Um mês depois..
Eu assenti pela décima vez em menos de
quinze minutos para a senhora que relatava
os fatos do possível roubo em sua casa. Eu
começava achar que pela idade a pobre
senhora precisava de alguma emoção em
sua vida, e relatar os fatos de um furto em
sua residência ajudaria bastante. Pois em
menos de um mês ela já havia comparecido na delegacia quatro vezes, e todas às vezes
ela havia apenas entregado o objeto que
acreditou ser roubado para alguém. A idade
realmente afeta as pessoas, ela narrava
os acontecimentos com tanta veemência
que eu poderia acreditar ser real, quando
na verdade era apenas uma ficção criada
por sua mente desocupada. Inclinei meu
corpo lentamente, deixando minha coluna
totalmente ereta. Ficar sentada por muito
tempo me deixava incrivelmente preguiçosa.-E eu vi quando ele pulou cerca.
completou a mulher de cabelos grisalhos.
Eu levantei o olhar que foi de encontro ao
da senhora, que mantinha uma expressão
sofrida.- A senhora viu o homem pular a cerca de sua casa?
perguntei incrédula.
- Sim, delegada.
Eu soltei uma lufada de ar, deixando que
meu corpo encostasse-se à poltrona. Dona
Dolores, como era chamada. Havia chegado
à delegacia esta manhã informando que sua
televisão de tubos havia sumido de sua casa.
Que ao sentar em seu sofá antigo para assistir seu programa matinal de culinária, notou que a mesma já não estava mais lá.- Dona Dolores, com todo respeito. Onde está
seu filho? Ele sabe que a senhora saiu de
casa?- Ele saiu para consertar o pneu de nosso
carro, delegada.- Você tem o telefone dele? Podemos ligar
para resolver este problema.disse da forma mais paciente possível.
A senhora assentiu pegando seu celular
de dentro da pequena bolsa marrom que
permanecia em seu colo. Com os dedos
vacilantes, ela digitou o número do filho para então iniciar a ligação. Assim que o homem atendeu, a senhora estendeu o aparelho em minha direção para que eu falasse com o mesmo. A voz rouca do outro lado da linha se desculpou pelo incomodo, e informou que em poucos minutos estava chegando para solucionar o problema.- Prontinho, Dona Dolores. Seu filho Molon
está a caminho.disse entregando o celular de volta a mulher.
- Mas e minha televisão, delegada?
perguntou impaciente.
Eu suspirei, trocando um rápido olhar com
Eliziane que se encontrava na mesa ao
fundo, segurando uma risada divertida. Para em seguida voltar minha atenção a senhora que me olhava esperando uma solução.- Já localizamos ela, e ela se encontra na sala
da sua casa agora.De onde ela nunca saiu.
- Oh! Que ótimo, filha. Fiquei realmente
preocupada, essa televisão quem deu foi meu marido. E tem um grande valor sentimental para mim.- Eu imagino senhora.
Apesar daquele tipo de situação me deixar
incrivelmente irritada, hoje eu estava em um bom humor imutável, quer dizer, nem tanto assim. Mas ainda essa tarde eu receberia a resposta sobre minha transferência junto de Eliziane para a delegacia da cidade de São Paulo. Era a minha oportunidade de mudar vida, e nada poderia estragar.Vi o oficial Haddad bater levemente na porta de vidro de minha sala, quando acenei
brevemente para que ele entrasse.- Com licença, delegada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Xeque Mate- Simoraya
FanficUm jogo perigoso, repleto de armadilhas. Uma disputa de poder, dinheiro e desejo. De um lado do tabuleiro, a delegada Simone Nassar Tebet, do outro, a esposa de um magnata, Soraya Thronicke. Nesse jogo, apenas um cairá. Quem terá a melhor estrategia...