na verdade, para mim, havia sido um pesadelo. Me sentia suja, de todas as formas possíveis. Eu me sentia podre, como há anos não me sentia. Talvez o tempo tenha mudado minha percepção, meus sentimentos, meus pensamentos. Sexo com aquele homem
era algo totalmente programado, trabalhado
e calculado em minha cabeça, como parte de
um plano que tracei por um longo tempo. Eu havia mudado, me adaptado de acordo com a situação em busca de um único objetivo. Havia criado em mim, uma mulher capaz de suportar a tudo, e não sentir absolutamente nada. Mas naquele instante, eu sentia nojo.

- Droga, Soraya...

sussurrei para mim mesma assim que algumas lágrimas  deixaram meus olhos.

- Você não pode mais...

Me escorei na bancada, sentindo um nó
se formar no meio de minha garganta,
enquanto a vontade de chorar crescia
cada vez mais. Era sufocante. Toda aquela
dor, aqueles sentimentos e lembranças,
que se impregnaram em minha pele, e em
minha cabeça. Naquele momento, eu me
sentia sozinha, outra vez, como se ninguém
pudesse me arrancar daquele emaranhado
de sentimentos ruins. Meu desespero se fez
presente em lágrimas e soluços sentidos, que traziam consigo marcas de uma vida dura.

- Você não pode chorar!

murmurei enquanto limpava as lágrimas revoltas que a todo custo descia sobre minha face.

- Não pode, Soraya!

Me sentia fraca, indefesa. E Simone era
culpada por aquilo. Não por meus atos, eu
era mulher o suficiente para saber que fora
decisões minhas. Mas Simone tinha culpa
em minha fraqueza, em meus sentimentos
agora. Em pouco tempo ao seu lado, tendo
seus carinhos, suas conversas sinceras, sua
confiança, e sua alma boa, ela trouxe um
lado bom em mim; um lado que durante
anos julguei ter desaparecido. Era como
se ela tivesse resgatado a Soraya de anos
atrás, trazendo com ela todas as minhas
inseguranças e sentimentalismo que deixei de lado para me tornar o que sou hoje. Simone  se tornou minha válvula de escape, minha libertação, mesmo que momentânea. Foi meu ponto de paz. Com ela, eu me sentia
viva outra vez, e pensar na possibilidade
de perdê-la, era como perder a única parte
realmente boa em mim.

Ergui meu corpo, e segui para a banheira.
A água morna me fez suspirar em meio aos
soluços assim que sentei em seu interior Eu
abracei minhas pernas curvadas próximo
ao peito, e permiti que todo aquele choro
deixasse minha alma por longos minutos. Em seguida, esfreguei cada canto de minha pele, em uma tentativa de apagar a noite anterior, mas em foi vão. Havia sido a última vez que Jair Messias Bolsonaro tocaria em mim. O jogo estava chegando ao fim.

Xeque Mate- Simoraya Onde histórias criam vida. Descubra agora