sentada na beira do abismo seráfico da minha existência,
encontro-me imantada pela caligem gélida de suas fissuras guturais,
perversamente seduzida pelo desconhecido
que alega residir em seu manto denso e enegrecido.não sei se devo pular ou não...
o breu que se desdobra diante de meus pés delgados,
de natureza apócrifa e sepulcral,
me encara, absorto e inviolável,
cerrado em sua própria vastidão etérea,
como quem deseja me engolir a seco,
aliciando-me com suas promessas do indefinido,
de semânticas líricas e metafísicas,
recitando a poesia da alma...mas eu nunca sei...
mergulhar em suas sombras inabaláveis
poderia ser, talvez, minha salvação.
transcender a mim mesma, despertar meus sentidos mais carbônicos,
sentir a vida correr infrene pelas minhas veias...ou, quem sabe, seja minha própria condenação, minha autodestruição.
a consciência é agridoce,
ao mesmo tempo em que ela nos concede a libertação,
ela nos faz perceber que as entranhas do nosso abismo
podem ser muito mais profundas do que imaginamos.nos faz descobrir que,
como nas angústias atemporais da existência,
nosso abismo pode não ter um fim...e então imergimos eternamente pelos confins de sua escuridão indeterminável,
desabando infindavelmente,
até quando a carne suportar,
até perdurar a persistência do existir,
até nossos átomos comporem outras matérias.
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poemas e conectomas
Poetrypoemas autorais, orgânicos e desestruturados, escritos sob ondas cimáticas