Soraya Thronicke

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Soraya

Respirei fundo, enquanto meus pensamentos vagavam pela imagem de Simone ao lado de Leila. Sentia-me traída, mas não pela delegada, e sim, por mim mesma. Durante tantos anos tive total controle de meus sentimentos, de meus atos, para no fim, uma mulher chegar e mostrar que eu não poderia administrar tudo ao meu redor. Aquilo me consumia, célula a célula; era como perder o controle de meu próprio ser. Maldita delegada.

- Você está bem, querida?

Ouvi a voz grave de meu marido ao fundo,
enquanto olhava movimnento de pessoas
que caminhavam pela calçada, com seus
enormes guarda-chuvas, e outras com suas
capas. O céu cinzento derramava sobre São Paulo uma garoa fina, que não tardaria
a se intensificar, transformando-se em
um temporal. Encarei os olhos claros de
Bolsonaro assim que senti o toque suave
de sua mão sobre a minha. Ele estava bem
agasalhado, me olhando com um semblante
curioso.

- Está sim, meu amor. Só estava um pouco
pensativa com tudo isso.

- Não se preocupe. Tudo vai se resolver.

murmurou ao entrelaçar os dedos aoS meus.

Soltei um sorriso fraco, recebendo outro em troca. Ele parecia melhor do que nunca;
talvez todos os medicamentos tenham surtido efeito rápido demais. Apesar do dia cheio, carregado de acontecimentos, ele parecia tranquilo.

- Eu espero que sim.

- Não tenha duvidas, Soraya.

Não demorou muito, e os enormes portões
de ferro da mansão Bolsonaro foram abertos para nossa entrada. O veiculo foi estacionado na parte frontal da casa, quando um dos funcionários se aproximou, abrindo a porta para que saíssemos. Corremos para o interior da casa, evitando nos molhar tanto com a chuva. Bolsonaro e eu nos reservamos ao nosso quarto, ele de um lado com seu computador, e eu do outro com um livro qualquer. Ficamos algumas horas assim, sem trocar uma misera palavra. Meus pensamentos estavam longe demais para entrar no papel de uma boa esposa, meus pensamentos rondavam a mulher de olhos castanhos que não tardaria a chegar. Por alguns instantes julguei ter sido um erro ordenar que Simone comparecesse essa noite em minha casa, não era um momento adequado.

Tanto pela sua expulsão do caso, quanto pelo meu estado emocional visivelmente abalado. Atuar para Bolsonaro havia se tornado algo natural, era como ser um
personagem criado por mim mesma, para
completar uma historia que não teve fim.
Mas com Simone não era assim, não mais. Eu me perdi. Me perdi nos meus sentimentos, nos meus atos, nos meus planos. Tudo em mim era sincero para com ela, e eu simplesmente não conseguia agir diferente. Era enlouquecedor não ter controle sobre mim quando se tratava de Simone Nassar Tebet.

- Você fez tudo errado, Soraya.

sussurrei.

- Disse alguma coisa?

indagou o homem.

Ergui a cabeça e encarei seu rosto.

Bolsonaro deixou seu computador de lado,
enquanto me olhava tranquilamente.

- Pensei alto, querido. Você quer que eu
mande servir seu jantar aqui?

- Não, podemos comer lá embaixo mesmo.

- Tem razão.

disse ao me levantar, e me aproximar dele.

- Acho que depois de todo esse estresse, devemos ficar um pouco juntos.

Sentei ao seu lado, recebendo um sorriso.

- Acho a idéia maravilhosa. Estou com
saudade de você.

- Está?

- Não faz idéia do quanto.

murmurou ao repousar sua mão sobre minha coxa.

Olhei para sua mão que deslizou suavemente pela minha pele, e em seguida encarei seu olhar cortês. Eu já não lembrava há quanto tempo Bolsonaro eu tivemos a última noite de sexo. Desde que passei a me envolver com Simone, recusei suas investidas, o dopei e fiz acreditar que tivemos noite e noites de uma foda que nunca existiu, não depois de me entregar a Simone. Era como se ela pudesse me dar tudo que eu precisava, tornando assim a presença de meu marido totalmente desnecessária. Mas aquilo não poderia continuar, não depois de hoje. Se Simone era tão desprendida, por que eu não
seria? Logo eu, que sempre vou me esforçar
para estar um passo a frente, por cima.

Sempre.

- Podemos matar essa saudade hoje, mais
tarde!

exclamei ao meu levantar.

- Podemos é?

Espalmei minha mão sobre a cama,
inclinando meu corpo para frente,
aproximando meu rosto ao dele.

- Claro, depois de um dia tão estressante,

quero fazer meu marido relaxar.

sussurrei, e beijei sua boca.

- Acho a idéia maravilhosa.

Afastei-me dele com um sorriso no canto
dos lábios, e ao ficar de frente para janela de
meu quarto, vi os enormes portões da frente
serem abertos. Dei alguns passos mais a
frente, em direção a varanda da suíte, vendo
o carro de Simone adentrar a extensão de
meu jardim. Um sorriso enfeitou meus lábios, seguido por uma respiração pesada.

- Acha?

indaguei

- Com toda certeza, fico até ansioso.

Apesar da chuva, e da pouca luminosidade
oferecida pelo jardim aquela noite, eu pude
ver Simone no interior do carro. Observei seu trajeto até a frente de minha casa.

- Então se prepare, meu bem. Eu vou te
dar uma noite inesquecível.

murmurei enquanto observava Simone deixar seu carro e caminhar para o interior da mansão.

Respirei fundo, sentindo meu peito inflar.
Girei sobre meus calcanhares e caminhei
para o interior da suíte outra vez. Bolsonaro
me encarou com um sorriso largo, pretensioso.

- Não podemos começar agora?

perguntou ao se levantar.

- Nada disso. Desça, vamos jantar. Eu vou
tomar um banho, e ficar bem cheirosa para
você, ok?

Ele se aproximou, puxando-me pela cintura
lentamente.

- Ok, meu amor.

sussurrou, antes de beijar meus lábios e se afastar.

Assim que Bolsonaro deixou o quarto, eu
segui em direção ao banheiro. Eu precisava
estar divina para aquela noite. Ser boazinha
demais estava interrompendo meus planos,
afastando-me do real motivo para eu estar
ali. Simone era a culpada disso. Mas eu não
continuaria daquela forma, se deixei um lado dócil aparecer, e ela não soube tirar proveito disso, eu voltaria a ser o que ela merecia. E Simone merecia uma doce e bela vingança de Soraya Thronicke.

Só pra vocês não ficarem sem capítulo hoje

Xeque Mate- Simoraya Onde histórias criam vida. Descubra agora